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O AMOR E AS MINHAS CRIANÇAS

O AMOR E AS MINHAS CRIANÇAS
Angela Helena Bona Josefi
mai. 15 - 6 min de leitura
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Tenho um amor imenso pelas crianças, um desejo de proteger todas, em especial as que vejo com medo por algum motivo. Até há pouco tempo, não sabia de onde vinha esse sentimento tão especial.

A partir dos cursos de formação em constelações sistêmicas passei a me perceber melhor e a compreender vários aspectos que me definem como membro pertencente ao meu sistema familiar, trazendo em mim características físicas e memórias emocionais que vêm de várias gerações.

Neste momento, depois de rever a última aula do terceiro módulo do curso de formação real em constelações sistêmicas, dediquei-me a olhar por uma criança em especial: a minha criança interior, a criança da minha infância.

Vi então uma menina amedrontada e insegura, que não se sentia amada. Olhei ao redor e vi minha mãe infeliz, insatisfeita com meu pai, e este também triste e impotente diante dos desafios que a vida familiar lhe impunha, não se sentindo amado. Essa visão só me foi possível com o olhar do conhecimento que hoje tenho acerca da história de amor dos meus pais.

Nenhum dos dois se casou com o grande amor. Os dois tiveram paixões não aprovadas por suas famílias, por motivos de natureza cultural ou social. Minha mãe era apaixonada por um moço que não era agricultor, e por isto não era visto com bons olhos pelos meus avós, que acreditavam que ela deveria casar-se com um homem trabalhador, com os valores da roça.

O moço era da cidade, estudante de odontologia, um “almofadinha” como diziam. Meu pai teve duas paixões proibidas: uma prima de segunda geração cujo namoro não foi permitido pelas famílias por causa dos laços de sangue, e depois uma moça que, aos olhos da família, não era possível, por ter “mistura de raça negra”. Soube que ele a chamava carinhosamente de pretinha.

Os dois, meu pai e minha mãe, depois de aceitarem os destinos impostos por suas famílias, acabaram se conhecendo em um coral de canto da igreja na localidade onde viviam, em União da Vitória, no Paraná.

Esse coral, chamado Regina Coeli, existe ainda hoje. Meu pai contava que prestou atenção naquela moça muito bonita que tinha uma voz linda e cantava muito bem. Minha mãe viu nele o agricultor que sua família valorizava e o talento e gosto pelo canto que também a atraía.

Olhei com gratidão para essa história, porque do encontro deles foi possível que eu e meus irmãos viéssemos à vida.

Eles esforçaram-se por construir um amor e uma família, e meu pai apaixonou-se por minha mãe, mais do que ela por ele. Fazia tudo para agradá-la, entretanto vivia como se soubesse que não era suficiente. Morreu aos 83 anos, apaixonado por sua “Emi”, por sua “menina” (era como a chamava).

Nos últimos anos vivia sob sequelas de um acidente que o fez voltar a ser criança em seu comportamento, e passou a ser cuidado por ela nos mínimos detalhes da vida. Essa condição lhe permitia uma certa inocência que o impulsionava a abertas declarações de amor por ela, que por vezes a constrangiam.  Ela sentiu muito a perda do homem que a amou tanto, mesmo quando ela não conseguiu retribuir na mesma medida.

 Assim, hoje vejo que minha mãe passou (e passa) a vida procurando por um grande amor, insatisfeita, como às vezes a vi, reclamando do meu pai. Hoje segue, aos 80 anos, com sintomas de demência, apaixonando-se por algum jovem enfermeiro, ou fisioterapeuta, ou pelo moço da feira, às vezes pelo senhor médico que sempre a atendeu, em diversos momentos da vida.

Essas lembranças e reflexões me fizeram ir mais além, no resgate das memórias de família da minha mãe. Então pude ver a criança que ela foi, ou melhor, a criança que não pôde ser, porque contam que meu avô foi disfuncional como pai, abusivo e violento. Ela tinha muito medo dele. Com seis anos de idade já devia servi-lo, já devia ir à cavalo ao moinho levar sacos de arroz para descascar, e tinha hora para chegar de volta, sob pena de apanhar de chicote.

Consigo ver, então, que a sua busca é pelo amor proibido, o amor que ela não pôde receber: o amor do pai. Olho com empatia para essa criança amedrontada, insegura e insatisfeita que reside em minha mãe, que veio a mim e faz parte de mim. Há em mim a infância da minha mãe, amedrontada, com falta de amor, e há em mim a minha infância vivida com medo e com a falta do amor que minha mãe não conseguiu me dar porque não tinha, não recebeu.

Compreendo agora que quando vejo crianças que não conheço e desejo protegê-las, mesmo quando estão sob os cuidados de alguém, o que vejo nelas é a necessidade das crianças da minha memória pessoal e transgeracional, das crianças do meu sistema familiar.

Compreendo e cuido das crianças que estão em mim, dando a mim mesma o que agora me é possível, e percebendo o amor do meu marido como suficiente. Cuido agora das crianças presentes nos meus filhos já adultos, contando-lhes a história da família e mostrando-lhes que a insegurança já passou, que o amor do pai (e meu) por eles, e o amor entre nós dois, são como mãos seguras que indicam o caminho para que eles sigam a vida, vão ao mundo, vivam os seus amores e prosperem.

Cuido de outras crianças, inclusive das que não conheço, quando trabalho com a formação de professores para a alfabetização de crianças, ensinando a ensiná-las com amor e empatia.

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