Será um esforço enorme pra mim escrever sobre isso! Relembrar essa história, como tudo aconteceu, é sempre delicado pra mim. Eu cresci numa família "padrão anos 80", vamos dizer assim. Sou o segundo de três filhos, onde os pais foram aprendendo na prática como lidar com tudo.
Meus pais tiveram pouca instrução acadêmica e a regra da família era lutar pela sobrevivência, quem não queria estudar aprenderia com a própria vida a péssima escolha que fez.
Foi assim que crescemos.
Nossa família era perfeita, tínhamos pouco, mas o suficiente para viver dignamente.
Eu acordava para ir para a escola e minha mãe estava sempre preparando tudo para que o dia de todos fosse o mais fácil possível. Meu irmão, por mais que fosse apenas três anos e meio mais velho que eu, mesmo na minha memória mais antiga, sempre lembro dele já trabalhando.
E assim nossa família foi vivendo, até que por volta dos meus 13 ou 14 anos talvez, eu percebi que não era tudo tão perfeito assim. Meus pais casaram quando minha mãe tinha 16 anos e meu pai 20, por que minha mãe engravidou. Eram outros tempos. Três anos e meio depois veio a gravidez não programada do segundo filho, e seis anos depois o terceiro, a primeira menina.
Meus pais tinham uma boa relação, com algumas brigas e discussões, mas não tenho nenhuma memória traumatizante a respeito disso. Sei que minha mãe não era de fato realizada com a vida que tinha, mas abdicou de tudo e de todos os desejos pelo sustento e sobrevivência dos filhos.
Ela é a mulher mais forte e incrível que já conheci.
Mesmo não vivendo um casamento feliz, ela nunca deixou de tratar meu pai e a nós com todo o amor e carinho que possuía.
Meu pai era um homem muito bom, o coração mais doce, e longe de qualquer sentimento mal que já vi. Um coração que provavelmente tinha além da sua doçura muitos traumas, e agora tentando falar sobre ele mais uma vez percebo que éramos talvez estranhos no que se trata de conhecer a vida um do outro.
Um homem sempre muito reservado, que faleceu aos 49 anos e eu com 23 naquele momento, um jovem tão imaturo que nunca pensou em sentar e conversar com ele sobre o que sentia ou pensava.
Era bastante ausente devido ao seu hábito de beber, mas nunca foi um mal pai. Um guerreiro que nunca parava de trabalhar, sempre lutando pelo bem de todos, nunca pensando em si mesmo.
Aprendo até hoje lembrando de como ele era bom e honesto com tudo e todos.
Hoje quando ouço a expressão amor de graça em nossas aulas, ele é sempre o melhor exemplo que já tive a respeito disso.
A relação dos meus pais conosco sempre foi muito tranquila, minha mãe sempre foi a mais comunicativa, então era por ela que recebíamos as orientações para a vida. Graças a Deus ainda tenho ela e sei o quanto posso aprender com sua experiência. Não vejo a hora de voltar pra casa, abraçá-la e fazer milhões de perguntas como eu fazia quando era criança.
Sou imensamente grato por tudo que eles fizeram, por toda luta que enfrentaram, e mesmo com toda dor que sentiram, e nem mesmo entenderam o por que de tudo, ainda assim lutaram até o fim, e minha mãe luta até hoje para tornar nossas vidas sempre melhores e cheias de amor.
Diante tudo isso hoje, eu tento carregar a doçura e tranquilidade do meu pai, junto com a força e sabedoria da minha mãe, e me tornar o homem mais incrível que eu puder, para meu filho um dia sentir orgulho do pai que tem, e para a mulher que Deus me presenteou e me trouxe até aqui.
Uma mulher que eu não tenho palavras para expressar a gratidão por ser escolhido por ela todos os dias.