27 de julho de 2020
E de repente, durante a imersão da 4° aula da Olinda Guedes, me veio a imagem de eu criança...
Criança cuidando de outra criança, na verdade de um bebê, com um mês de vida. Sim, com 11 anos, eu ainda era uma criança. Este bebê era meu irmão. Ele chorava muito nos seus primeiros meses de vida e meus pais já não sabiam o que fazer para o mesmo parar de chorar. Para os médicos, eram as terríveis cólicas dos três meses. E nesta maratona de madrugadas de choro, eu me sentia na necessidade de ajudar a cuidar dele.
E o embalava, embalava até que o mesmo se acalmava, as vezes até por cansaço. E assim ele dormia.
Com 11 anos, me sentia responsável por muitas coisas, era uma cobrança interna, muito mais que externa. Meu uniforme escolar e meus calçados eu lavava. Sabia cozinhar, fazer pão, limpar a casa, fazia muitas coisas sozinha. Ao mesmo tempo me sentia sozinha e triste, desde a chegada do meu irmão. Era como se tivesse perdido o meu lugar após seu nascimento. Agora papai teria seu tão sonhado menino. Toda atenção era voltada pra ele, todos os mimos.
Meus pais tinham preocupação comigo, até porque eu tinha asma desde os 2 anos de idade, e minha mãe sempre me protegeu, cuidou até excessivamente, devido a inúmeros internamentos na infância. Muitas brincadeiras mamãe não me deixava participar, porque eu poderia ter uma crise asmática. Nada de molhar os pés, correr, andar descalços, pegar friagem, ir em locais com poeira. E assim cresci.
Estes momentos ficaram gravados. E assim fui crescendo, não suportando crianças birrentas, chorosas. Eu não gostava que crianças choronas, mexeriqueiras, bagunceiras visitassem minha casa, no caso, a casa dos meus pais, pois eu morei com eles até os meus 17 anos. Aquilo era um tormento pra mim.
Anos depois, na faculdade de Fisioterapia, por incrível que pareça, me apaixonei pela pediatria, e meus pacientinhos amados, muitas vezes eram chorosos. As minhas mestres sempre falavam, que se a criança estivesse bem, mesmo que chorasse, era para atender que durante o atendimento poderiam se acalmar e o choro cessar, porque nosso trabalho era essencial para o desenvolvimento motor da criança. E de fato, muitas vezes era isso que acontecia, eles se acalmavam entre uma estimulação e outra, brincadeiras e risadas, porém algumas vezes o bebê ou a criança, chorava durante todo atendimento.
Trabalhar com crianças, a maturidade e o conhecimento, me despertaram um amor sem explicação pelas crianças. E hoje um dos meus maiores sonhos é ser mãe. Sei que na hora certa, isso irá acontecer.