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POR QUE ISSO ACONTECE COMIGO?

POR QUE ISSO ACONTECE COMIGO?
Ana Lucia Felicio
mai. 14 - 13 min de leitura
010

No módulo seis da Formação Real estudamos acerca dos “temas existenciais”. De acordo com a  Mestra Olinda,  esses temas afetam  a vida de todas as pessoas.

Tratam-se de situações aparentemente “normais” e inofensivas,  porém, no dia a dia trazem sofrimentos e desconfortos que retiram a alegria e o prazer de viver.

Entre tantas situações considera-se que:  a  melancolia, a angústia, a ansiedade, a depressão, a insônia, os sonhos, os pesadelos e até os contos de fadas que nos atraem, na verdade, podem significar indícios dos sintomas e emaranhamentos que carregamos, e, que o emocional traz à tona.

Conforme a Mestra Olinda nos explica, o sintoma “não acontece por acaso,  acontece sim, devido a memórias pessoais ou transgeracionais atuando no corpo físico no aqui e agora”.    E, muito do que se repete  nos sonhos e pesadelos, merece atenção e cuidado, pois,  além do aparente, existe uma razão e uma conexão maior em tudo que experimentamos e vivenciamos no cotidiano da vida. 

Em uma das aulas, a Mestra aborda sobre os “contos de fadas e história infantis” e, nos sugere escrever sobre algum personagem que gostamos. É interessante perceber que até mesmo um conto de fadas que aparentemente é um relato inocente, revele histórias e traumas que precisam ser examinados.

Na minha história de vida pessoal, não me recordo em nenhum momento sobre conto de fadas ou histórias infantis. Entretanto, trago  no meu imaginário e lembrança uma canção popular que ouvi numa brincadeira de roda, e que norteou o meu olhar para a personagem da qual, imagino que tenha dado origem a cantiga,  “Teresinha de Jesus”.

Recordo-me que a minha mãe não me deixava ir brincar com as crianças das famílias vizinhas, mas, de frente à casa onde morávamos havia um grande terreiro gramado. Às vezes, as meninas iam até lá onde eu estava para brincarmos juntas. Então, eu gostava muito da brincadeira de roda e sobretudo de ouvir a canção Teresinha de Jesus.

Depois que minhas colegas iam embora eu sempre ficava pensando e curiosa para saber quem era e qual era a  verdadeira história de Teresinha de Jesus, isso, quando eu tinha em torno de 5 e 6 anos de idade.

Coincidência ou não, um dos primeiros livros que li quando eu aprendi a ler, entre meus 12 e 13 anos de idade, foi “História de uma Alma”. Fiquei encantada! Anos mais tarde, no primeiro centenário da morte de Santa Teresinha, em 1997, fui presenteada com o referido livro e vários cartões postais lançados na ocasião, além disso, em vários outros momentos fui agraciada com algum mimo ou milagre que me vem desta linda Santa.

Como bem sabemos, Marie Françoise Thérèse Martin, conhecida popularmente como Santa Teresinha do Menino Jesus, foi uma monja carmelita francesa que viveu no Carmelo de Lisieux no século XIX.

Segundo os relatos autobiográficos de S. Teresinha do Menino Jesus, em seu livro História de uma Alma, ela perdeu a sua mãe aos três anos de idade. A partir daí, ela passou a ser cuidada pelo seu pai, o qual ela muito amava e a quem ela chamava de “meu rei”; e por suas irmãs, às quais ela  devotava grande amor e que, posteriormente, ela,  as seguiram na vida religiosa carmelitana. 

Quanto à canção de ninar - Teresinha de Jesus - existem apreciações, paródias, análises e reflexões interessantes.  Segundo os dados de uma publicação (do blog Mega Arquivo) a cantiga é de autoria desconhecida, contudo, “trata-se de uma “charamba” originária da Ilha da Madeira que remonta ao Portugal rural e cristão do século dezenove”.

Segundo o Portal Educação:  “as cantigas de roda constituem pontos comuns entre várias gerações de crianças”… reunem tradições orais e aspectos culturais de inúmeros grupos e povos. Através destas cantigas e danças pode-se observar os costumes, a vida cotidiana, as crenças e identificar inúmeros fatores, atributos e comportamentos  socialmente definidos e imputados às pessoas. 

