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A VIDA CONJUGAL DOS MEUS PAIS

A VIDA CONJUGAL DOS MEUS PAIS
Erica Zanuto
jul. 17 - 6 min de leitura
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Hoje me deparo com a difícil tarefa de escrever um pouco a respeito da história dos meus pais e como tudo isso me mostra ressonância na minha própria história.

Meu querido pai é um homem muito comunicativo, trabalhador, guerreiro e inteligente. Conquistou minha mãe de tanto insistir no relacionamento. É um homem muito bom, de enorme coração, porem hoje entendo que tem muitas dores emocionais não curadas.

Meu pai é um tipo de pessoa de faz amizade facilmente,  carregou as responsabilidades por sua família nas costas, assumindo o lugar de seu pai. Sinto que não teve muito o amor de graça e sua criança está ferida demais pois é muito julgador, rancoroso e sempre precisou se esconder atrás de vícios, primeiro o cigarro e hoje a bebida.

Ele percebe que vai além da conta, mas é como se não conseguisse ter autocontrole, como se fosse mais forte do que ele mesmo. Ele é dos dois o mais carinhoso, de afeto, toque e abraço. Ciumento e possessivo, tanto com minha mãe quanto comigo.

Machista ao extremo e sempre deixou muito claro para mim.

No relacionamento com minha mãe é carinhoso, a defende, presenteia, possui grande sintonia, cuida para que nada falte a ela, porém chega a ser opressor, não permite que converse com outros homens ou pegue carona com amigos da igreja, se ela faz tem que ouvir um sermão.

Percebo que minha mãe, mesmo sendo uma mulher forte, acabou desistindo até de trabalhar por conta de atitudes assim. Essa grosseria, só comecei a perceber após anos de matrimônio, principalmente após a bebida. Sinto que tudo é fuga, pela falta de afeto, carinho e amor na infância sofrida e difícil no sítio.

Filho mais velho de sete irmãos, meus avós iam para a roça  eles por vezes ia junto e ficava cuidando dos demais. As vezes não se alimentava direito, passava fome, frio e medo. Sentia-se desprezado pelos avós maternos que demonstravam maior interesse por outros netos mais bem sucedidos. Tanto que quando fala desses avós a mágoa é nítida no seu coração.

A resiliência do meu pai é um exemplo, veio e venceu na cidade. É empresário e já conquistou muitas coisas, mas ao mesmo tempo parece que não as mantém, pois sempre está dando mais do que recebendo (para a família que sempre o sugaram), falta equilíbrio.

Minha querida  e amada mãe, o que dizer dessa mulher que para mim é a pessoa mais sábia e perseverante que já conheci. Ao mesmo tempo a mulher que mais renúncias fez a si mesma.

Renunciou o sonho de estudar e ser professora universitária para constituir sua família, nem sempre foi fácil, tentou trabalhar por um tempo para trabalhar em casa. Era excelente professora, me apresentou a fé, me educou com princípios e valores. Não era muito de abraços e carinhos, era mais do servir.

Conheceu meu pai na igreja, ela o achava muito novo e infantil. Meu pai a ganhou na insistência. Veio de uma família bem severa, de uma avó bem autoritária porém de um servir incrível a família.

Não tive muito contato com meus avós, faleceram eu era criança.

Minha mãe sempre disse que não queria casar, queria estudar muito e ser pesquisadora e professora universitária. Mas diz que não se arrepende pois ter filhos foi a maior bênção que recebeu de Deus.

Mamãe é uma querida, sempre cuidou de sua saúde física e mental, cuidou de sua espiritualidade, autoestima. O maior sofrimento que a vejo passar é com relação ao alcoolismo do meu pai, pois já chegou a dizer que não aguentaria isso no inicio do casamento.

Mamãe sempre zela pela família, por seus irmãos e sobrinhos que a tem como referencia de bondade, sabedoria e amor. Pouco fala de sua infância, também morou no sítio e com oito anos já era babá em casa de família.

Mamãe cozinha muito bem, costura e é o elo da nossa família.

Quanto a vida sexual sempre foi muito reservada. Não me recordo de ver beijos entre eles, a não ser os roubados pelo meu pai. As vezes sinto que o sexo para ela é uma obrigação do casamento. Nunca conversamos sobre isso, aliás quando menstruei achei que havia me machucado.

Hoje muitas fichas caem na minha cabeça. O machismo opressor do meu pai, a falta do colo da minha mãe me deixaram carentes na prosperidade, as vezes sinto a escassez. Sinto que as vezes fui insuficiente para meu pai, como se tudo o que eu fizesse não bastasse.

A falta de carinho me fez carente, as vezes sou mais fria também com meu esposo.

Hoje eu vejo, hoje eu sei, hoje eu sinto.

Tenho um tremor no olho direito, após algum pico de nervoso na escola (sou professora), percebo que está muito ligado a não se vista pelo meu pai como  gostaria, sei que ele me ama, mas não concorda com minhas escolhas.

Sou professora concursada na rede municipal, ele vive falando que deveria ter outro cargo ou abrir uma escola, como se eu fosse só uma professorinha. Quando me formei em terapeuta ele logo perguntou se iria fazer psicologia, parece que não apoia minhas decisões e achei que havia lidado bem com isso mas meu olho tremendo me diz que não.

A cada dia me sinto mais curada em relação a tudo isso, a cada dia entendo mais e quero ajudar a reverter esses emaranhamentos por mim e pelos meus filhos. Honro e agradeço aos meus antepassados, honro a luta de cada um, estão todos inseridos em mim, juntos venceremos, faremos a diferença no mundo.

Por querer pertencer já tive relacionamentos abusivos, já quis ser quem não era, já me senti promíscua, mas a cada dia supero um pouco.

A cura é um caminho e nele eu estou.

 

Gratidão.

#mod03

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