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O QUE TRAZ QUEM LEVAMOS PARA A ESCOLA - A ESCOLA NA VIDA

O QUE TRAZ QUEM LEVAMOS PARA A ESCOLA - A ESCOLA NA VIDA
Liane Dall'Agnol
mai. 27 - 5 min de leitura
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Esse é um tema que mexe muito comigo.

Passei boa parte da vida colhendo os frutos da iniciação escolar. Lembro como se fosse hoje, o meu primeiro dia de aula no jardim da infância, naquela época ainda chamavam assim, não sei porque, afinal de jardim que remete a um lindo gramado, flores, passarinhos, o meu não teve nada.

Mesmo sendo em colégio particular, que muitos ainda acreditam ser um lugar mais seguro e confiável para deixar seus filhos, me trouxe muitos traumas, que carreguei um bom período da vida e que fizeram com que eu não gostasse de escola, professores e muito menos de estudar.

Eu queria muitas balas na lancheira, pedi diversas vezes e minha mãe já incomodada com a insistência disse que sim, que colocaria várias balas na minha lancheira. Ao estacionarmos em frente a escola, eu quis conferir a lancheira e não havia balas dentro dela.

Eu me recordo de chorar copiosamente e não querer descer do carro. Não eram as balas, mas a emoção, a sensação que elas representavam para mim naquele momento.

Era como se minha mãe estivesse ali em forma de balas.

Lembro da minha aflição, sem saber dizer porque não queria ficar naquele lugar, porque não me sentia segura ficar ali sem minha mãe, a única coisa que conseguia dizer é que não tinha as minhas balas na lancheira. Hoje posso compreender, pois é a nossa primeira fonte de subsistência, de sobrevivência, de aconchego, de proteção, a nossa mãe. E era somente o que eu queria e precisava naquele momento, saber que ela ficaria ali comigo, mesmo que fosse em forma de bala.

Apressados, pois tinham que ir trabalhar e meus dois irmãos já mais velhos, acostumados a ficar na escola, não deram importância as minhas balas, nem ao meu choro desesperado e me obrigaram a ficar lá. Depois, com a descoberta que eu teria materiais, giz de cera coloridos, folhas, tintas, desenhos, massinha de modelar, a empolgação tomou conta. Arrumei todo o meu material junto com a minha mãe e colocamos numa caixa, conforme a escola solicitava, eu estava empolgadíssima.

Porém, a professora deu meu material a outra menina, quando disse que aquela era a minha caixa, que havia organizado junto com a minha mãe, ela me repreendeu duramente com um olhar fuzilante e disse que eu não havia levado material, que aquela caixa não era minha. Ela fez aquilo de uma maneira que me fez sentir medo, culpa, vergonha, tanto que demorei a contar em casa. Minha mãe foi a escola e resolveu, mas as marcas ficaram. Esses sentimentos me acompanharam durante toda a vida escolar. Sentia tanto pavor, tanta aversão, que me escondia na hora de vestir uniforme para ir à escola.

Quando maiorzinha, eu dormia na sala para que a professora não me chamasse para leitura. Eu sofria de fobia social, só o fato de estar lá e com aquele monte de pessoas era desafiador, torturante. Desde muito pequena o pediatra dizia à minha mãe que eu precisava de acompanhamento psicológico. Ela diz que meu pai não acreditava que crianças tinham esse tipo de problema. E assim, a base de sofrimento, cheguei ao segundo grau.

 Eu só queria terminar o segundo grau pra poder fugir daquela tortura.

Então descubro que teria que fazer faculdade, seriam mais alguns anos de tortura.

Foi nessa fase da graduação, quando tive aulas de psicologia, que percebi que sim, eu precisava daquele tipo de ajuda, então comecei a me tratar com um psicólogo. As sessões com ele eram difíceis pois eu não conseguia falar, me expor, foram diversas sessões de muita amorosidade e transmissão de conhecimentos, com dicas de leitura, para que eu conseguisse falar sobre o que me levou a procurar ajuda.

Sou eternamente grata a este profissional, pois não tinha nem condições financeiras para arcar com o tratamento e ele me atendia ao valor que eu podia a duro custo pagar; que não chegava nem a metade do valor que ele cobrava na época.

Hoje ao relembrar de tudo fico pensando, o que mais faltou além das balas na lancheira? Ou o que mais eu levei para escola junto naquela lancheira?

Vejo ainda hoje na escola onde levo meu filho, a choradeira no início da transição para a vida escolar, com ele também não foi diferente.

As professoras dizem para as mães sempre a mesma e velha frase “ele para de chorar assim que você sai”. Será mesmo que param ou engolem o choro. E se param, será por medo, culpa, vergonha?

A ida à escola está sendo marcada pela dor, pelo sofrimento, pela separação indesejada. Pela falta de uma transição acolhedora, agradável, familiar, onde a criança tenha tempo para se sentir segura, acolhida, protegida.

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