Módulo V – Constelações Educacionais e Organizacionais.
Nasci na roça em meados de 1968, no município do interior do Paraná. Como era comum na época, assim como meus irmãos mais velhos, aprendi a fazer tudo o que era necessário para ajudar a família, já que a lida no campo era muito grande.
Dentre tantas coisas aprendidas, ajudava na limpeza da casa, no preparo do almoço e do pão de trigo. Recolhia os ovos do galinheiro, cortava lenha e catava gravetos. Ajudava na ordenha e trato das vacas. Levava lanche e água fresca para os familiares mais velhos que estavam capinando, roçando ou colhendo.
Nas horas de folga em minhas brincadeiras, além de explorar a natureza farta subindo em árvores e nadando no rio, brincava de casinha, de professora e de “mercadinho”.
Aos 14 anos, após terminar a oitava série do ginásio como era chamado naquela época o atual ensino fundamental, meus pais decidiram mudar para a capital do estado para tentar uma vida melhor e dar melhores condições de estudos aos filhos.
Naquela época era comum que as mulheres fizessem magistério e os homens contabilidade ou comércio. Desta forma, fui matriculada no magistério e ali começou a paixão pelo ensinar.
No período contrário da escola, minha irmã e eu fazíamos cestinhas de sabonete com fitinhas de cetim e saíamos para vender de porta em porta no bairro onde morávamos.
Quando estava no último ano do magistério em 1985, tive meu primeiro trabalho diário: atendente de crianças em ônibus escolar. No ano seguinte, enquanto me preparava para o vestibular, iniciei meu trabalho como balconista em uma grande loja de roupas e calçados no bairro aonde morávamos.
Sou muito grata pelos quase três anos que passei lá, pois fiz amigos. Comprei o que precisava e queria para mim e meus familiares os presenteando com alegria.
Passei na UFPR e meu curso nos dois primeiros anos seria o dia todo. Assim, saí da loja aonde trabalhava e me dediquei aos estudos. Logo me tornei professora e meu sonho de criança começou a se realizar.
O primeiro registro nessa profissão foi em 1990 e de lá pra cá não parei mais. Mas a vontade de continuar vendendo não saiu de dentro de mim. Desta forma, paralelamente ao magistério, sempre vendi roupas, produtos de beleza e artesanatos.
Olhando para meus ancestrais percebo que minha profissão já estava no meu sistema familiar, tanto de professor, como de vendedor.
Meu avô materno foi ferreiro e assim exerceu a profissão de professor, pois ensinava jovens e pessoas interessadas em ser aprendiz de ferreiro.
Além disso, em sua propriedade rural no interior do Rio Grande do Sul fazia e comercializava farinha de mandioca e erva-mate. Vendia leite, ovos e “schimia”. Vovô também foi munheiro aonde trabalhava com o comércio em moagem de grãos.
Para seus filhos homens, quando chegavam na idade de ter seu próprio sustento, vovô comprava terras onde havia queda d ‘água.Construía moinhos e dava aos filhos por ordem de idade para que assim iniciassem suas vidas financeiras seguindo seus passos.
Meu avô paterno, por sua vez, por um período foi pedreiro e depois também foi munheiro aonde comercializava a moagem de grãos. Vovó também vendia galinhas e ovos.
Quando meus pais viviam na roça, igualmente comercializavam os produtos lá produzidos, o que contribuía para o sustento da família.
Sou abençoada na profissão que escolhi e muito grata ao perceber as semelhanças com as profissões dos meus ancestrais. Isso me traz acolhimento e pertencimento. Considero-me uma pessoa feliz. Apesar de todas as dificuldades que passamos, meus pais estiveram e continuam presentes na minha vida e na dos meus irmãos.
Amo minha profissão e nos mais de trinta anos de trabalho foram poucas as vezes que fiquei afastada por estar doente.
Tive sim alguns episódios de pneumonia, mas agora, ao conhecer mais sobre as dinâmicas sistêmicas dos sintomas, sei que elas vieram para que eu olhasse para as tristezas da minha ancestralidade e visse as muitas crianças órfãs. As mães que choraram a partida de seu pequenos. Os maridos que perderam precocemente suas esposas ou as mulheres que perderam precocemente seus maridos e se viram numa situação difícil para criar os filhos. Agora eu sei!
Sempre busquei aproveitar meu tempo da melhor forma possível, lendo, estudando, aprendendo. Às vezes os dias se tornam pequenos para o tanto de coisas que tenho vontade de fazer.
Em relação ao dinheiro hoje eu sei que cresci com algumas crenças limitantes tais como: “É mais fácil um camelo passar por um buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”.
Minha infância foi pobre. Muitas vezes ganhávamos roupas usadas e crescemos fazendo economia olhando o preço de tudo.
Agora, estudando sobre as leis sistêmicas, percebo que as memórias de escassez ficaram presentes em mim. Fiz concurso público para ter segurança. Olho o preço quando vou às compras e nem sempre compro o que mais gosto, mas sim o mais barato.
Além disso, convivo com pessoas que dizem: “lave as mãos ao mexer com dinheiro, pois ele é sujo” ou que reclamam o tempo todo de que “tudo está muito caro”, que lamentam e lamuriam constantemente em relação a falta de dinheiro e o preço das coisas.
Portanto, creio que ainda tenho que trabalhar a minha relação com o dinheiro, já que o outro nos dá oportunidade de olharmos para dentro de nós mesmos e fazermos as transformações necessárias. Assim sigo a cada dia fazendo pequenas mudanças e me curando um tantinho mais, pois como diz nossa mestra Olinda Guedes: "cura é jornada."
Com a consciência sistêmica, hoje sei que nasci para ser próspera, saudável e feliz.