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O TRABALHO NA VIDA – AS EXPERIÊNCIAS QUE DESPERTAM O SER

O TRABALHO NA VIDA – AS EXPERIÊNCIAS QUE DESPERTAM O SER
Cintia Cristina Silva Rossi
jul. 25 - 30 min de leitura
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Comecei a trabalhar cedo, na loja dos meus pais. O comércio de roupas, acessórios, perfumaria e outras coisas era conhecido como Loja da Dóris, o nome da minha mãe, mas o nome oficial era Vitrine Model.

Eu era criança e já amadurecia habilidades de uma boa vendedora. Também gostava muito de organizar as coisas, tudo no seu devido lugar. Eu era a melhor organizadora do espaço e, na adolescência, já treinava os funcionários. Eu também gostava da parte das compras, escolher as peças em outras lojas ou com vendedores.

Além disso, eu também precisava cuidar do caixa na ausência da minha mãe e fazer banco (depósitos, pagamentos de boletos, cheques). Meu pagamento era feito com mercadorias, minha mãe não gostava de me dar dinheiro, então eu aproveitava para pegar as coisas que eu queria, pois eu sentia a necessidade de ganhar algo, de ter uma troca e, de certa forma, ser reconhecida. Desenvolvi muitas habilidades neste ramo e honro cada uma delas, porém a relação com o dinheiro neste momento foi bem difícil, eu precisava implorar para a minha mãe me dar algum dinheiro ou pagar algo que eu quisesse. Eu me sentia desvalorizada.

Quando eu estava no final do ensino médio, chamado ainda de colegial, falei com o meu pai que eu gostaria de fazer um intercâmbio pelo Rotary e ele me deu todo o apoio. Passei por um processo seletivo e logo o retorno veio: eu tinha conseguido uma vaga para ir para a Holanda.

Prontamente, eu aceitei e comecei a organizar as coisas. Eu não imaginava o que me esperava na Holanda, mas eu tinha um desejo muito forte de embarcar nessa aventura. Minha experiência lá foi maravilhosa, a família que me recebeu era muito gentil. Os pais da casa eram médicos e trabalhavam bastante, mas nem tanto como os médico no Brasil. O pai era professor universitário de medicina e a mãe médica clínica da família. O filho mais velho era enfermeiro e as duas outras filhas eram estudantes de high school. Foi muito interessante conhecer as profissões deles. Lá eu fui para a escola e me dediquei a atividades esportivas e artísticas.

Fiz muitos amigos, viajei bastante, tive um grande acesso à cultura e fiz até alguns trabalhos voluntários, como dar aulas de inglês e português para crianças. Foi um tempo maravilhoso, parecia até um conto de fadas.

Voltei para o Brasil e, definitivamente, eu não era mais a mesma. O tempo e o dinheiro neste período pareciam ser grandes amigos, eram suficientes e eu não precisava me preocupar com nada.

Eu não conseguia mais me adaptar à rotina familiar e pedi para os meus pais deixarem eu ir estudar em algum cursinho pré-vestibular e morar com o meu irmão, que estava fazendo universidade no Paraná. Eles autorizaram e me apoiaram. Foi uma fase muito boa, o dinheiro era contado, mas eu fazia milagres, e o tempo era perfeito, conseguia conciliar os estudos com as diversões com os amigos e com o namoro.

Um ano depois de eu ter me mudado para o Paraná, meus pais se empolgaram para uma nova aventura: resolveram abrir uma choperia e restaurante próxima à cidade que eu estava morando, que era bem longe da cidade que eles moravam. Logo embarquei nessa e fui de mala e cuia para lá, para ajudar no que fosse necessário.

Era muito trabalho, pois era um ramo novo e tivemos que vencer muitos desafios. Logo no primeiro mês, minha mãe não se identificou com o trabalho e resolveu voltar para a loja na outra cidade. Eu e meus irmãos ficamos com o meu pai para apoiá-lo. Aprendi muita coisa nova, fiquei responsável pela publicidade, organização dos eventos e pela contratação dos funcionários.

