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MÓDULO 03 RELAÇÕES CONJUGAIS

MÓDULO 03 RELAÇÕES CONJUGAIS
Thaís Orciolli Miranda Marques
mar. 29 - 10 min de leitura
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É difícil escrever sobre o relacionamento dos meus pais, a vida conjugal.  

Eles estão separados a 15 anos. Hoje eu tenho 29 anos. Tenho algumas lembranças deles juntos, mas a maioria não são boas. A separação foi conturbada. Hoje tenho um bom relacionamento com os dois. Vou falar do que lembro. 

Quando estavam casados meus pais tinham muitos problemas, inúmeras diferenças. Lembro que minha mãe ficava em casa, cuidando de nós (eu e minha irmã) e dos afazeres domésticos. Meu pai trabalhava em uma empresa o dia todo, era o provedor.  

Lembro que dinheiro, a falta dele, sempre foi um problema. Tínhamos muito! Eu e minha irmã, na maior parte da vida, sempre estudamos em escola particular. Meus pais sempre nos deram do bom e do melhor. Mas mesmo assim, lembro que não era o suficiente. E por este motivo, meu pai começou a fazer hora extra na empresa, e em uma época dava aula a noite para complementar a renda.

Pensando agora, lembro que isso nunca fez sentindo pra mim, pois não entendia se o meu pai trabalhava tanto para nos dar a vida que tínhamos ou se eles almejavam uma vida com mais coisas materiais.

Mas lembro de várias brigas por esse motivo, pelo dinheiro. Brigas pelo dinheiro não sobrar para minha mãe comprar o que tinha vontade. Meu pai tentava suprir essa falta para ela, mas nunca foi o suficiente.  

Lembro de não ver muito gesto de carinhos entre os dois, não era normal, corriqueiro. Meus pais tinham um relacionamento sem muita cumplicidade e parceria. Viviam juntos na mesma casa, as brigas eram corriqueiras, o convívio dentre eles como casal era mínimo, e a cobrança um com outro era muito grande.

Parecia que nada era suficiente.

Algumas coisas, a maior parte da cobrança, lembro que eram da minha mãe. Meu pai “corria” para suprir a necessidade que ela tinha em ter as coisas, mas não conseguia.  

Passaram por muitas coisas. Eu vi muita coisa. Em determinado período da vida a falta de respeito entre os dois era muito grande. Eu e minha irmã presenciamos várias situações, mais eu, ela era pequena e eu a poupava como podia para que não visse metade do que acontecia.   

Não lembro dos meus pais com um relacionamento funcional e saudável. Quando se separaram, minha sensação foi de alivio por não presenciar mais brigas no ambiente onde morava. Lembro que quando o meu pai saiu de casa, eu não chorei. Lembro da cena como se fosse a pouco tempo, mas eu não chorei. Passamos por muita coisa depois disso. 

Várias brigas, situações complicadas. Alienação parental fez parte da minha adolescência.  

A infância dos meus pais foi conturbada. 

Meu pai teve uma infância difícil. Ele me conta que os pais e avó dele, tinham um grande tabu referente a sexualidade. Isso recaia sobre ele de uma forma muito dura. Não sei se era algum medo na época, ou algo que achavam, mas isso marcou meu pai. 

Por outro lado, meu pai estudava em boas escolas por esforço do meu avô. Ele trabalhava como pedreiro. Trabalhava muito. Minha avó ficava em casa cuidando dos afazeres domésticos e dos filhos. Em termos de educação, meu pai sempre estudou muito e tinha boas notas. Era uma pessoa que sempre teve o estudo e o trabalho na vida como forma de crescimento. Sempre nos ensinou assim.  

Ele presenciou muitas brigas dos meus avós. A submissão do meu avô perante a minha avó, para conseguir viver com ela. Não lembro de ele retratar um relacionamento carinhoso entre eles.  

Minha avó sempre buscou religiões, doutrinas. Passou por várias delas. Meu pai tem muitas lembranças em relação a isso. Meu avô sempre a seguiu em suas buscas. Talvez tenha sido uma forma que encontrou de ficarem juntos, e estão até hoje.  

A primeira namorada no meu pai foi a minha mãe. 

Minha mãe teve uma infância muito dura. Era a mais velha de dois irmãos, minha tia e tio. 

Minha avó não era aceita pela família, pois havia escolhido ficar com meu avô. Sei que eles fugiram para ficar juntos e não se casaram.  

Meu avô sempre viajava a trabalho, até hoje ninguém sabe me informar qual era sua função. Deixava minha avó em casa, com três filhos para cuidar, não dava satisfação de quando voltaria e não deixava dinheiro para o sustento da família. Minha avó não trabalhava.

