Eu sei poucas coisas sobre aqueles que vieram muito tempo antes de mim, mas as noites escuras dos meus pais eu consigo lembrar coisas especificas.
Meu pai vivenciou em sua vida a rejeição por parte de seu pai e, assim que eu nasci, ele reproduziu aquilo que ele aprendeu, 1 mês depois do meu nascimento ele decidiu regressar para a casa dos pais e "devolveu" minha mãe e eu para meus avós maternos.
Com o passar do tempo, ele viveu como seu a realidade dele não fosse aquela que estávamos, como se ele tivesse que ir em busca do seu destino. Hoje, tenho a consciência de que ele precisava ir ao encontro de seu perpetrador.
Minha mãe experimentou a rejeição desde o seu primeiro segundo de vida e, ao longo da vida, passou por situações que fizeram com que ela fizesse uma armadura a seu redor. Sem sombra de dúvidas, o momento em que presenciei ela em um momento de noites escuras foi quando meu pai faleceu.
Minha mãe tinha 29 anos, tinha uma filha que dependia dela e teve que resolver absolutamente TUDO que envolvia ao enterro do meu pai sozinha. Ele foi morto no meio da selva, em um primeiro momento ele foi enterrado como indigente e em outro estado, por isso ela acabou ficando sozinha para resolver toda burocracia.
Por conta das burocracias e da falta de apoio, minha mãe entrou em um estagio de tristeza profunda, ela não dormia bem, não se alimentava e seu corpo começou a definhar.
Mesmo eu sendo pequena eu via que ela estava se deixando e indo pelo mesmo caminho que meu pai, indo de encontro com a morte, ela quase não ficava em casa e quando estava ela sempre estava realizando diversas tarefas ou se exercitando excessivamente. Esse período parecia que nunca ia passar, mas com muita terapia e maturidade ela conseguiu olhar para a morte do meu pai com menos tristeza e aceitando o destino dele.
Para falar sobre as minhas noites escuras eu tenho mais propriedade e eu poderia falar sobre diversos momentos em que eu estive dentro da escuridão, mas existe um episódio da minha vida que reflete em mim até o presente momento.
Em 2017 eu ingressei na universidade, mudei de cidade repentinamente, fui morar com meu namorado, fiquei longe dos meus amigos, família e de tudo que eu estava acostumada a conviver. Passei o ano todo só, muitos conflitos pessoais surgiram e no final do ano eu tive uma crise de pânico terrível (meu rosto e meu corpo do lado direito paralisou) na faculdade e, até hoje, eu não faço ideia de como eu cheguei em casa.
No ano seguinte, assim que começou o ano letivo eu retornei a São Paulo (sou natural de Cuiabá e hoje moro em São Paulo para fazer faculdade) e eu entrei em um conflito muito grande com a graduação que escolhi, me questionei diversas vezes se eu queria de fato aquilo para o meu futuro e se todo meu esforço estava valendo a pena. Com o apoio da minha mãe, eu tranquei minha faculdade, continuei em São Paulo para poder estudar e encontrar meu caminho.
Nesse período eu tive que realizar um exame ginecológico e eu fui abusada pelo médico, sai do laboratório em choque e demorei um tempo para a minha ficha cair.
Por conta dessas circunstâncias, eu desenvolvi síndrome do pânico, comecei a ter pavor de sair de casa e eu surtava todas as vezes que eu imaginava em chegar perto da porta. Com o auxilio de um terapeuta e com o apoio da minha família, eu passei por esse período, não tomo medicamentos e os episódios se tornaram esporádicos.
Uma observação que eu fiz ao longo do tempo: não existia um gatilho especifico e que o lado direito do meu corpo formigava MUITO antes da crise se instalar de fato. Observei os sinais do meu corpo e procurei respeitar meu limites. Além disso, as crises quase que desapareceram depois que comecei a constelar a minha relação com o meu pai.
#mod07 #noitesescuras