Eu gostava muito de fazer isso, pois me sentia importante, podia fazer tudo do meu jeito, pois tinha carta branca do meu pai.

Eu tinha 19 anos nesta época e me diverti muito, sem deixar de ser responsável em todas as minhas atribuições. Meu único desafio foi conciliar todo esse trabalho com a vida escolar, eu estava fazendo cursinho pré-vestibular neste momento e deixei o estudo em segundo plano pela primeira vez em minha vida.

Foi então que o destino nos traçou um golpe: meu pai começou a adoecer com uma depressão severa e minha mãe ordenou que vendêssemos o comércio e voltássemos todos para casa. E assim fizemos. Tivemos um imenso prejuízo financeiro, pois não conseguimos fazer uma boa venda. Toda essa aventura tinha acabado, parecia que tínhamos retornado de umas férias muito louca em um cruzeiro, porém meu pai pisou em terra firme muito doente. Foi um choque tudo isso e ter que voltar, pois nesta viagem, a vida parecia uma festa.

O tempo nesta época foi escasso e o dinheiro abundante.

Depois eu fui para a universidade e iniciei um novo trabalho, a pesquisa. Já no primeiro ano consegui uma bolsa de iniciação científica e me senti muito feliz. Eu precisava ter uma renda para ajudar nas minhas despesas, pois o que meus pais me davam era contadinho para as necessidades básicas de moradia, alimentação e transporte.

Além disso, tive a oportunidade de conhecer a área da pesquisa, a qual me identifiquei muito, pois o que eu mais gostava mesmo era de estudar e de aprender. Fui muito valorizada por algumas professoras e me sentia empolgada. Parecia até que eu tinha encontrado algumas mães para aquela fase.

Logo comecei a frequentar congressos e fui conhecendo uma nova vida que me inspirava muito.

Apesar de estudar bastante, eu tinha tempo para tudo, fazia tudo o que eu queria, incluindo lazer e diversão. O sangue de comerciante que corre pelas minhas veias me impulsionou a começar a vender algumas coisas para os colegas da universidade, assim eu poderia incrementar a minha renda e me tornar mais independente dos meus pais. Comecei a vender trufas e algumas roupas que sobravam que a minha mãe deixava eu pegar da loja. Eu estava caminhando bem rumo à independência. Fiz três anos seguidos de iniciação científica e cheguei a publicar alguns artigos. Estava me identificando a cada dia mais com a escrita.

Surgiu uma oportunidade na universidade de vagas para monitores de professores, trabalho também remunerado. Pensei em tentar algo novo, pois eu gostava muito de uma disciplina que chamava psicofarmacologia e sentia vontade de ensinar. Foi a minha primeira experiência na docência e eu amei. A professora confiava muito em mim e eu me sentia exercendo uma habilidade que vinha de dentro.

Tinha tempo e dinheiro suficiente para me sentir satisfeita.

Durante os primeiros anos na universidade, eu também me arrisquei em um novo trabalho, que na verdade era mais um hobby: organizar eventos como festas, encontros e viagens para os meus amigos. Como eu amava fazer isso! Eu conseguia organizar tudo e achava o máximo resolver cada detalhe.

Era uma grande oportunidade de passarmos um bom tempo juntos, de conhecer um lugar legal e acessível para todos e de nos divertimos a nossa maneira. Eu me sentia maravilhada fazendo isso e todos gostavam dos eventos, sempre elogiavam e não viam a hora do próximo acontecer! O tempo e o dinheiro sorriam para a mim nestes curtos períodos em que a magia da vida acontecia.

Resolvi fazer um intercâmbio para a Austrália, queria viajar para algum lugar bonito e aprimorar o inglês, pois sentia que seguiria na carreira acadêmica e o inglês fluente era imprescindível. Meu pai me ajudou com o dinheiro e me deu o maior apoio. À princípio fui apenas para estudar inglês, porém, logo que cheguei naquele lugar, eu não sentia mais vontade de voltar e comecei a procurar trabalho para juntar dinheiro e poder renovar o visto para ficar um ano a mais.

