Os sintomas são bem constantes em meu sistema familiar. Todos nós carregamos muito por nosso sistema. Eu nunca tinha me dado conta disso antes de conhecer a sistêmica, mas hoje, com uma consciência mais ampliada, passo a observar como o que parecia ser tão normal, me mostra o quão emaranhados somos.
Agora eu sei o quanto a orfandade, vínculo do amor interrompido estão presentes em minha família. Vêm a tona através dos sintomas da depressão, problemas financeiros, insegurança, medo de avançar. Nunca tinha me dado conta disso.
Passei a minha infância ouvindo as queixas dos meus pais. Era uma dor aqui, outra ali, uma alergia de cá. Foi a vida toda assim. Eu como criança me sentia impotente, insegura, tinha medo de perder os meus pais.
Por causa disso tive algumas dificuldades na escola. Eu estava na escola, mas a minha mente estava em casa. Eu me preocupava muito com os meus pais. A minha mãe tinha crises de enxaquecas que duravam mais de um dia. Minha mãe gemia de dores, nenhum remédio passava. Eu ficava aflita ao ver a minha mãe naquele estado. Eu não tinha paz, isso era constante em minha vida. Tive que conviver com isso por muitos anos.
Um dia a minha mãe passou tão mal que ela me chamou e se despediu de mim, como se fosse morrer. Eu fiquei em desespero, traumatizada com aquela situação. Meu único alento era orar para que Deus e nossa Senhora curasse a minha mãe daquele problema. Não tinha uma noite que eu não rezasse por ela.
E assim foi passando o tempo e eu fui ficando adolescente, me tornei uma pessoa insegura. Minha mãe ficou boa das enxaquecas, Deus ouviu as minhas orações. Mas eu fiz algo que só fui me dar conta depois que descobri a sistêmica.
Eu, mentalmente pedi a Deus para dividir com a minha mãe a carga dela. Eu queria poder ajudar ela de alguma maneira, cuidar dela. Achava que minha mãe não aguentaria carregar tanto.
Eu inverti a ordem e paguei um alto preço. Me apareceram várias doenças autoimunes. Eu sofri muito, e não consegui resolver os problemas da minha mãe.
Minha mãe continuou com os vários sintomas. Ficou boa da enxaqueca, mas apareceram outras coisas como os probleminhas, sintominhas.
Meu pai nunca foi de se queixar tanto, mas ao chegar a uma certa idade, começaram a aparecer uns probleminhas também.
Hoje eu tenho uma consciência mais ampliada, me coloquei no meu lugar de filha, pois passei a ver a realidade, não posso ser maior do que os meus pais, eles são adultos, são grandes e eu sou pequena. Não tenho como carregar por eles, isso é inversão de ordem.
Hoje, continuo ajudando os meus pais, mas permaneço no meu lugar de filha.
A minha avó materna ficou órfã de mãe e de pai, a mãe dela faleceu no dia em que deu a luz a ela, o meu avó faleceu em período de guerra, vovó ficou viúva do primeiro esposo, perdeu 2 filhos crianças e depois perdeu 1 filho adulto, teve 2 abortos. Sei bem pouco da história da minha avó. Não sei bem a origem dela, apenas que a mãe era francesa ou descendente de francês e o seu pai era alemão. Tudo sem muitos detalhes.
Um dia desses eu chorei tanto de soluçar ao lembrar da minha avó e de tantas perdas que ela teve, foi um choro profundo. Eu nunca tinha me dado conta disso, do quanto deve ter sido doloroso para ela ter passado por tantas perdas e continuar sendo uma mulher forte e guerreira, que amava ajudar o próximo.
Eu sentir que chorei o choro que ela nunca pode chorar. Estava entalado em minha garganta, eu sempre sentir muita dor na garganta e depois desse choro eu me sentir aliviada e a dor de garganta passou.
Meu sistema familiar é órfão. Hoje eu entendo a raiz dos diversos sintomas. Agora eu sei!