Essa sempre foi a minha história preferida.
Nada de princesa doce e comedida. Admirava a menina destemida que foi para guerra no lugar do pai, porque acreditava que ele era frágil demais para lutar. Mulan cortou os cabelos, vestiu a farda do exército, escondeu os seios, decidiu pelo pai, mudou a voz e se sentiu a salvadora do mundo.
Lutou dentro de um território exclusivamente masculino e para pertencer e viver naquele ambiente, ela precisou esconder o seu feminino e engoliu as suas próprias vulnerabilidades. Adquiriu uma postura rígida, se manteve indisponível para o amor.
Como alguém conseguiria salvar o mundo se excluindo de si mesmo?
Quando apaixonou-se não sabia lidar com as suas próprias vulnerabilidades e quantas de nós passamos por isso? Quantas antepassadas fortes, que assumiram o lugar e a postura do masculino para salvar a família e ou o sistema?
Nós não damos conta desse lugar, escondendo a essência do feminino, do belo.
Na história, a Mulan destemida assume a coragem de se vulnerabilizar.
Decide expor e assumir a nudez do seu feminino em um lugar exclusivamente masculino. Quando ela retoma para a sua força e banca as críticas alheias, decidindo não corresponder às expectativas do todo, recebe o reconhecimento do seu trabalho e se disponibiliza para o amor.
Quando olhei para a minha princesa preferida, já adulta, percebi o quanto que a aquela personagem falava de mim. Falava de uma adulta que ainda transitava na menina que queria salvar o pai e que reprimia a força do feminino para caber em uma profissão rígida.
Perdemos muita força tentando ocupar um lugar que não é nosso.
A cada retorno amoroso para o feminino, percebo a potência de estar no meu lugar com leveza, poder e sucesso. Em meu lugar os relacionamentos e a vida fluem.