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MÓDULO 3 HISTÓRIA DE FAMÍLIA

MÓDULO 3 HISTÓRIA DE FAMÍLIA
Ieda Maria Athayde Peixoto Sol
mai. 4 - 9 min de leitura
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Salvador,  08 de novembro de 1947: casavam neste dia, meu pai, José Messias da Cunha Peixoto, e minha mãe, Yeda  Araújo de Athayde. Ela com 17 anos e ele com 24 anos.

Eles se conheceram de uma forma inusitada. Minha tia-avó, Inhá Pimenta e seu marido Tinô da Cunha Peixoto, tinham o hábito de se hospedarem no Hospital Português, sempre que iam a Salvador. Aproveitavam para fazer exames de rotina. Utilizavam as dependências do hospital como se fosse um hotel. Muito estranho, mas a pura verdade.

Numa dessas ocasiões que estavam hospedados ou internados, sei lá, meu  pai foi fazer uma visita a sua tia Inhá e acabou conhecendo a minha mãe, que estava acompanhando minha avó, Edith, que havia realizado uma cirurgia de apendicite. Logo surgiu um interesse e os dois começaram a se encontrar, depois, a namorar até se casarem.

Moraram um tempo em Salvador, até meu pai acabar a faculdade de medicina, depois se mudaram para Belo Horizonte, onde ele fez um curso de sanitarista e onde moravam seus irmãos. Ao concluir o curso de sanitarista, meu pai resolveu voltar para sua cidade de origem, Salto da Divisa, no norte de Minas Gerais, uma cidade pequena, 3,5 mil habitantes aproximadamente. Na época, sem água encanada , a luz era a motor e desligava às 22 horas, uma cidade ainda em formação, distante de tudo.

Minha Mãe se adaptou bem aquela cidadezinha, fez várias amigas, era respeitada, organizava trabalhos de caridade ...... E a vida foi passando. Meu pai e meu avô, Orozimbo da Cunha Peixoto , mais conhecido com  Zimbu, segundo falam, a mimavam muito, davam a ela muito carinho.

Meu pai levava a vida de médico, amava sua profissão, atendia a todos a qualquer hora do dia ou da noite. Quantas histórias escutei de moradores antigos do Salto, narrando os atendimentos feitos por meu pai e as curas obtidas.

Certa vez, foi chamado para fazer um parto complicado, domiciliar.

Meu pai teve que sair na madrugada, na chuva, a cavalo, andar léguas até chegar à casa da gestante, mas, graças a Deus, a criança nasceu com saúde. Mais tarde, ele começou a trabalhar no Posto de Saúde da cidade. Com isso tudo, se tornou uma pessoa querida e muito respeitada, não só na cidade, como também na região.

Vamos voltar ao tempo em que meus pais, eram crianças, para entendermos melhor um pouco de cada um deles.

Minha mãe, Yeda, era filha única. Perdeu seu pai, David Alves de Athayde, quando tinha aproximadamente 2 anos. Seu pai era militar e participou da revolução de 1930. Ocupou  o cargo de administrador de Sorocaba , ocasião em  que foi assassinado. Minha avó Edith Araujo Athayde, nesse período, retornou para a casa de  seus pais, Leôncio e Angelina, que moravam no Rio de Janeiro. Passado algum tempo, ela se casa novamente, agora com meu avô Silas, e se mudam para São Paulo. Vó Edith teve outra gravidez, mas acabou perdendo o bebê. Minha mãe, por ser filha única, foi muito apegada a sua mãe. Mudaram muito e chegaram a morar em pensão algumas vezes, não sei bem o motivo: se por dificuldade financeira ou se por opção. Meu avô Silas na ocasião bebia muito, o que deixava minha avó transtornada e sempre aconteciam  brigas que eram presenciadas por minha mãe. Meu avô Silas mudou-se, então, com a família para Salvador, onde conseguiu um emprego numa grande  empresa, Cama Patente. Com dedicação e trabalho, foi promovido posteriormente a gerente.  Paralelo a isso, meu avô iniciou o curso de direito, à noite. Foi muita dedicação, muita luta,  mas ele conseguiu concluir.

Meu pai, José Messias,  foi criado, como disse, numa cidade pequena no norte de Minas Gerais. Meu avô Zimbu, homem de posses, reconhecido na região por sua bondade, carisma e disciplina, casou-se com uma sobrinha, vó Odília, e com ela teve 3 filhos. Vó Odília morreu de parto do seu quarto filho. Meu avô viu-se aí desamparado, em relação a como criar seus filhos.

Segundo contam, ele tinha medo de uma segunda mulher maltratar seus filhos por não serem dela. Foi assim que a esposa de seu irmão Tinô,  Inhá, assumiu a criação dessas 3 crianças. Ela era enérgica, brava, mas amava essas crianças como se fossem seus filhos. Aliás, Inhá e Tinô nunca tiveram filhos naturais.