Meu primeiro trabalho lá foi de “cleaner” (limpeza), eu limpava alguns andares de salas de escritórios, tinha que tirar o lixo, passar o aspirador de pó e limpar os banheiros. Foi um trabalho divertido e eu ficava extremamente feliz ao final do dia, pois recebia as horas trabalhadas em “cash”. Logo comecei a pensar outro trabalho que eu pudesse aprender algo novo, já estava me sentindo casada de fazer sempre a mesma coisa. Então fui fazer um curso de barista e “coffee art” para conseguir um trabalho em alguma cafeteria, uma das paixões dos australianos e minha também.

Consegui meu primeiro trabalho nesta área em uma cafeteria bem simples e trabalhava com uma indiana e meus dois chefes chineses. Foram muitos desafios, o local era longe e a indiana sentia muito ciúmes de mim, pois eu era muito decolada e fazia as pessoas rirem o tempo todo, então os clientes pediam sempre para eu fazer o café e ela foi perdendo o espaço dela. Decido procurar outro local para trabalhar, assim evitaria alguma confusão com a antiga funcionária.

Consegui um novo trabalho em uma cafeteria muito legal, fazia mais o meu tipo, era mais descolada, com um movimento bem maior.

Lá eu também aprendi a fazer sanduíches “gourmet” e amei fazer isso, cafés e sanduíches, eu me sentia muito feliz e realizada. Meus chefes eram jovens e coreanos e me valorizavam muito, eles gostavam do que eu fazia e sempre me ofereciam horas extras. As outras funcionárias eram australianas e bem divertidas. Foi um tempo bem legal, fiquei lá até o tempo de voltar para casa e até hoje sinto uma lembrança muito boa desse lugar e dessas pessoas, pensei até que eu voltaria a trabalhar lá.

Chegou a hora de voltar para Santos, eu tinha adquirido novas habilidades no tempo que fiquei na Austrália e queria muito ter minha independência. Consegui um trabalho de professora de inglês em uma escola de idiomas e me senti muito feliz. O salário era bom e eu consegui morar em um local melhor e ter um quarto só para mim. Estava no pique total, não me sentia cansada, estudava de manhã e à tarde, à noite e aos sábados eu trabalhava na escola de inglês.

Foi um tempo maravilhoso, de muita energia e amizades.

No ano seguinte, consegui uma vaga de estágio em psicologia em uma clínica de tratamento e pesquisa de dependência de drogas muito renomada em São Paulo, área que eu queria me aperfeiçoar para trabalhar no futuro. Agarrei a oportunidade com unhas e dentes e me senti muito realizada. Conheci pessoas inspiradoras, que me ensinaram muito, além de amizades maravilhosas que tenho até hoje.

Ao final do estágio, uma grande surpresa: ganhei um certificado de pós graduação por conta do meu desempenho e esforço. Fiquei emocionada com essa surpreendente valorização. Finalizei a graduação e, ao mesmo tempo, ganhei um certificado de pós graduação.

Comemorei muito isso.

Meu sonho era abrir minha própria clínica de psicologia e eu falava isso para os meus pais. Minha mãe, pensando em me ajudar a prosperar, fez uma proposta de investir em uma loja para eu cuidar em Santos, em algum local que eu pudesse conciliar com o meu projeto de clínica e iniciar minha atuação profissional.

Eu aceitei a proposta, alugamos um sobrado e fizemos uma loja no andar térreo e no andar superior a clínica, em fase inicial, com duas salas de atendimento.

Iniciei meus atendimentos clínicos desta forma e assim tive os meus primeiros clientes. Era muito trabalho conciliar a clínica com a loja e eu não dei conta. Também comecei a perceber que eu já não gostava mais de trabalhar como comerciante, não me motivava mais fazer esse trabalho. O plano não deu certo e decidimos vender a loja. Tive que parar com o projeto da clínica, pois eu precisava sair do lugar para que o novo proprietário assumisse o imóvel. Me senti triste e frustrada.

Além dos planos não saírem conforme eu imaginava, tivemos um grande prejuízo na venda da loja.