No artigo “Metamórphosis em “Terezinha de Jesus”” a autora (Brito, Terezinha Maria de) faz a seguinte análise e observação:

"Como tantas outras cantigas, “Terezinha de Jesus” foi criada para divertir ou acalentar as crianças. Entretanto, descobrimos, numa segunda fase da vida, que o lúdico não reside na magia da brincadeira, mas no jogo de sedução que ela expressa.

De cantiga de roda ou de ninar ela se transforma em canto cortês…  Ao longo do tempo, nota-se, que essa canção vem sofrendo transformações estruturais ao longo de sucessivas gerações...

Suas metamorfoses se realizam não apenas com a transmutação da cantiga de ninar - brincadeira de roda em canção cortês e em paródia, mas, também com a evolução da personagem feminina Terezinha de Jesus, de mulher submissa à transgressora e agente de transformação no jogo amoroso”. 

Com as citações acima percebemos que há diferentes focos num mesmo assunto, entretanto, e em paralelo com as nossas aulas dos saberes sistêmicos, compreendemos que realmente os temas existenciais  nos chegam através de  patologias, sonhos,  ou mesmo através da  história de uma personagem que encontramos pela primeira vez na letra de um enredo, ou mesmo, numa canção.

Todavia, como bem ressalta a nossa Mestra Olinda, “não existe brincadeira sem um fundo de verdade. E não existe conto de fadas (de heróis, heroínas...) que não revele a história de um Sistema”.

Para mim, pessoalmente, olhar para as diferentes interpretações  em torno da canção Teresinha de Jesus é uma oportunidade singular de ver e reconhecer diversas situações dentro do meu próprio Sistema, sobretudo, quando se refere à submissão das mulheres e o estereótipo dos homens,  sentido e cenário, socialmente construído.

Quanto à dinâmica sistêmica acerca da  protagonista da canção mencionada e diante de várias explicações, creio que há muitos direcionamentos possíveis.

Entretanto, em uma perspectiva, vemos que a partir da letra aparentemente inocente, diferentes interpretações podem ser formuladas.

Na canção aparece a figura masculina do pai, o primeiro "proprietário" da mulher, no qual, ela deve devotar respeito e obediência incondicional. A segunda figura masculina é a do irmão, que de certa forma funciona como extensão da figura paterna. E por último, a figura masculina do  "Príncipe Encantado", ou seja, do homem perfeito  a quem  a mulher espera encontrar, (o homem com seu cavalo branco, e de chapéu na mão, que a resgatará).

Ou seja, nessa interpretação a cantiga fala sobre o casamento como destino natural na vida da mulher do século XIX que é marcado pelo patriarcalismo, onde se estabelece uma hierarquia de obediência: pai, irmão mais velho e marido. 

Nesse sentido vejo que essa era uma das dinâmicas vivenciadas pela maioria das mulheres no meu sistema familiar, ou seja, a esperança de encontrar o homem quase perfeito e de boas condições econômicas que pudesse colocá-las num lugar de destaque e ascensão social.

Contudo, permanecia e  insistia-se numa forte submissão ao masculino, como se ele fosse superior aos demais, e elas, as donzelas que deviam se portar de forma socialmente correta, sendo cuidada pelo homem que tinha o papel e poder de lhes proteger. 

Desde a minha infância e já naquela época, mesmo sem ninguém dizer-me nada a esse respeito, eu olhava para  essas  informações que a minha percepção conseguia captar,  em torno dos relacionamentos, com certa precaução e opinião de que não existe ser humano superior aos demais. 

Eu via e sentia isso quando eu olhava para a natureza ao meu redor e percebia a harmonia em tudo, então, eu sempre intui que existe um Ser Superior ao próprio homem e mulher, porque, eu sentia o amor, e a falta dele ao mesmo tempo, na minha vida em relação aos meus pais.

Eu percebia as suas falhas e via  muitas das  necessidades básicas da família não serem atendidas adequadamente. E por não possuir ainda maturidade e conhecimento suficiente, eu atribuía aos meus pais a "ruindade", por eu querer ganhar brinquedos ou mesmo roupas e eles não terem condições econômicas suficientes... 

Com o meu sentimento e sensação de estar sozinha e abandonada no mundo eu recorria ao Ser Criador de tudo e contemplando a obra da natureza e a paz que ela me proporcionava, eu buscava alento e resposta para as minhas indagações, enquanto vivia o desenrolar da vida e façanhas da minha família. Completamente diferente, é claro, do contexto social que viveu Teresa de Lisieux.

