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QUERIDO BISAVÓ FRANCISCO

QUERIDO BISAVÓ FRANCISCO
Adriana Bridi
abr. 12 - 3 min de leitura
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Muito prazer.

Eu sou a Adriana Bridi.

Uma de tantas bisnetas que o senhor tem.

Por muito tempo eu não soube como o senhor se chamava, e hoje eu repito seu nome diversas vezes ao dia.

Sem lembrar que o seu nome é Francisco eu e meu marido escolhemos este mesmo nome para nosso primeiro filho, que também é o primeiro neto de nossos pais e nossas mães.

O seu chará é um menininho muito corajoso, que carrega um fardo bastante pesado.

E nós somos gratos por ele estar trabalhando tanto para curar o nosso sistema.

Eu lamento muito que a maior parte das memórias ligadas a você, biso e também ao vô Miro sejam carregadas de tanto sofrimento.

Eu realmente sinto muito por vocês terem que carregar tamanha bagagem e provavelmente sem compaixão, sem auxilio, sem afeto.

Hoje eu ouvi um áudio do tio Valmir, seu neto, falando sobre o senhor.

Ele falou com respeito, diz que lembra de ter lhe feito a barba há quase 60 anos atrás.

Me pareceu honrado em fazer parte, em ser seu descendente apesar de termos guardado tantas memórias de sofrimento e de abandono.

Hoje eu sei que o senhor e o vô Miro não queriam nos fazer mal.

Vocês fizeram o que era possível e percebo, sinto, que houve muito sofrimento.

Sempre me orgulhei da força das mulheres do nosso sistema.

Sempre achei lindo como elas foram batalhadoras e conseguiram superar as dificuldades fazendo o trabalho “sozinhas”.

Mas eu preciso me desculpar por não ter olhado para vocês, por não ter olhado para o sofrimento dos homens de nosso sistema.

Agora entendo que vocês trabalharam tanto, tanto.

Que o vicio era uma fuga, de um mundo tão doloroso, que lhes machucava tanto.

Nós filhos somos melhores.

Papai e tio Valmir são homens íntegros, homens de bom coração, afetuosos, bem sucedidos e proporcionam a nós bisnetos tudo que precisamos.

Eu lamento muito, biso, que o senhor não tenha conseguido usufruir de todo conforto e todo afeto que temos hoje.

Lamento muito.

Eu aceito a vida que veio através do senhor e de todos os meus antepassados e prometo fazer algo grandioso com ela.

Seguir sendo feliz, próspera e saudável.

Irei incluir o senhor em minhas orações.

Sabe, biso, as memórias que o tio Valmir tem do senhor são muito  semelhantes às que eu tenho do vô Miro.

E digo mais, no dia seguinte ao sepultamento do vô Miro eu tive uma crise de choro muito intensa, muito mesmo.

Nós não tínhamos um vínculo próximo, mas até hoje eu lembro perfeitamente daquele choro.

Acho que com meus 11 anos eu sentia que uma parte da nossa história estava partindo para sempre.

Hoje nós podemos proporcionar ao pequeno Francisco um ambiente adequado, com amor, alegria, com muitos recursos para que ele possa ser tratado.

E eu quero pedir biso, sua bênção e a bênção do vô Miro.

Para que vocês abençoem nosso caminho de cura.

Vocês que andaram tanto, por tantos lugares, talvez estivessem procurando o que parece que nós finalmente encontramos.

Há quanto tempo eu te espero, papai. Há quanto tempo nós te esperamos, papai.

Com amor, Adriana!

 

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