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O AMOR INOCENTE

O AMOR INOCENTE
Lena Tatagiba
mar. 2 - 4 min de leitura
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Na infância eu acreditava que meus pais eram um casal perfeito, pois tínhamos amor e antes de dormir, fazíamos exercícios físicos e as vezes líamos histórias.

Na infância meu pai, quando podia, ajudava minha mãe a nos dar banho, vestir. Éramos em três, quase gêmeos, diferença de um ano e alguns meses. Quando matava porco (capado), ele limpava, cortava e temperava os pedaços e ajudava a fritar e guardar naquelas latas de gordura. Coisas gostosas daquela época do interior.

Só quem viveu sabe.

Ao entardecer, quase todos os dias, sentavam na varanda a conversar e nós a brincar ali por perto. Aos nossos olhos era só felicidade, era o aparente do aparente. Às vezes saíamos para passear de carro, outras vezes íamos a pé. Meus pais de mãos dadas, bem arrumados, ele de roupa de linho branco e minha mãe também elegante e bem vestida. A medida que crescíamos, fomos tomando consciência das dificuldades enfrentadas por eles; dificuldades financeiras e de relacionamentos, pois ele saía e chegava tarde. Era o além do aparente. O machismo era muito forte e imperava.

Minha mãe sempre aceitou o que ele dizia.

Meu pai era o quarto filho de seis.

Os homens estudaram até a quarta série. Liam, escreviam e faziam as quatros operações. Um dos irmãos era pastor da Igreja Batista, outro era motorista de ônibus e gostava de criar galinhas, coelhos e galos. Meu pai, como morávamos numa casa grande com belo pomar, um riacho cortando o quintal, criava galos para rinhas (seu lazer). Sua profissão era de mecânico, com uma ótima clientela, um profissional respeitado, dedicado e corajoso.

Mecânico naquela época ficava literalmente debaixo do carro, pois o carro era suspenso apenas por um macaco, aparelho para levantar os carros. Hoje quase tudo numa oficina é informatizado. Aos nove anos eu e meu irmão já dirigíamos carro e as vezes até ônibus. Ele nos dizia que precisávamos aprender.

Minha mãe era caçula de quatorze irmãos, professora formada pelas Marcelinas, falava francês fluentemente, tocava piano e cantava muito bem. Reunia as amigas para tarde de músicas e cantos. Uma mulher empreendedora, professora e que administrava uma confecção de camisas e roupas de dormir. Muito dinâmica. Mas a palavra do meu pai era lei. A proporção que fomos crescendo e vendo além do aparente, íamos conversando com ela para que tivesse mais autonomia. Até que chegou o momento... foi um processo, difícil e demorado. Mas valeu apena

Ao observar a vida de meus pais fui analisando o que seria bom para mim sendo eu a caçula e a única viva, pois minha irmã adoeceu e veio a falecer aos dezoito anos e meu irmão, casado e com três filhos pequenos, veio a falecer aos trinta e quatros anos. Uma coisa eu sabia, eu não queria viver sob um regime machista. Apesar de muitas lutas e sofrimentos, era bem independente para a época. Dirigia e trabalhava fora. Por causa disso sofri muito preconceito. E sempre ouvia de um ou outro aquele ditado.

 Formiga quando quer se perder cria asas.

Passados alguns tempos minhas conhecidas começaram a trabalhar e dirigir, pois os tempos já eram outros e o mundo exigia.

Gratidão aos meus pais por todos momentos que passamos juntos, por tudo que nos deram além da vida.

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