Numa outra interpretação bastante pertinente até e por considerar a escolha de vida religiosa de Teresa, podemos verificar a seguinte consideração: os três cavaleiros representam as três pessoas da Santíssima Trindade: Deus Pai, Deus Filho ( Jesus) e Deus Espírito Santo, “aquele a quem Teresa deu a mão”. 

Contudo, e olhando mais uma vez para essa história recordamos que Teresa de Lisieux morreu vítima de tuberculose, aos 24 anos de idade, em outubro de 1897.

Conforme a descrição de nossa Mestra Olinda, no livro, “A verdade sobre o sofrimento humano”: “ a tuberculose sinaliza a memória traumática de tristeza, de orfandade, de perda dos pais e de desproteção…” e ainda: “os problemas pulmonares em sua sua dinâmica sistêmica revelam  a tristeza em relação à vida, existência, melancolia, desesperança. A felicidade vem da mãe. Portanto, problemas pulmonares pedem a presença, a recuperação do vínculo positivo de amor com a mãe”. 

Nesse sentido, percebemos na história de Santa Teresinha, através de seus escritos, a grande falta que a presença da mãe lhe fez na vida, e a sua busca incansável por alguém, que de certa forma, cumprisse esse papel. Dentre as suas célebres frases encontramos as seguintes afirmações: “A Igreja é minha Mãe”; “Sou filha da Igreja”; “No coração da Igreja minha Mãe serei o amor”.

Através de sua vocação e acolhida no Carmelo, aos 15 anos de idade, Teresa lutou para (res)significar a orfandade experimentada em sua trajetória no curto tempo de sua vida. No entanto, não deixou de sofrer.

Ao olhar para a história de Santa Teresinha, vejo nessa grande Mulher um amor imensurável e uma grande saudade da mãe, do pai, das suas irmãs e irmãos. Sentimento esse que ela, através de sua vivência vocacional, foi ressignificando e construindo na sua missão diária de oração, trabalho e sacrifícios,  afim de suprir todo o sofrimento vivido. 

Então, escondidinhos no coração de Teresa estavam o amor e a dor, e ela, em seu tempo, foi experienciando e consumindo-se até entregar-se completamente ao amor maior de sua vida e “Rei de sua Alma”, Jesus, a quem,  durante o seu noviciado ela o identificava como o “noivo”,  após a emissão dos votos religiosos, ela, a “esposa do Rei".

Longe de mim, a  pretensão de comparar a história de Santa Teresinha com a minha história, no entanto,  com o amor e  a admiração que reservo pela história da nossa querida Santa, e pelos estudos sistêmicos, vejo e sinto o amor que eu também nutri pelos meus pais e irmãos.

Contudo, eu também experimentei o sentimento e memória  de orfandade devido os emaranhamentos e traumas sofridos. Muitas vezes, eu também me fortaleci e me agarrei no amor e cuidado do meu pai. A minha mãe devido aos seus sofrimentos e dificuldades, embora vivêssemos juntas, ela mantinha-se a uma certa "distância"  devido ao aparente disfuncionamento.

Com isso, eu também vivenciei a angústia e a ansiedade, devido o vínculo de amor interrompido: saudade da mãe -  “mãe cadê você”. E a falta do pai -  “pai, cadê você”. 

Portanto, os temas existenciais estão recheados de  inúmeras informações, oportunidades e  lições que precisamos descobrir, estudar e aprofundar para (res)significar a nossa própria história.

“Ah! Agora eu sei”:  com certeza, os “conto de fadas, as histórias infantis”, e por que não (?), a cantiga de ninar que chegaram aos nossos ouvidos? Não foram por acaso. Vieram até nós para revelar-nos a nossa própria história, desejos e questões inconscientes mais profundas.  Possivelmente, também, o nosso propósito de vida.

Gratidão Mestra Olinda por esse módulo maravilhoso!

 

Fonte: 

https://megaarquivo.wordpress.com - acesso dia 01/04/22 (18: 25).

https://siteantigo.portaleducacao.com.br - acesso dia 01/04/22 (18:45).

https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/dclv/article/view/7481 - acesso dia 01/04/22 (19:00).

#mod06

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