Conheci os meus pais e eles a mim.
No início houve uma descoberta incalculável para nós pois eu era a segunda filha do casal e eles esperavam um menino. Aff! Cheguei, a expectativa foi frustrada para eles, assim eu penso. Minha irmã mais velha tinha 1 ano e meio e os meus pais, apenas 18 anos.
Quanto aprendizado viria para eles e para mim...
Cresci numa família amorosa.
Meu irmão, o filho homem, nasceu quando eu tinha 5 anos. A família estava completa e assim ficaria.
Desde o meu nascimento eu busquei o pertencimento na minha família pois a minha irmã era bem próxima à minha mãe e o meu irmão ao meu pai. Eu fiquei um pouco perdida neste contexto mas resolvi fazer e praticar coisas boas para todos e até hoje assim o faço.
Contam histórias por aí sobre os filhos do meio e eu acho que é verdade, a gente fica meio perdida querendo atenção de quem está disponível.
Sempre fui extremamente dedicada ao meu pai e a minha mãe.
Fazia tudo certo e acredito que até hoje ainda procuro acertar, mas com menor culpa do que antes. Para ser leal ao sistema eu descobri desde cedo que as mulheres devem ser dedicadas e que os homens devem ser provedores.
Assim foi desde que me lembro da vida dos meus avós paternos e maternos.
A ordem dentro da minha família foi sempre à moda antiga, minha mãe do lar e meu pai na labuta. Eu e a minha irmã brincávamos de bonecas e o meu irmão com carrinhos, dentro dos padrões estabelecidos pelos meus avós.
Cresci leal a este sistema aonde o feminino é feminino e o masculino é masculino.
Vieram as vitórias e as derrotas e todas foram compartilhadas na família que sempre foi o meu porto seguro. Procurei sempre atender às vontades dos meus pais e ser uma filha obediente e correta. Por vezes renunciei coisas para não os magoar pois sempre vinham em minha memória quando eu fugia aos padrões e regras estabelecidos.
Hoje sou grata a tudo que fizeram por mim e mais do que antes hoje sirvo a eles. A idade deles avançou e a minha também. Sempre estou ali pronta para atender no que for preciso, talvez até em excesso...
Estou revendo aqui no curso pois pertencimento, compensação e ordem devem ser seguidos.
Há 4 anos meu pai sofreu um AVC e ficou com a fala comprometida.
Graças a Deus sua memória está intacta, mas limita-se em algumas atividades as quais eu faço com muito prazer, claro que com ele junto para que continue autônomo.
Minha mãe é cardiopata e ano passado fez uma angioplastia na coronária. Para ela também faço o que for preciso.
Sinto por estarem envelhecendo mas sei que tenho que aceitar e sigo amando cada um como se não houvesse amanhã.
Eu percebo o quanto repeti padrões e quanto me limitei mas ao mesmo tempo o quanto amei e sou amada por eles. É uma matemática complexa mas acredito que estou somando e acreditando que o campo está me mostrando como somar sem sofrer tanto.
Agradeço também aos meus avós por terem gerado meus pais.
Eu os vejo e reconheço quanto sacrifício e dificuldades passaram em nome desta família da qual faço parte.