Com muita fé, reiniciei meus planos da clínica de outra forma. Subloquei um período de atendimento em um consultório em São Paulo, uma vez na semana, e fiz o mesmo em Santos, também uma vez por semana. Retomei meu trabalho clínico com mais humildade, esse foi o meu maior aprendizado.

Eu tinha uma boa relação com o tempo nesta fase e o dinheiro era gratificante, porém eu ainda não tinha conquistado a minha independência financeira e ainda contava com a ajuda dos meus pais.

Sentia que faltava algo e decidi iniciar o mestrado. Consegui uma vaga e uma bolsa com facilidade. Eu me sentia feliz fazendo a pesquisa e me dediquei com muita força.

Estudei a vida dos usuários de crack em situação de rua, a relação com a droga, com a rua e o acesso aos tratamentos disponíveis na rede. Foi um enorme aprendizado, olhar para aquelas vidas e dedicar meu tempo a eles. Eu não consigo nem expressar com palavras o quanto que eu aprendi. Passei mais de um ano com eles, observando a rotina, fazendo entrevistas, conhecendo os lugares que eles frequentavam em Santos, comecei até a me vincular com alguns e eu achava isso incrível.

Fui muito valorizada pelo grupo de pesquisa e por minha orientadora e até ganhei um cargo de coordenadora do grupo. Minha orientadora tinha muita confiança em mim e me pedia para ministrar algumas aulas para o grupo e até em algumas disciplinas que ela ministrava na universidade. Eu me sentia extremamente realizada.

Nesta fase, o tempo tinha um valor enorme para mim, eu sentia que o usava para um nobre propósito, talvez divino, e o dinheiro começou a render bastante, mesmo sendo o mesmo valor.

Foi então que eu me senti sem chão, o destino tinha me preparado um belo golpe: fui traída e abandonada pela pessoa com quem estava vivendo um sólido relacionamento. Foi terrível, senti que minha vida tinha acabado. Eu não entendia o que estava fazendo de errado. Eu não conseguia mais trabalhar, meu desempenho no grupo de pesquisa caiu enormemente e a única solução que eu via naquele momento era sair daquele lugar.

Eu precisava do meu lugar. E resolvi voltar para a casa dos meus pais. Eles tinham acabado de se mudar para Ilha Comprida, com o propósito de terem uma vida mais simples e natural. Fui acolhida pelos meus pais e por toda a natureza deste lugar.

Minha recuperação foi rápida. Logo consegui retomar o mestrado, eu já estava finalizando a tese e já tinha cumprido todos os créditos. Deixei um currículo na prefeitura deste município e logo me chamaram. Eu não conhecia ninguém, mas eu estava super aberta para começar algo novo.

A diretora de saúde e o prefeito me contratam e me solicitaram que eu trabalhasse na regulamentação e na implantação de um projeto de saúde dos adolescentes. Eu nunca tinha trabalhado no setor público e não sabia muito bem como funcionava. Mas aceitei a proposta e me dediquei com imensa força neste projeto.

O projeto ficou maravilhoso, se estendendo para outros setores, integrando saúde, educação e social. Foi inclusive reconhecido e premiado pela OPAS nesta época. Após a inauguração, o pesadelo começou. Me vi encurralada por pressões e interesses políticos. O projeto não acontecia como estava determinado e eu fiquei irada com essa situação.

Comecei a firmar o meu ponto de vista para todos os gestores e políticos e acabei sendo demitida. Eles sabiam que eu não ia me envolver com nada que estava fora dos meus ideais de um mundo melhor. Essa fase foi uma escola, pude aprender como funciona a política e as pessoas que fazem parte dela, pude compreender profundamente a problemática que vivemos neste sistema, foi como um despertar para mim.

Eu honro esse tempo e o dinheiro que recebi neste momento, pois, apesar de tudo, um espaço foi construído para os adolescentes, existindo até hoje, pois foi validado enquanto lei municipal. Também tive muito aprendizados, e honro a cada um.

