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CARTA AOS ANTEPASSADOS

CARTA AOS ANTEPASSADOS
Anne Castro
set. 12 - 9 min de leitura
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Estimados antepassados,

 

Inicialmente, gostaria de me apresentar a todos vocês, dizendo-lhes: “vocês têm um lugar especial no meu coração”; “eu reconheço que vocês são importantes para mim”; “eu honro a vida e a força que vêm de todos vocês”.

Eu sou Franceane Almeida de Castro, tenho 38 anos, sou mãe da Sophie (1 ano e 5 meses), e professora.

Sou fruto da relação de Francisco Teixeira de Castro e Luciana Almeida de Castro. Uma relação iniciada na adolescência dos meus pais imbuída de muito amor e inocência.

Sendo assim, fui concebida quando meus pais ainda eram muito jovens, vamos conversar um pouco sobre a minha infância, tá? Eu preciso voltar nesse tempo e olhar com mais amorosidade para tudo que vivi. Então, vamos lá!

Bom, desde criança, eu não me sentia pertencente a minha família, eu pensava muito diferente das pessoas daquela cidade do interior. Eu já sonhava em viver na capital, conhecer o mundo, ser independente e sustentar meus pais.

Sim, isso mesmo! Eu tinha um senso de responsabilidade com meus pais que me tornava muito “madura” e esperta para minha idade. Eu queria ajudá-los a superar os conflitos, as dificuldades financeiras e a partilhar tudo junto com eles.

Esse meu senso de cuidado se estendeu para o meu único irmão, Antônio Teixeira de Castro Sobrinho, o caçula. Lembro-me que quando ele nasceu, filho planejado, havia muita expectativa e isso me deixou muito enciumada, mas, também carregava em mim uma obrigação de cuidar dele, apesar da diferença de idade entre nós ser de apenas quatro anos.

No entanto, em relação aos meus avós maternos e paternos, devido as condições familiares na época do meu nascimento até os meus sete anos, fui privilegiada morando na casa de ambos, era assim: eu passava a semana na casa da minha avó, Maria de  Lourdes de Barros Almeida e no final de semana na casa da vó Lena, Helena Teixeira de Castro.

Essas duas matriarcas foram a base da minha educação até os meus treze anos, quando fui estudar na tão sonhada capital. Eu recebi muito amor, proteção e exemplo de coragem, pois cada uma, especialmente, carregava uma força genuína que me inspira e me encoraja nos meus desafios e na minha evolução até os dias hodiernos.

Enquanto aos meus avôs, Abraão Castro (paterno) e Olavo Juvi de Almeida (materno), tive uma relação completamente diferente das minhas avós.

Uma relação de ausência, distância, carência, mas agora, adulta, vejo que tenho os dois dentro de mim e inclusive, na minha aparência: herdei os olhos do vovô, já dizia minha vó Lena; e minha Sophie tem o sorriso largo, a pele clara e as pernas longas do meu vô Olavo.

O meu querido vô Abraão partiu, prematuramente, quando meu pai ainda era uma criança. Apesar de não ter convivido com ele, sempre foi muito presente na minha vida, pois os seus filhos (meus tios) sempre falaram muito da sua amorosidade e o quanto ele amava as crianças.

Já o meu avô Olavo, sempre esteve divido entre o casamento com a minha avô Lourdes e outras relações conjugais, mas apesar de poucas lembranças com ele, sinto-me grata por ter me acolhido quando minha mãe engravidou de mim com apenas 17 anos e permitiu o casamento com o meu pai, mesmo sabendo que ele apresentava comportamentos estranhos, considerados esquisitos naquela época.

Na verdade, meu pai teve a primeira crise de esquizofrenia quando eu tinha um aninho, embora já trazia alguns traços de uma personalidade “estranha” desde a morte do meu avô.

Eu honro o meu avô Olavo por ter sido um homem trabalhador, determinado, empreendedor, corajoso e humilde. Foi um homem que construiu um império junto com a minha avó Lourdes, mas nunca deixou que os bens materiais e a posição social fossem mais importantes do que as pessoas.

Hoje, eu o vejo de uma forma diferente. Lamento por ele não ter conseguido ser um pai mais presente e amoroso, principalmente com a minha mãe Luciana, que ainda carregava muitas dores em si, e minhas tias Zenaldy e a caçula Lucivânia, que apresenta o diagnóstico de esquizofrenia e bipolaridade desde a adolescência.

Apesar da ausência do meu avô Olavo em casa, eu morei com os meus avôs maternos até os sete anos, aos cuidados da minha tia e mãe do coração, Zenaldy.

