Mais uma vez pensei... não tenho noites escuras para contar, mas como tudo reverbera, comecei a identificá-las dentro da minha história.
A primeira que pude associar foi algo que aconteceu com a minha mãe.
Ela tinha 74 anos e até então estava tudo bem. Vivia sozinha, independente, e então teve um AVC e a vida de toda família virou de cabeça para baixo.
Do dia para noite, ela que não dava trabalho para ninguém, ficou 100% dependente. Viveu quase quatro meses na minha casa, até que conseguimos nos organizar com as cuidadoras e ela voltou para a casa dela, onde, junto com as cuidadoras, eu e a minha irmã nos revezamos nos cuidados e já mais de dois anos e meio nessa rotina.
Não é fácil...
Mas hoje eu vejo que isso é uma noite escura dela, embora afete a todos nós.
Fizemos uma constelação com bonecos e o que mais me impressionou foi ela ter colocado a sua representante sozinha, bem no centro. E, quando questionada se não queria colocar mais alguém junto, ela disse que não, porque era assim mesmo. Muita solidão.
Lembrei de uma prima que comentou: isso é uma jornada dela. Estudando as constelações, hoje entendo isso melhor. Também me parece que toda essa situação envolve memórias transgeracionais. Minha mãe cuidou da minha avó até ela falecer. E minha avó sempre esperou que, da mesma forma que a minha mãe fez, eu nunca saísse de casa e ficasse com ela para sempre.
Mas eu me casei, saí de casa, tive minhas filhas e fui viver a minha vida.
E, quando acontece esse AVC, tanto eu como a minha irmã, acabamos tendo que ficar cuidando dela e organizando nossas vidas em torno disso. Como a minha mãe teve que fazer com a minha avó por toda a vida...
Hoje me sinto mais livre.
Ajudo no que posso, ela tem toda assistência de que precisa, mas não deixo de viver a minha vida e de estar presente na vida das minhas meninas, principalmente porque quero que elas jamais tenham que passar por isso e possam viver livres de amarras e obrigações, sem sentimento de culpa.
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