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PROFISSÃO E TRABALHO

PROFISSÃO E TRABALHO
JAMILE SOUZA VILLA-FLOR
mai. 21 - 9 min de leitura
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Desde pequena sempre gostei muito de brincar de professora; eu herdei um quadro-negro da minha irmã mais velha e com ele eu fazia a brincadeira, quando não tinha amigos para ser os meus alunos, eu usava as bonecas. Passava as tardes brincando. 

Também gostava muito de brincar de casinha, brincava acompanhada de amigos, brincava sozinha, brincava até no poleiro das galinhas que tinha no quintal de casa. Eu transformava o poleiro em uma casa, tinha de tudo, panelinhas, fogãozinho, conjunto de xícaras, fazia comidinhas com as flores, areia e pedrinhas, o poleiro se transformava.

No final da tarde as galinhas colocavam a gente para correr, era hora delas se recolherem e então a brincadeira acabava. Eu sempre gostava de tudo organizado, de enfeitar com flores, isso fazia parte de mim.

A minha tia tinha uma lanchonete e eu estava com a ideia de fazer algo para ganhar dinheiro, eu tinha em torno de uns 9 anos de idade, nessa idade eu já sabia fazer bolo, minha mãe me ensinava e eu amava aprender. Então, eu perguntei a minha tia se eu poderia fazer um bolo e colocar na lanchonete dela para vender, ela permitiu e isso para mim foi uma alegria imensa.

Fiz o bolo com auxílio da minha mãe e coloquei para vender, e não é que vendeu as fatias do bolo e eu ganhei dinheiro? Foi uma alegria. Depois eu fiz isso mais algumas vezes. Acredito que foi a minha primeira profissão, cozinheira.

Não sei porque hoje em dia eu perdi o interesse em cozinhar, não tenho mais prazer é como um fardo, uma obrigação, não tem mais aquele brilho de quando eu era criança e pedia para a minha mãe me ensinar, e quando ela estava na cozinha eu ficava por perto olhando como fazia, perguntando, ficava imensamente feliz quando ela me dava os temperos para eu machucar, depois ela dizia que foi eu que fiz a comida, eu ficava toda orgulhosa.

Mas, infelizmente esse encanto pela cozinha se perdeu, ainda não descobri como, já me passou algumas coisas pela mente, pensei que poderia ser uma memória trans geracional das mulheres que ficavam o dia todo na cozinha, fazendo trabalhos pesados, muita carga de trabalho e exploração, isso foi um insight que se passou em minha mente.

Espero recuperar esse talento que quando criança eu amava tanto, eu sei cozinhar muito bem. Neste caso me sinto em conflito com a minha primeira profissão, mas sei que preciso resgatar isso em mim, porque cozinhar é servir a vida, mesmo que eu não trabalhe com isso profissionalmente, mas quero ter o prazer em servir a minha família, amigos, dessa forma estarei servindo a vida.

No período da minha adolescência eu já fiz várias freelancer para ganhar dinheiro, tudo o que me chamavam para fazer e ganhar dinheiro eu ia; já fui distribuir panfletos, já fui recepcionista, substituindo funcionário em férias, assim como várias outras oportunidades que aparecia.

Eu nunca negava as oportunidades, mas para falar a verdade, eu ia só pelo dinheiro, mas era um fardo, eu queria que chegasse logo a hora de ir embora, eu não tinha prazer no que fazia, sempre me sentia insegura, cercada pelo medo e o meu conforto era o retornar para casa, era o melhor momento, talvez até mais do que o momento de receber o dinheiro.

Mesmo assim eu enfrentava e ia, mas isso foi me adoecendo, é muito ruim viver sem ter prazer no que se faz. Eu sempre me questionava sobre o que realmente eu gostava de fazer e qual profissão eu queria ter, pensei em ser psicóloga ou nutricionista e quando criança eu sempre dizia que seria professora. Eu acho muito lindo quem tem um dom em algo e o pratica com maestria e ganha dinheiro com isso.

O meu sonho era ingressar nas forças armadas brasileira, achava lindo quando passava aquelas propagandas com aquelas mulheres fardadas. Até tentei entrar para oficial da polícia militar através de concurso, mas a concorrência era grande e infelizmente não deu certo.