Espalhei alguns currículos pela região e logo fui chamada para a regulamentação e implantação de uma comunidade terapêutica para dependentes químicos na mesma cidade, no setor privado. Me senti empolgada e muito esperançosa de trabalhar em um projeto que realmente pudesse acontecer.

Me dediquei profundamente e logo o local começou a funcionar. Fui recontratada com uma nova função: capacitar a equipe de trabalho para exercer as atribuições e alcançar as metas do projeto.

Foi aí que começaram os desafios.

O diretor administrativo, que também era um dos sócios da empresa, começou a impor um treinamento diferente do que estava no projeto de capacitação e começamos a vivenciar algumas discussões sem chegar a comum acordo. Então decidi pedir as contas, pois eu estava percebendo que ali também existiam interesses próprios, que não eram os mesmos descritos no projeto.

Saí extremamente frustrada e preocupada com o rumo que o projeto iria tomar. Entreguei para Deus a solução, pois nada mais estava em meu alcance. Mais uma vez, foi um grande despertar para mim, agora no setor privado. Foi uma grande decepção e tristeza e precisei de um tempo para entender tudo isso.

A minha relação com o tempo nesta fase foi boa e com o dinheiro também.

Fui chamada pela secretária de saúde para um trabalho no CAPS-I em outro município, perto de onde eu morava. A equipe gestora parecia diferente da equipe do outro município, com interesses mais nobres. A proposta foi que eu trabalhasse na regulamentação do projeto do CAPS-I e na capacitação da equipe de trabalho. Apesar de estar desiludida com os trabalhos anteriores, resolvi aceitar, pensando que poderia ser diferente e eu queria acreditar nisso.

Em um mês conseguimos a regulamentação do serviço e me senti muito feliz com essa conquista. O município voltou a receber o recurso destinado para esse fim. Só que um problema já se manifestou, os nossos salários estavam atrasados, o meu e de todos da equipe. A gestora pediu alguns dias para resolver essa situação e esperamos.

Comecei a capacitar a equipe, porém todos se sentiam desmotivados, pois não estavam sendo pagos.

A gestora nos chamou para uma reunião e explicou a situação, disse que a empresa terceirizada que fazia o pagamento para a equipe de saúde tinha falido e por isso tinham contratado outra empresa, pediu que tivéssemos paciência que em poucos dias a solução iria se solucionar e que fariam todo o pagamento atrasado. Me dei um mês de prazo para esperar por essa promessa, que não se cumpriu.

Então pedi as contas.

Muitos profissionais de saúde também tinham pedido as contas, estava um caos o departamento de saúde. Logo após descobrimos que se tratava de um esquema de corrupção e tínhamos sido vítimas deste esquema. Uma grande dor me dominou. Chorei muitos dias, de tristeza. Eu estava enxergando claramente como as coisas funcionavam na política do nosso país.

Os meus pensamentos mais frequentes eram:

“O que posso fazer para ajudar as pessoas a terem uma vida melhor? Como posso me empoderar para de fato contribuir para a humanidade?”. A minha relação com o tempo nesta fase foi boa, porém a minha relação com o dinheiro ficou na ausência. Estava eu retornando para a minha infância? Acredito que sim.

Me veio um ar inspirador e deixei um currículo em uma faculdade privada. Acreditava que eu tinha que focar na formação das pessoas, compartilhar os meus conhecimentos com os estudantes. Logo me contrataram. Comei a lecionar em uma faculdade próxima à cidade que eu residia. Eu estava empolgada.

Pude escolher as disciplinas que eu mais tinha afinidade e a dar aula para turmas de psicologia, enfermagem, educação física e fisioterapia.

Me dediquei muito para planejar aulas incríveis. Os alunos tiveram uma conexão muito forte comigo e comecei a chamar a atenção de outros professores nesta instituição. Criei o programa de iniciação científica que não tinha ainda nesta faculdade e ajudei a coordenadora em muitas tarefas além da docência. Foi uma fase de trabalho árduo, o tempo era escasso, pois eram muitas tarefas. O dinheiro também era bastante limitado, pois é uma instituição que não valoriza a qualidade dos professores e paga baixos salários.

