Saber Sistêmico - Comunidade da Constelação Familiar Sistêmica
Saber Sistêmico - Comunidade da Constelação Familiar Sistêmica
Você procura por
  • em Publicações
  • em Grupos
  • em Usuários
Constelações SistêmicasVOLTAR

OS CONTOS DE FADAS NO SISTEMA FAMILIAR

OS CONTOS DE FADAS NO SISTEMA FAMILIAR
Sarah Borges
jul. 25 - 5 min de leitura
020

A história da Cinderela foi o conto de fada que primeiro veio à minha mente, quando da proposta de escrever sobre o assunto.

Quando criança, eu era apaixonada por histórias infantis, contos de fadas e desenhos amimados. Nós tínhamos uma coleção de livros de histórias infantis com versões famosas e outras menos conhecidas, que eu li e reli por anos a fio. As tradicionais vinham com o disco para ouvir na radiola, e eu passava horas desfrutando da emoção das viagens imaginárias que este hobby me proporcionava.

Nas minhas viagens relacionadas a conto de fadas, proporcionadas através da leitura, áudios ou filmes, eu ficava extremamente emocionada, a ponto de sentir o coração apertado. Minha imaginação me conduzia a lugares distantes, e eu sempre me colocava no papel da personagem central da história, assimilando todas as emoções positivas e negativas vivenciadas ali.

O conto da Cinderela e também outros, sempre tocaram profundamente a minha alma, a ponto de aparecerem nos meus sonhos. Não era algo natural como para os meus irmãos que ouviam e iam embora. Eu continuava lá, presa no enredo como se eu fosse parte daquilo tudo. Eu entendo que a imaginação da criança permite que façamos estas viagens, mas olhando da visão adulta de hoje, eu percebo que não se tratava só de diversão.

Como já mencionei em outros momentos, minha avó materna faleceu no parto e meu avô paterno faleceu quando meu pai tinha quatro anos de idade. Com a compreensão sistêmica que eu tenho hoje, percebo que a orfandade materna e paterna está refletida nos sintomas de depressão, ansiedade, melancolia e tristeza como se gritassem: Papai! Mamãe! Onde vocês estão?

Trazendo para a história, Cinderela era órfã de mãe e precisou se submeter às ordens da sua madrasta pois seu pai casou-se novamente para lhe dar um lar.

Pelo que eu me lembre, seu pai nunca estava presente, ressaltando aí a ausência das figuras materna e paterna, contribuindo para a insegurança e desproteção total, e a sensação de solidão e de vazio que nunca consegui explicar o porquê.

Quando ela é obrigada a fazer sozinha todo o serviço da casa, enquanto as outras filhas ficavam livres de qualquer incumbência, isto retrata claramente dinâmicas abusivas de trabalho infantil e escravo, além da exclusão e discriminação que as minhas tias e tios passaram durante a infância.

Enquanto traço o paralelo do conto com a minha história familiar, sinto que estou fazendo o caminho de volta para a casa. Meus tios foram todos espalhados inclusive a caçula foi para a adoção e isso ressoa como uma dor muito profunda que ainda não consigo comentar totalmente isenta de sofrimento.

O apelido de Gata Borralheira casa perfeitamente com a minha tia que morou na casa de uma tia avó, que dormia ao lado da cozinha e servia toda a casa a qualquer hora do dia ou da noite. Era a primeira a acordar e a última a dormir, e é assim até hoje, pois tendo alcançado uma confortável situação financeira, continua a realizar as mesmas atividades domésticas, inclusive cozinhando no fogão a lenha, e não se permite olhar para a própria saúde.

Outro aspecto que me chama atenção no enredo, é que todos os fatos giram em torno do feminino. A ausência do masculino é gritante, reforçando a ideia de que as famílias eram basicamente formadas por homens alheios ao que realmente acontecia dentro de casa, e eram responsáveis apenas pela participação financeira.

E as mulheres, ou se viravam sem eles e assumiam os dois papéis, ou passavam a vida à espera de um homem imaginário e perfeito que fosse realizar todos os seus desejos, para então serem felizes para sempre.

As mulheres estavam divididas em duas classes distintas: as nobres que tinham direito e acesso a tudo de bom e de melhor, e as miseráveis, condenadas a passarem a vida no trabalho duro e na ilusão de que uma fada madrinha viria salvar e colocar no colo do príncipe encantado. Quantas gerações de homens e mulheres passaram por tantas dessas dores, para que hoje possamos desfrutar de novas possibilidades, de novas escolhas?

Olhando para trás, vou aos poucos fazendo as pazes com tudo isso, ressignificando a minha história e trazendo paz para o meu coração aflito, pelas dores da criança ferida que sonhava em ter poderes mágicos e tirar todos da dor, do sofrimento e da orfandade.

Com gratidão, eu me volto para os meus antepassados e aceito tudo o que foi como foi. Faço as pazes com esta história tão linda que possibilitou que a vida chegasse até mim.  Agora estou no caminho de volta para casa!

Sou Pura Gratidão!

#mod06

Participe do grupo Constelações Sistêmicas e receba novidades todas as semanas.


Denunciar publicação
    020

    Indicados para você


    Saber Sistêmico - Comunidade da Constelação Familiar Sistêmica

    Verifique as políticas de Privacidade e Termos de uso

    A Squid é uma empresa LWSA.
    Todos os direitos reservados.