Na história do relacionamento dos meus pais houve muitas divergências que não tenho certeza se são verdadeiras, mas posso senti-las pelos efeitos em mim.
Minha mãe era uma jovem viúva e com um filho pequeno quando conheceu meu pai, que era freguês diário no restaurante dela. Ele mostrava-se solícito para ajudar ela com seu filho e assim ele foi escolhido para entrar na família.
Meu pai também chegou após ter sido abandonado pela primeira esposa e 2 filhos. Meus pais nunca se casaram oficialmente.
As lembranças que tenho deles como casal foram de brigas, bebedeiras, ciúmes entre eles, mas nunca se separaram.
Mamãe sempre foi batalhadora, exigente, difícil e apaixonada pela honestidade do meu pai.
Papai sempre foi talentoso nos seus trabalhos, observador, estudioso, viajava à trabalho e ficava muitos meses longe de casa. Morreu há 17 anos atrás devido as consequências do tabagismo e alcoolismo.
Entre eles houve abusos, infidelidades, violências, mas também servidão, paciência e fé.
Eu sou a segunda filha viva desse relacionamento. Fui o desejo realizado do meu pai.
Eles foram os pais que me cuidaram, ensinaram e deram o melhor que puderam.
Hoje sei que ocupei um lugar que não me pertencia, repeti padrões e sofri as consequências também.
Agradeço por tantos aprendizados e, foi graças às terapias, que hoje compreendo que foi assim, com sua própria importância, para que eu pudesse buscar fazer um pouco diferente. Não é fácil lembrar, mas vou curando meu corpo de dor, um pouquinho a cada dia.
Se eles foram disfuncionais, hoje não importa, pois eu estou cuidando da minha criança e liberando meus descendentes destas situações, pois todos nós acabamos repetindo padrões de abandonos, abusos, traições e fracassos.
Fica em mim a admiração e gratidão pela resiliência deles para sobrevivência. Sei que foram muitas superações e renuncias para que eu tivesse a vida que me proporcionaram, com saúde, estudos, alimentos e cuidados. Eles fizeram muito mais do que receberam.
Levo a força e bênçãos deles dentro do meu coração.
#mod03