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NEM TUDO ERA CONTOS DE FADAS

NEM TUDO ERA CONTOS DE FADAS
Cristiana Josefi
jun. 11 - 7 min de leitura
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Não me recordo quais os meus contos de fadas ou personagens favoritos da infância, gostava muito de ler várias histórias diferentes.

Lembro de uma história que me marcou por volta dos 7 anos de idade, que chamava Hansel e Gretel, traduzida para o Brasil é a história de João e Maria: as duas crianças eram irmãos, e em uma noite ouviram seus pais conversando sobre estarem passando dificuldades e não terem mais comida para pôr à mesa, a mãe disse que teriam que se desfazer das crianças para não morrer de fome, então no dia seguinte os levariam até a floresta e deixariam por lá.

O pai no início não concordou, mas por pressão da mãe e por não ver outra saída, acabou cedendo. As crianças então pensaram em como poderiam fazer para encontrarem o caminho de volta, e foram deixando pedrinhas pelo caminho, marcando o trajeto para poder voltar. A história se repetiu no dia seguinte, porém, por não haver pedrinhas no caminho, foram deixando migalhas de pão, que receberam para comer durante a caminhada.

Mas os animais da floresta comeram as migalhas e então as crianças não puderam voltar... os irmãos tentaram achar o caminho de volta, mas acabaram se embrenhando ainda mais na floresta, até que encontraram uma casinha. Ao se aproximar, perceberam que era toda feita de doces, e começaram a comer o telhado e as paredes, pois estavam morrendo de fome.

De repente, uma velhinha sai de dentro da casa para ver o que estava acontecendo, e vendo as crianças ali, as convida para entrar com a promessa de mais comida, mas mal sabiam elas que o objetivo da velha era engordá-los para o jantar, já que ela mesma também estava passando fome.

As crianças descobriram o plano da velha, e jogaram-na dentro do forno onde ela iria cozinhá-los, matando-a. A sua mãe também acabou morrendo de fome, e depois disso, o pai arrependido foi ao encontro das crianças para resgatá-las.

Existem muitas nuances por trás deste conto. Estudando sua origem, descobri que era contado na Idade Média, época em que, pelo grande abismo social existente, era comum as famílias mais pobres passarem por muita escassez, e uma "solução" quase que cotidiana era o abandono ou homicídio de crianças, para diminuir o número de bocas a alimentar.

Com o passar dos anos, a história teve algumas mudanças, substituindo a mãe pela madrasta (pois as mães modernas não poderiam tolerar uma história de mãe que abandona ou mata o próprio filho), a velha pela bruxa malvada (para que as crianças não associassem as avós a imagem de alguém que quer devorá-los), e assim por diante..

Mas será que essas mudanças fizeram mesmo alguma diferença? Pois na essência, a história continua retratando a escassez, a pobreza, a mãe ausente, o caminho entre os filhos e o pai que não é liberado pela figura materna até que ela morra, a inversão da hierarquia quando o irmão assume o papel de protetor no lugar do pai.

E como essa história se relaciona com a minha própria, com o meu sistema?

Não existe mais escassez e fome, mas é muito trabalhoso e difícil ter dinheiro, e só se tem o suficiente para sobreviver com um pouco de conforto (economizando os centavos sempre).

Se alguém recebe o título de "rico da família", isso é visto com maus olhos, como se enriquecer fosse uma falha terrível. O dinheiro vai embora tão rapidamente quanto chega em nossa casa. Existe uma corrida invisível em busca de mais dinheiro, mais bens, mais patrimônio, mais segurança financeira, e ao mesmo tempo em que se corre, a sensação é de que a distância aumenta.

Onde não entra o dinheiro, é preciso reconciliar com o pai, e se a mãe é ausente, não libera o caminho entre os filhos e o pai. É sabido que em meu sistema houve casos de orfandade real, mães que morreram no parto, que foram assassinadas, que foram obrigadas a se separar de suas crias. 

Mas, aquilo que é sabido já está visto, resolvido. Falta olhar para o que é "normal", o que está ainda escondido debaixo do tapete. A mãe que não consegue amamentar, que não consegue ter vínculo com os filhos, que muitas vezes acredita que a melhor forma de criar é sendo rígida e distante, também é uma mãe ausente, não por opção consciente, mas porque o sistema lhe impõe.

A mãe que não recebeu amor, não tem amor para dar, ainda lhe falta. E se a mãe não está em paz, não pode liberar o caminho para o pai. É preciso que ela esteja em paz consigo mesma e também com seus pais, com seu sistema.

O pai por sua vez, precisa que a mãe libere o caminho, e se isso não acontece, ele também se torna ausente. As vezes fisicamente, outras vezes, se escondendo atrás da cara séria e fechada, do trabalho, se isolando do mundo, como se não existisse. Talvez esse pai carregue com ele uma grande culpa, por achar que não proveu o suficiente, que não foi um bom pai, que falhou.

Querido papai, foi suficiente!

Na minha família de origem, mesmo com muitas fichas caídas, ainda tem um quê de orfandade funcional. No pai que se ausenta emocionalmente, e que quando se apresenta, vem com uma intensidade fora de contexto (talvez por ter tanto dentro de si, que explode). 

Na mãe que constantemente tenta assumir o lugar do pai, porque não tem paciência para esperar que ele mesmo assuma, ou quando reclama do pai para os filhos, quando deseja que os filhos a ajudem a resolver os "problemas" do pai, característica que também é muito presente na família de origem de meu marido. Histórias parecidas se juntam para que tarefas similares sejam cumpridas mais rápido.

São inúmeras as semelhanças, e mesmo ainda com tantos nós para desenrolar, também são incontáveis as diferenças entre a história de Hansel e Gretel e a minha.

O amor hoje pode chegar, e passar adiante através de mim, sem nenhuma criança precisar ser abandonada! E olhar para tudo isso me faz entender e acolher ainda mais minha família de origem.

Querido papai, querida mamãe, vocês fizeram o suficiente! Hoje eu sei! Se algo me faltou, se algo não puderam me dar, eu hoje posso tomar. Sigo o meu caminho honrando a vida que vocês me deram.

A vida foi suficiente.

Gratidão, gratidão, gratidão!

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