Compartilhando fragmentos do livro: "A Simetria Oculta do amor" Bert Hellinger - 6ª ed. Ed. Cultrix: São Paulo, 2006
A primeira ordem do amor sistêmica entre pais e filhos é o fato de os pais darem e os filhos receberem.
(...) Os filhos, inconscientemente, aspiram igualar os pais no sofrimento. Seu vínculo amoroso é tão forte que os cega e eles não conseguem resistir à tentação de zelar pelos pais assumindo-lhes a dor. Embora façam isso por amor e acreditem que estão praticando o bem, passam a comportar-se como pais de seus pais e dramatizam os medos destes prejudicando a si mesmos.
Este amor cego protege os vínculos com os pais, mas atuando como pais e tentando dar-lhe ao invés de receber deles, invertem o fluxo do dar e receber e, inadvertidamente, perpetuam o sofrimento.
O amor entre pais e filhos obedece a uma hierarquia, no interior da família, que exige que eles continuem como parceiros desiguais: os pais dão, os filhos recebem. Assim, segundo a terceira Ordem do Amor, tudo vai melhor quando os filhos são filhos e os pais são pais – ou seja, quando a hierarquia familiar, baseada no tempo e na função, é respeitada. (p.103)
A ordem do dar e receber, numa família, é invertida quando os pais não receberam o suficiente de seus próprios pais, ou quando não deram nem receberam o bastante na parceria. Então anseiam para que suas necessidades emocionais sejam satisfeitas pelos filhos, que passam a sentir-se na obrigação de atendê-los. Neste caso, os pais recebem como filhos e os filhos dão como pais. Em vez de passar dos mais velhos para os mais novos, o dar e o receber vai contra o fluxo da gravidade e do tempo. (p.109)
Quando os pais são carentes emocionalmente, convém voltar-se um para o outro ou para seus próprios pais. Quando eles recorrem aos filhos para se sentirem confortados ou tranquilizados, os papéis e funções da família são invertidos. Isso é parentificação – filhos assumindo um lugar de pais para com seus próprios pais. E eles não conseguem se proteger contra semelhante processo.
Todos sofrem e a família adota um esquema em que os filhos se sentem responsáveis pelos pais e os pais esperam dos filhos um comportamento de parceiros adultos. Os filhos passam a gozar de uma importância exagerada e inadequada na família e estão destinados a fracassar porque nenhum filho é capaz de preencher o vazio e a necessidade emocional do pai ou da mãe(...)
Dá se a parentificação quando um filho assume a posição de pai. Isso tem mais alcance porque não estamos considerando apenas um filho em particular, ou o que ele possa sentir, e sim a dinâmica do sistema familiar como um todo, quando se pode vislumbrar padrões ao longo de várias gerações.
Por exemplo, uma mulher tinha forte ressentimento irracional contra a filha. Examinando o sistema familiar, ela lembrou-se de que se ressentia contra a mãe e percebeu que o ressentimento em relação a filha era exatamente o mesmo. O amor emaranhado à mãe sufocou o amor à filha.
Eis aí a parentificação como dinâmica familiar. Ela vai além do mero sentimento individual, e por isso devemos tentar descobrir o que acontece com toda família. (p.110,111)