Meus pais nasceram no interior de Minas Gerais, numa região de grandes
belezas naturais. Extensas florestas, rios, vales e montanhas faziam
parte do lugar.
Eram fazendeiros prósperos. Geravam valor para a
comunidade local através de empregos na lavoura e produção de leite.
Mas, com o passar dos tempos e em nome do progresso as terras da
família foram inundadas por água para a formação da Represa de Três
Marias.
Muitos anos depois ouvi dizer que a tristeza tomou conta de todos,
viram seus sonhos interrompidos, famílias separadas e mesmo com as
compensações financeiras, havia algo que o dinheiro não podia pagar,
histórias de vida, lembranças, deixando muita gente desmotivada para
recomeçar a vida.
Sei muito pouco da história dos meus pais, sobre suas relações com
meus avós maternos e paternos. Não me lembro de tê-los visto em minha
casa para visitar-nos nem mesmo nos momentos mais difíceis. Fomos
criados sem a presença de bisavós, avós, tios, primos, enfim, nenhum
parente por perto.
Logo depois da inundação da fazenda meus pais mudaram para o Norte do
Estado de Minas e desenvolveram a atividade de extração de madeira
para a produção de carvão.
Trabalharam duro para sustentar a família que só crescia. Minha mãe
dedicava-se aos cuidados da casa e dos filhos e ainda sobrava tempo
para tecer colchas de tear, colchas aquelas que num determinado
momento da história foram vendidas e salvaram a família da falência.
Meus pais eram jovens e bonitos. Meu pai gostava de farras e quase
sempre ia para as festas sozinho deixando a minha mãe bastante
aborrecida. Ela tinha ciúmes dele e quase sempre brigavam em razão do
seu comportamento. Não tinham diálogo e iam se afastando cada vez mais
um do outro. Mais tarde vieram- se a separarem e isso causou muito
sofrimento para a família.
Somos uma família de treze irmãos, doze dos meus pais e um filho do
meu pai em outro relacionamento.
Perdi meu pai com 13 anos e com sua morte minha mãe adoeceu e como
filha mais nova fiquei com a responsabilidade de cuidar dela.
Precisei trabalhar cedo para sustentar a casa e comprar remédios para
minha mãe que desenvolveu um transtorno mental que durou vários anos.
Hoje estudando a Constelação Familiar percebo que as leis naturais em
meu sistema familiar foram várias vezes violadas.
- Ordem, Pertencimento, Equilíbrio.
Deixei de ser filha e fui ser mãe da minha mãe. Passei a ter uma
importância exagerada e inadequada na família, sentindo-me responsável
por ela e muitas vezes me batia um desespero porque realmente não dava
conta de suprir a carência emocional da minha mãe.
Com o tempo comecei a me sentir sem forças para enfrentar minhas
próprias angustias.
Aos poucos estou entendendo que muitos dos meus problemas emocionais
são resultados de um desequilíbrio que aconteceu em meu sistema
familiar.
Tenho consciência e compreensão de que minha mãe influenciou minha
história e continua influenciando. Mas, eu a amo muito. Eu não posso
cobrar nada dela, tudo que aconteceu e tudo que ela fez foi o melhor
que poderia ter feito naquele momento. Eu a tomo em meu coração com
amor, sem queixas, exigências, temores, recriminações, acusações ou
reclamações.
Consigo ver meus pais, como guerreiros, como pessoas comuns iguais a
mim, imperfeitos e sujeitos a erros e sou grata a eles pela minha vida
e a vida dos meus irmãos.
Quero apenas ser filha, filha grata.
Já não sou mais criança e continuarei a limpar as feridas emocionais e
as questões que não foram resolvidas na primeira metade da minha da
vida. Com esse olhar que tenho agora tudo será mais fácil, tenho
certeza disso.
Sou muito pequena diante da grandeza dos meus pais.
Sempre converso com eles assim:
Sinto muito pelas vezes que eu não compreendi as coisas e os julguei,
Por favor, me perdoem,
Eu os amo muito.
Sou muito grata por tê-los como meus pais.
Com amor.
#mod07