É tão difícil escrever ao masculino do meu sistema, pois o sentimento que me toma é o de ausência. E como posso agora ser o instrumento de reconciliação do masculino com o feminino e seu equilíbrio me questiono: Quando o masculino foi excluído? Quando e porque o masculino foi esquecido? Quando o sentimento de abandono tomou conta das mulheres do meu sistema?
Quando convidada escrever sobre esses homens aceitei como tarefa de coração aberto, porém, ao tentar escrever essas linhas, fui tomada de raiva, de revolta, me revirou do avesso, pois essa raiva é um grito de:
Olhe-me papai! Veja-me papai! Coloque-me no seu colo! Ensine-me sobre os desafios da vida, então percebo que não é raiva é ausência de amor! Veja como sou boa aluna, ganho concursos de redação, folheio seus livros como se quisesse ser tão inteligente como eras.
Lembro-me da primeira vez que foi embora e chorei tanto ao lhe ver saindo com suas roupas, foram tantas vezes, tantas lágrimas, vivenciei tanta violência contra mulheres que um dia, em meus 10 anos decidir não chorar mais, me fechar e traçar em minha cabeça um futuro brilhante e alcancei o que estabeleci, contudo, adoeci várias vezes das chamadas doenças psicossomáticas.
Meu coração acelera, um buraco na boca do estomago se forma, mas hoje sei que esses sintomas são o caminho para a cura, pois são mensageiros da cura. A cura é a inclusão, a aceitação e a ordem do masculino no meu sistema e aqui se inicia essa jornada.
Quando penso no masculino, em sua força e proteção, lembro-me do meu avô materno que não nos abandonou para seguir outra vida, nos abandonou por morte.
Vovô me colocava em seus pés e dançávamos Luiz Gonzaga, comprava guaraná magistral e chiclete com figurinha para mim e minha tia mais nova, ele protegia a todos e todas, era um carpinteiro muito habilidoso, vaidoso, bonito e com traços negros e uma barba bem feita, pois era também barbeiro, lembro-me do vovô sentado em sua cadeira de balanço e depois só tenho lembranças com as mulheres do meu sistema.
Iniciando a jornada de cura do masculino em mim e meu sistema eu declaro eu vejo vocês, eu reconheço em vocês a força masculina, o quanto venho de vocês.
Eu sinto muito se vocês foram excluídos, esquecidos ou banidos do meu sistema e dou a vocês um bom lugar no meu coração.
Eu agradeço a todos que vieram antes de mim e recebo de vocês o masculino;
A meu pai eu sou grata pela vida, concordo com tudo que me deu e abro mão das minhas expectativas infantis e recebo com amor seus 50% que fazem parte de mim, abro mão de julgar sua relação com mamãe, isso foi muito pesado para mim e deixo com vocês; eu sigo honrando a vida que me deram.
Ao pai da minha filha tudo que lhe dei, foi de coração e o que me deste guardo com amor e amo os seus 50% que está na nossa filha. Vivemos e escolhemos tê-la por amor e assim sigo amando nela o que ela carrega de você.
Hoje posso desfrutar a presença masculina daqueles do meu sistema que estão em ressonância comigo e posso acalmar meu coração nessa relação com meu tio paterno.
Eu acolho o masculino no sistema, incluo e a ordem pode vir se estabelecer e a jornada da cura se iniciar. Eu vejo vocês e reconheço sua importância assim como José foi importante para Jesus!
Termino essas linhas que demoraram a sair, mas que me desvendaram, tocaram em algo que estava à parte anestesiada; doeu e ainda doe, mas, a cura se iniciou.
E posso dizer ao meu coração o que a mestra Olinda já me disse: Querido papai, pode voltar para casa, pois a guerra acabou!