A infância da minha mãe foi no interior do Paraná, em um grande sítio com plantação e gado leiteiro. Vivia me contando como se divertia e brincava com animais, na natureza e de como era corajosa e subia em eucaliptos de 6 metros (rsrs). Teve o amor dos seus pais até os 17 anos, quando seu pai faleceu de câncer e tudo mudou drasticamente.
Depois de alguns anos conheceu meu pai e se casaram.
Meu pai é Angolano e teve uma infância difícil com um pai severo e uma mãe com depressão pós parto que entregou ele para uma tia cuidar logo que nasceu. As lembranças dele eram sempre tristes, dessa rejeição e de ter uma babá que falava com ele em dialeto africano. Lembro dele contar que chegou um momento que ele nem falava mais português.
Com 20 anos, ele e sua família fugiram de Angola devido a guerra civil e vieram para o Brasil, fato que mudou completamente a sua vida e ele foi o único da família que não conseguiu seguir em frente e teve uma vida problemática.
Minha infância foi cercada de cuidados extremos para que meu pai não brigasse com a minha mãe, tive poucos amigos, tentava fugir das brigas dos dois, me isolava de tudo para poder criar o meu mundo próprio. Meu pai não deixava que eu e meu irmão brincássemos na rua.
Quando minha mãe foi trabalhar eu fiquei cuidando da casa e do meu irmão, ensinando ele a ler e escrever, temos 8 anos de diferença. Lembro que ele só queria brincar (rsrs).
Hoje tenho uma filha de 9 anos e nunca tive muita paciência para brincar, só cuidava dela, as brincadeiras ficavam com o pai. No meu relacionamento atual, de 15 anos de casamento, vejo que, como na infância, fugi da realidade. Vivi 7 anos para meu marido, pensando que meu amor bastava pelos dois e esquecendo de mim. Depois com a chegada de nossa filha, vivi 7 anos para ela exclusivamente, deixando-me de lado por completo novamente.
E desde o ano passado com os estudos em constelação, eu estou voltando a me conhecer e a querer viver para mim em primeiro lugar. Não mais para os outros, pelos outros, buscando o amor e carinho que me foi negado na infância. Estou curando minha criança ferida e me reaproximando da minha filha de outra forma, mais leve e sem culpa.
E assim sigo em minha cura como jornada! Gratidão!
#mod03