Mas eu estava gostando muito de ensinar e também de aprender com os alunos e com as experiências do dia-a-dia. Com as discussões que fazíamos em sala de aula, os alunos começaram a se empoderar e a compreender sobre o nosso lugar no mundo. Eu estava gostando dos resultados.

Tinha certa autonomia e aparentemente tinha liberdade de me expressar e ensinar o que é certo. Foi quando um belo dia fui assediada por um diretor de assuntos institucionais que eu não conhecia, que me proibiu de ir para a sala de aula e pediu que eu fosse direto para a coordenação.

Eu não imaginava o que tinha acontecido e pensava se tratar de um equívoco. Chegando na coordenação a coordenadora estava indignada e questionou a minha postura, falando que eu tinha cometido um grande erro e que era inadmissível esta situação.

Me mostrou uma postagem do facebook de um aluno de psicologia reivindicando melhor estrutura na faculdade, após uma aula minha, postagem essa que eu tinha curtido. Todo esse alvoroço era porque eu tinha curtido uma postagem com uma mensagem real de um aluno. Mas a questão não foi essa, é que esse aluno conseguiu mais de três mil curtidas e mais de mil compartilhamentos de sua mensagem e a instituição estava me acusando, implicitamente de ser a “cabeça” da situação.

Nossa, uma bomba tinha me atingido após um furacão ter passado por lá. Fui coagida a pedir as contas e ameaçada. Conversei com alguns amigos da região sobre o que fazer e me orientaram a não entrar na justiça, por se tratar de uma instituição perigosa e de muito poder político. Tive que engolir tudo isso e fiquei pensando qual era o propósito que Deus tinha para mim, pois o meu desejo verdadeiro era apenas fazer algo bom para a humanidade.

Os alunos ficaram indignados com a minha saída, fizeram um protesto na instituição para pedir o meu retorno e a demissão da coordenadora, que tinha me perdido. Foi mágico ver o apoio dos alunos, pois estes sempre foram o meu maior alvo. A faculdade nunca se redimiu e até hoje meu acesso aos seus ambientes são restritos.

Bora recomeçar!

Enquanto eu puder renascer, nunca será tarde para viver. Senti de embarcar em um novo ramo. Estava em um relacionamento com uma pessoa que era chef de cozinha e decidimos criar algo junto. Eu sempre gostei de cozinhar, que é meu grande hobby, e também tinha passado por uma grande transformação na minha alimentação e sentia falta de encontrar os produtos que eu consumia na minha cidade.

O sangue de empreendedora estava pulsando e iniciamos um projeto de um restaurante e uma loja de produtos naturais, o Panapaná. Contratamos consultorias diversas e começamos a nos capacitar no ramo.

Estava quase tudo pronto para iniciar, foi um ano de dedicação, encontramos um bom local e já tínhamos o projeto pronto para acontecer, faltava só encomendar as instalações e equipamentos e comprar o estoque. Mas o destino não permitiu que isso acontecesse e o relacionamento acabou. Fui abandonada outra vez, pela mesma pessoa do passado, e eu não quis executar o projeto sozinha, minha vida tinha se desmoronado mais uma vez.  

Foi um processo extremamente dolorido caminhar de novo. Com a ajuda dos meus pais e de um xamã que tinha conhecido há poucos anos, as coisas começaram a fluir novamente. Essa parte eu ainda não contei, mas também faz parte da minha jornada profissional.

Há dois anos eu conheci um grupo de xamanismo siberiano.

O mentor do grupo, um xamã da Sibéria, quis me conhecer e pediu que eu organizasse um evento para ele. Eu não imaginava como ele sabia desse meu talento de organizar as coisas. Ele me disse que toda vez que ele viesse para o Brasil, ele gostaria de fazer alguma atividade em Ilha Comprida, pois tinha sentido que a natureza neste lugar tinha uma imensa força.

Entrei de cabeça nesse universo xamânico e me identifiquei muito. Organizei um ou dois eventos ao ano para ele ou alguém do seu grupo, imersões e retiros xamânicos e fui me aperfeiçoando neste trabalho. Foram cinco anos de uma ótima parceria, até pouco tempo antes de eu iniciar o meu ano sabático (explicarei isso mais a frente), organizei o último evento para o grupo, um retiro maravilhoso em um local de grande força e poder.