Eles moravam de aluguel, então minha avó sempre estava com as contas atrasadas.

Chegou a ser despejada e morar de favor com os filhos em casa de conhecidos. Quando meu avô voltava de viagem, trazia amigos para casa. Isso tirava a liberdade da minha mãe e avó. 

Por mais que houvessem esses episódios em relação ao meu avô, minha mãe tinha uma relação muito próxima a ele. Era uma pessoa que ela gostava muito, pelo que pude entender. Eram ligados e ele a tratava com carinho quando estava por perto.  

Sei que em uma das idas do meu avô a trabalho ele nunca mais voltou. E minha avó buscou meios de sobrevivência para poder criar os três filhos. Ela conta que trabalha a muito. Trabalhou como manicure, lavava roupa, como faxineira e cozinheira. Mas conseguiu vencer e criar os filhos. 

Minha avó e mãe sempre tiveram uma relação muito conturbada. Cheia de diferenças e de brigas. Minha mãe tem muitas lembranças da minha avó batendo nela, do jeito explosivo e da sua falta de paciência. Ela diz que minha avó fazia muita diferença entre ela e os irmãos, e a tratava de uma forma mais dura em relação aos outros. Minha mãe nunca soube o motivo, e sei que isso a magoa até hoje, pelo jeito que relata as situações.  

Na adolescência, minha mãe machucou a perna, em um acidente doméstico. Ela rompeu o tendão de aquiles. Sei que minha avó teve que cuidar dela por um período. Arranjou hospitais e lutou para minha mãe para que ela não perdesse uma das pernas. Vivia uma vida muito simples, sem muito dinheiro, mas conseguiu o tratamento adequado para que minha mãe fosse tratada. Neste período, minha mãe relata anos de dor, de muitos médicos, permanência em hospitais. 

Embora tenha sido muito difícil pra ela, percebo que é o período da vida dela em que ela relata a minha avó com muito carinho.  

Minha mãe sempre foi a pessoa que resolveu os problemas dos irmãos e os ajudou da forma que podia. Meu tio teve alguns problemas logo que atingiu a maioridade, e minha tia vivia em um relacionamento abusivo. Sempre esteve do lado dos dois, do jeito dela. Ajudando da forma que podia.  

Meu avô apareceu umas duas vezes depois que minha mãe era adulta. Ela não relata isso como algo bom. Ele faleceu há uns 20 anos, mais ou menos. Teve câncer. Minha mãe o viu no final da vida.

Não fala muito sobre isso.  

Ele teve outra família depois da minha avó. Minha mãe tem mais dois irmãos que não tem contato. Já a minha vó, nunca mais se casou. Preferiu viver sozinha. 

Minha mãe teve alguns relacionamentos antes do meu pai. Pelo que sei, um deles foi abusivo. 

“Então eu me dou conta que:” 

Meus pais realmente me deram aquilo que podiam e aquilo que tinham para me dar. Agora percebo o esforço deles em ser diferentes dos pais deles. Em poder me proporcionar coisas melhores como filha. 

Meu relacionamento com a minha mãe é conturbado. Tenho muitas diferenças com ela. Mas conseguimos sentar juntas e tomar um café, conversando sobre as coisas. Nos esforçando para sermos melhores. Para termos o que ela não teve com a minha avó. Agora vejo seu esforço em ser diferente, em mudar as coisas. Conseguimos conversar sobre isso, conseguimos enxergar. E sinto uma gratidão imensa em poder fazer diferente e melhorar as coisas, e principalmente por compreender.  

O relacionamento com meu pai sempre foi ótimo. Temos nossas diferenças, mas temos muitas semelhanças. Sempre compartilhamos experiências. Por mais que meu pai não tenha tido, ele é um cara extremamente carinhoso com os filhos. Meu pai sempre se esforçou para fazer diferente daquilo que o incomodava dos seus pais para com os filhos.

Muitos ensinamentos e buscas que tenho, é graças a ele. Ele sempre me direcionou de forma muito positiva para a vida. Sempre me apoiou, me instigou a ser melhor, acredita no meu potencial.  

Notei que em relação aos meus relacionamentos amorosos tenho muito o que mudar e aprender. Quando a Olinda mencionou que atraímos nosso corpo de dor, pensei muito sobre as pessoas que atraio pra minha vida. Depois de descrever os relacionamentos dos meus antepassados, vi minha lealdade presente.  

Se estou aqui hoje tendo vários insights e constelando com esse texto, é graças a todos eles. Que de uma forma ou outra, foram superando seus antepassados e se mantendo fortes na caminhada.

Meus pais, meus avós e assim sucessivamente.

Ter a oportunidade de perceber tudo isso e ter essas memórias é gratificante!  

 

 

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