Conclui o ensino médio, passei no vestibular para a faculdade de Educação Física que era algo que eu gostava muito, pratiquei esporte por toda a vida, até hoje não parei. Cursei até o final, foram muitas lutas que enfrentei, mas consegui me formar.

Contudo, como citei acima, sempre tudo com muita dificuldade, como se tivesse algo me puxando, eu tinha dificuldades para avançar, mesmo assim consegui terminar. Fiz pós-graduação na minha área. Trabalhei em academias, sempre com aquela sensação de desmotivação, de fardo, apesar de ser capacitada, de ter conhecimento, mas sempre houve esse bloqueio.

O desejo era o de sempre, voltar para casa. Eu só sossegava quando dava o horário de ir embora, passava o tempo olhando para o relógio. Dessa forma segui. Logo passei em dois concursos públicos com salários bons, para ser professora da rede pública municipal e estadual, isso me remete ao início do texto, quando disse que eu amava brincar de professora quando criança, porém quando me deparo com o serviço a mesma sensação me vem, sensação de fuga.

Isso me atormentou por todos estes anos. É muito ruim sentir isso. Eu sou grata pela minha profissão, pelo meu trabalho, e sempre me senti culpada por me agir assim.

Fiz de tudo para me libertar disso.

Achava que eu sentia isso porque precisa me capacitar mais, estudar mais, então fui fazer uma infinidade de cursos, conhecimentos e mais conhecimentos, mas aquela sensação de insegurança, de não ser suficiente nunca saia de mim e o meu único conforto era estar em casa com a minha família, era o meu melhor momento, o meu refrigério, o meu refúgio.

Até que as coisas começaram a desandar para mim, vieram os problemas de saúde e era o tempo todo tendo que me afastar do trabalho, hoje eu entendo o porque , era o universo conspirando na minha vibração.

Afinal eu queria mesmo era estar casa.

Teve um momento que foi tão insuportável que eu pedi exoneração no meu emprego municipal. Fiquei só com o estadual. O qual até hoje eu me arrasto.

Junta todos estes meus emaranhamentos com os emaranhamentos do próprio sistema público e a coisa fica mais complicada ainda. Mas, eu agradeço a Deus pelo meu trabalho, pela minha profissão de professora porque foi através deles que eu estou conhecendo a minha mais nova profissão que é a de terapeuta.

Por causa do meu trabalho eu posso fazer os meus cursos de terapeuta e isso está me ajudando muito a avançar através das mudanças que tenho vivenciado através da sistêmica.

Hoje muitas coisas fazem sentido e agora eu começo a perceber o porque de tudo isso em minha vida. Eu não pretendo me desligar do meu trabalho e da minha profissão antiga para inserir a minha profissão mais recente, eu apenas preciso fazer a inclusão e a interação delas em minha vida.

Ambas as profissões servem a vida e são importantes. Afinal uma existe por causa da outra.

E eu aprendi na sistêmica uma coisa muito interessante, a tirar o "ou" da minha vida, ele causa exclusão, ("ou" é isso "ou" é aquilo), e passei a adotar o "e" ( pode ser isso "e" também aquilo), e dessa maneira tenho caminhado, sempre procurando incluir, seja em qual área da vida for.

Agora eu sei o que tanto eu buscava em casa, era a mamãe e o papai. Eu queria ser vista por eles, ser reconhecida, aprovada, ser aceita do jeito que sou, receber as bênçãos deles.

Ainda preciso recuperar esse movimento de amor que foi interrompido, estou nesta busca, mas agora eu vejo.

Preciso ter em meu coração um bom lugar para os meus pais e deixar as expectativas a respeito deles para trás. Eles foram bons pais para mim, me deram o suficiente para que eu chegasse aonde estou hoje.

A cada dia eu exercito a gratidão por tudo o que eu recebi deles, em especial o essencial que é a vida.

E a maneira que eu tenho de honrá-los é tendo êxito, prosperidade, saúde, é através da minha felicidade e da continuação da vida através dos meus filhos.

Mãe é profissão é tempo e pai é dinheiro, é sucesso.

Querida mamãe, querido papai, obrigada por tudo, de coração.

Gratidão!

#mod05

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