As relações conjugais mais antigas das quais me lembro são as dos meus avós paternos. Minha avó paterna foi a segunda esposa do meu avô, pois a primeira havia falecido. Lembrar do relacionamento dos meus avós paternos não me trazia nada de especial, e o que eu percebia era a relação de parceria, algo que quase como uma obrigação, um cuidado necessário entre eles, porem era uma situação aceitável para um casal da época, não existia violência porém não existia demonstração de amor, pelo menos eu nunca as presenciei.
Essa era uma lembrança da qual não via nada de especial quando se tratava de relacionamento conjugal. Nada de que eu gostaria de imitar, então não imitei.
Relações conjugais, foi algo que sempre foi deixado de lado, e que nunca foi olhado sobre uma perspectiva da verdade pois inconscientemente já existia uma ideia formada a respeito, uma ideia que veio da infância com meus pais. E essa ideia não estava explícita de forma consciente, ou seja, não tinha clareza a respeito, existia um vazio, uma incógnita quando se pensava nisso, sim estava profundamente escondido no inconsciente apenas para evitar qualquer tipo de dor, uma auto proteção e que trazia um certo conflito nas relações afetivas de forma que, conscientemente sempre existiu a vontade de encontrar alguém com quem pudesse me sentir segura e viver uma vida relativamente feliz.
Mas isso torna se uma grande ilusão quando uma pessoa é nascida em um lar disfuncional, onde um relacionamento abusivo era o exemplo a ser vivenciado dia a dia, por mim e meus irmãos.
Quando as lembranças atreladas ao relacionamento dos pais, são memória de violência física, emocional , intolerância, ciúmes excessivo e submissão, e dessas lembranças não exista amor, apenas dor e medo por todos os lado, não se pode esperar bons relacionamentos no futuro.
E após ter experienciado isso quando criança, os pensamentos mesmo que inconscientes são, eu nunca vou permitir que isso aconteça na minha vida. Ninguém terá a chance de fazer o mesmo que foi feito no passado. E quando me libertar dessa vida de medo e violência, eu serei livre pra viver do meu jeito.
E ao fazer essa escolha não percebi que também estava escolhendo viver sozinha ou pior, escolhendo atrair apenas relacionamento destinados ao fim depois de alguns meses, porque essa era uma maneira de viver a vida, na qual não existiria casamento ou relacionamento saudável, pois eu não conheci relacionamento saudável. Então, como reproduzir algo que você não conhece, não vivenciou, não aprendeu?
Tudo isso ainda foi somado ao que se ouve da sua mãe ou por outras mulheres próximas. Frases como: homem é tudo igual, homem não presta, eu nunca deveria ter me casado.
E quando com frequência, uma menina escuta isso, automaticamente fica subentendido que o melhor mesmo é ficar sozinha, porque o contrário disso não existe. E assim foi feito até o presente momento.
A ideia de que relacionamento machuca, de que não existe casamento feliz e tantas outras crenças, ficaram de uma forma tão sólidas que se criou um véu sobre a verdade dos relacionamentos abusivos. As duas partes têm responsabilidades, não só o homem, mas também a mulher.
E agora com uma clareza incontestável vejo que inconscientemente eu disse não para qualquer relacionamento conjugal, isso foi escolhido por aquela menina que não sabia que poderia ser diferente em felicidade dos meus pais ou dos seus avós, e ainda assim continuar pertencendo ao seu Sistema Familiar.
Porém agora eu sei de forma consciente e inconsciente que é possível sim, viver um relacionamento de forma funcional, com respeito, amor e cumplicidade.
Após essa clareza ter vindo à tona eu olho com compaixão e sem julgamentos para as dores dos relacionamentos. Respeito o que cada um viveu e sofreu no decorrer da vida e para honrar a cada um deles farei diferente, viverei com amor e sem lealdades invisíveis e visíveis, pois deixo com eles o que é deles para assim viver a vida com leveza e amor.