Foram muitas curas. Aprendi muito com esse grupo, em uma profundidade inexplicável. Era uma aprendizagem prática. Foi um tempo maravilhoso, que honrarei até a eternidade. O dinheiro era pouco, porém milagrosamente abundante, uma grande magia, que eu também não consigo definir com palavras.

Decidi abrir um consultório nesta cidade e reiniciar o meu trabalho clínico. Esta fase foi maravilhosa e abundante, minha agenda logo preencheu e eu precisei estender o trabalho para a cidade que eu morava, foi então que abri outro consultório.

Eu me sentia muito satisfeita e realizada.

Foi quando senti de ampliar o consultório de psicologia para uma clínica integrativa, que eu chamei de Espaço Humani.

Integrei todas as terapias e atividades que eu valorizava ou sentia que era uma necessidade de algum cliente: yoga, massoterapia, constelação familiar, renascimento, quiropraxia, acupuntura, reiki, dança, canto, xamanismo, fitoterapia, sagrado feminino entre outras. O espaço estava crescendo e ganhando força. Estávamos em 14 profissionais.

Dos atendimentos, crescemos para cursos, imersões e retiros. Tudo estava indo de vento em polpa. O tempo era curto e passava rápido, eram tantas atividades e funções para se realizar, mas eu me sentia com força total e extremamente realizada.

Parecia um grande sonho. Eu tinha até tempo para viajar e curtir com os amigos. 

O dinheiro era abundante e adquiri muitos bens materiais nesse período. Até que um dia, voltando de uma viagem, estava chovendo muito, entrei no imóvel e percebi que estava tudo alagado e o teto estava com muitos vazamentos.

Era um prédio comercial recém-construído e parecia não ter explicação para o que estava acontecendo. O proprietário do imóvel chamou um engenheiro para avaliar a situação e a laje foi condenada. O proprietário não iria fazer os reparos necessários e eu não queria arriscar ficar naquele local. O Universo pediu que a água me tirasse daquele local, na hora eu fiquei perplexa com a situação, tentando compreender os sinais. Procurei outro imóvel, mas nenhum me atendia naquele momento.

Meu pai me ofereceu uma parte do seu imóvel comercial, um escritório imobiliário, para que eu pudesse prosseguir com meus atendimentos e algumas atividades, e eu aceitei. Fiquei muito pensativa após esse episódio, que rumo profissional eu deveria tomar.

Continuei com os atendimentos clínicos nas duas cidades, mas confesso que perdi um pouco da minha força vital. Eu já não tinha mais tanta força para trabalhar todo o tempo que eu trabalhava antes e comecei a enxugar a agenda. Comecei a me sentir cansada.

O dinheiro continuava abundante, pois tinha reduzido muitas despesas com imóvel e funcionários. Logo chegou a pandemia e eu senti que precisava parar um pouco e repensar sobre tudo.

Resolvi tirar um ano sabático e dedicar o meu tempo exclusivamente para mim. Vendi meu carro e um terreno que tinha adquirido nesse tempo para quitar o financiamento que tinha da minha casa e ficar com algum dinheiro para suprir as minhas necessidades. Foi então que iniciei o curso de constelação e aqui estou.

Foram sete anos e diversos trabalhos. Um grande ciclo de aprendizagens. Percebo que meu tempo foi bem utilizado, porém um tanto exaustivo em alguns momentos. O dinheiro não me faltou e, mesmo quando era pouco, eu não sentia falta dele, pois nada me faltava.

Viajei bastante e fiz até investimentos.

Compreendi que a decisão do ano sabático foi essencial e na hora certa, pois estou passando por uma fase de cura profunda e de reorientação e integração teórica para o trabalho. Eu sinto uma coisa muito boa com relação ao futuro, por isso me entrego de corpo e alma, seguindo o movimento da alma e guiada pelo grande espírito.

Aho!

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