Meu pai viveu sua infância assim, entre a casa de seu Pai , Zimbu, e de sua tia Inhá. Mas era uma infância feliz, com banho no rio, pescaria, muito amigos, andar a cavalo  e pegar frutas no pomar, até que chegou a hora de estudar. Para meu avô  Zimbu, era muito importante que seus filhos se formassem, estudassem. Assim todos da família, meu pai, seus 4 irmãos e os primos, todos que moravam no Salto da Divisa, iam estudar em Salvador a partir do ginásio.

Era uma viagem longa até lá. Primeiro desciam todos de canoa o rio Jequitinhonha até chegar em Belmonte na Bahia, onde pegavam o vapor em direção a Salvador.

Ficavam no colégio interno e só retornavam para casa no final de ano, para passar as férias de dezembro, que naquela época eram de 3 meses. Em Salvador existia uma senhora muito amiga de meu avô, D. Dulce, que recebia todos, meu pai , irmãos e primos, no final de semana de folga.

Meu avô Zimbu veio a se casar novamente, com a irmã de sua primeira esposa, mas eles não tiveram filhos. Vó Olga era uma pessoa doce, muito religiosa, bondosa, mas que amou seus sobrinhos como filhos.

Dessa linda história de amor, nasceram: eu, Ieda , a caçula de 6 filhos. Considero-me uma pessoa de sorte por ter nascido numa família íntegra, unida, amorosa, trabalhadora. Fui criada na cidade do Salto da Divisa até 7 anos, depois meus pais me mandaram também estudar em Salvador, morar com minha avó e meu avô maternos, onde já moravam meus 4 irmãos, Paulo Roberto, Ronaldo, Neide Maria e Maria Cristina.. Morei lá por apenas 1 ano.

Minha mãe estava na quarta gravidez, com mais ou menos 5 a 6 meses de gestação, quando aconteceu uma fatalidade na família. Infelizmente, minha irmã mais velha, Odília, morreu ao completar 7 anos, num acidente doméstico. Segundo relato, minha mãe ficou inconsolável nesta ocasião.

Como sempre acontecia, os partos de minha mãe eram em Salvador, onde recebia o apoio de minha avó, durante o resguardo. Nasceu assim em Salvador, 14/04/1955, Neide Maria. Após o parto, minha avó Edith, veio para Salto da Divisa e permaneceu com minha mãe por alguns meses, até ela se recuperar do trauma da perda da filha. Nesse intervalo, minha mãe engravidou novamente e, deu à luz a outra menina, a quinta filha, Maria Cristina,em 14/06/56, um ano depois.

Após um tempo de resguardo em Salvador,  minha mãe retorna para o Salto da Divisa ,mas minha avó não deixou ela trazer minha Irmã Neide. Alegava que eram 2 crianças pequenas, com diferença de idade  de 1 ano, e que minha mãe ainda não tinha se recuperado da perda de sua primeira filha.. Foi assim que Neide, minha irmã,  acabou sendo criada por minha avó até os 11 anos de idade.

Meus pais iam com frequência a Salvador visitar os filhos e todos retornavam  para casa, no Salto da Divisa, nas férias de junho e de final de ano.

Vendo isso, reconheço e agradeço por ser uma privilegiada dentro do meu sistema familiar. Morei a vida inteira com meus pais, recebi muito carinho, amor e segurança. Tinha muitos amigos quando criança. Minha mãe fez um quarto de bonecas para as 3 filhas, que era uma maravilha. Fazíamos comidinha de verdade, saía ao sábado para fazer as compras na feira livre, na fazenda andava à cavalo, era muito corajosa e moleca, tomava banho de rio, de cachoeira e tudo que tinha direito.

Tive assim uma infância maravilhosa.

Mesmo depois de adolescente, agora estudando em Belo Horizonte, com minha mãe e meus irmãos, o Salto e a fazenda eram o lugar que eu mais amava.

Em todas as minhas férias, era esse o meu destino. Nunca quis conhecer outros países, fazer viagens para Disney, gostava mesmo era de retornar para minha casa, no Salto.

Assim, posso dizer que, apesar de ver nitidamente alguns emaranhamentos na família, eu cresci uma criança saudável. É claro que todos nós carregamos conosco algumas memórias transgeracionais e pessoais que necessitam ser resolvidas, mas me considero uma pessoa de sorte por ter nascido no seio dessa família.

Agradeço e honro a todos meus ancestrais por terem escrito também a minha história de vida e, principalmente, ao meu pai e à minha mãe, por terem me amado, dedicado todo carinho e cuidado para comigo. Gratidão por isso.

 

 

 

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