Fui tratada como uma princesa por ela, minha tia dedicou a sua vida a mim até os meus sete anos quando meus pais foram morar juntos em uma casa e assim, finalmente, fui morar com eles.

Mas, minha tia Didinha sempre foi e será uma mãe pra mim. Ela partiu do mundo físico há dez anos, mas sigo com ela em mim. Sou muito grata por cada noite de sono, cada renúncia por mim, por todos os sins, por todo amor incondicional.

Sinto o seu amor quando vejo a minha pequena Sophie. Parece que volto a ser aquela criança em seu colo querendo atenção do painho e da mainha que, naquela época, não podiam me dar o que eu julgava merecer deles.

Ah! Também quero falar do meu bisavô Cristovão Juvi de Almeida, pai do vô Olavo. Ele era muito carismático, tinha um sorriso fácil e eu amava pedi a sua bênção e um dinheirinho quando era criança.Certo dia, tive a audácia de lhe pedi uma bezerrinha...risos...Ele gentilmente, mandou a bezerra para a terra da minha avó Lourdes. Eu me lembro disse com muito carinho.

A sua esposa, avó Josefa, eu me lembro dela doente em cima de uma cama. Falava com dificuldade e as pessoas diziam que era ela “abusada”, temperamento forte, eu guardei isso na minha memória infantil.

Mas, hoje, vovô Josefa, quero dizê-la que honro a sua vida e esse temperamento forte que herdei. Entretanto, quero usá-lo com mais amorosidade e determinação para lutar pelos meus propósitos e por um mundo melhor. Quero fazer um pouco diferente: com mais leveza, usando a comunicação não violenta e a visão sistêmica da vida.

Antes de finalizar esta carta, gostaria de relembrar os meus tios e parentes paternos que partiram para o plano espiritual pela mesma situação: acidente de carro. Eu sinto muito por vocês, vô Abraão, tio Cícero, tio Antônio, tia Rosali e os meus primos Arthur e Fabrício por terem ido dessa forma tão violenta. Sintam-se vistos e amados por todos nós.

O meu tio Zé, irmão de painho, também lamento a sua partida tão trágica. Foi muito desesperador assisti a dor do meu pai quando tiraram a sua vida com aqueles tiros, foi muito doloroso para suas filhas e esposa, para tia Lúcia e o seu sobrinho Ruber que demorou tanto para aceitar a sua partida.

Eu também sinto muito. Mas, quero lembrar que na sua despedida, eu tive o maior exemplo de resiliência da minha vida: minha vó Lena em nenhum momento culpou ninguém pela sua partida. Ela, serenamente, dizia: Deus quis assim; e seguia em oração com o terço em mãos.

Queridos antepassados, eu me sinto muito feliz e honrada por ter conversado com vocês com tanta intimidade e por ter partilhado de tantas lembranças sobre os nossos familiares.

Eu pretendo conhecer cada dia mais sobre vocês porque assim eu me conheço mais e me sinto fortalecida para honrá-los. Espero preencher a árvore que está ilustrada neste texto com muita amorosidade e gratidão. Desejo que minha Sophie também honre cada um de vocês.

Finalizo este relato com muita emoção e alívio.  Há alguns anos tenho olhado para minha história com muito mais leveza e gratidão. No meu tempo, quero honrá-los nas atitudes e valores que considero genuínos em meu ser, mas também quero cancelar as lealdades invisíveis que não fazem sentido para mim, pois eu mereço viver a minha vida, a minha história de acordo com a minha essência.

  Com todo o meu respeito, eu declaro: “assim é, e assim será.” Agora, eu os reverencio por meio dessa canção: “Por todas as nossas relações...

Eu reverencio a memória dos meus ancestrais

Honro e respeito esse povo que vem lá de trás

Homens e mulheres que são como um grande jardim

Agradeço a quem passou pela vida antes de mim

Aceito a presença dessas gerações

E sinto o pulsar de todos os corações

Por isso agradeço, agradeço, agradeço

Por isso agradeço, agradeço, agradeço

Por todas as minhas relações

Por isso agradeço, agradeço, agradeço

Por isso agradeço, agradeço, agradeço

Por todas as nossas relações

Que os antepassados descansem em paz

Eu sinto o suporte dessa força que vem lá de trás

E sei que a corrente do amor me conduz

Nessa caminhada da sombra prá Luz

E sei que a corrente do amor nos conduz

Nessa caminhada da sombra prá luz”.

 

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