Quanto orgulho da nossa história, partindo em 1888 de um navio com a irmã o senhor meu bisavô veio para a terra prometida em busca de uma vida mais farta.
Muitos e muitos sonhos amarrados numa sacola e a esperança por dias melhores e felizes.
Chegando aqui minha querida zia Ermenegilda partiu para os braços do pai e todo sofrimento de muitos dias num navio trouxeram ainda mais dor.
O senhor seguiu adiante, trabalhou, casou-se e construiu uma grande família nono.
Na roça construiu um lar e aos domingos depois da missa sentava-se à mesa posta com toalha xadrez lembrando a sua terra mãe Itália.
Agora eu sei e sou muito grata por tudo.
As tias também partiram cedo e a saudade ficou nos corações, e eu recebi de vocês o amor pela comida Italiana, pelas lindas canções e melodias, pela dança, pelos bordados, pela costura e pelas máquinas de costura antigas, e as tenho no meu lar.
Tia desde os 15 anos sempre alguém da família e amigos me presenteiam com máquinas de costura e as coleciono com muito carinho e gratidão, a pouco tempo a mamãe me contou , que a senhora tia antes de começar o tratamento ia nas casas da vizinhança costurar lindos vestidos com bordados, rendas e laços, e tudo isso fez sentido.
Sabe quando eu tinha 10 anos, na casa da vovó me falaram pela primeira vez o quanto somos parecidas e até uma foto sua eu puder ver , antes não era permitido falar, quanta falta.
Vovó não perdia uma missa domingo e quando eu ia nas férias ela deixava eu molhar suas plantas e o quarto de ferramentas do vovó, ainda estava tudo lá no seu lugar.
E ai vocês se conheceram no primário e foram num passeio de bonde, um neto de imigrante de olhos claros e uma neta de índios e negros, e então eu nasci.
Vovó o seu primeiro marido não pode ficar e eu sei que o amor de vocês era tão grande que não podia caber no peito, foi muita dor deixar seu filho e a sua mãe e seguir seu caminho, lembro dos seus longos cabelos negros e a promessa que não podia cortar os cabelos antes de encontra-los.
Quantas histórias a senhora contava para a gente, quantas lembranças, quando chovia tanajura íamos catar juntas, fogueira no quintal com milho assado no São João, não deixava dormir com o peito descoberto, os chinelos virados nem pensar, vassoura atrás da porta para espantar, pilão para fazer paçoca.
Minhas ancestrais com suas ervas, benzedeiras e curandeiras podendo ouvir a terra e os animais no meio da floresta e mesmo de longe como num sonho, despertam em mim o amor pela natureza e todo conhecimento das tribos, da terra, do ar, da agua e tudo se completa.
Sou mais forte agora com todos vocês por perto, cada conhecimento que chega até mim eu agradeço e compartilho com todos vocês e de gole em gole tomo tudo e me abro para receber cada dia mais as suas bênçãos.
Como num sonho vejo todos vocês e até posso senti-los nos meus cabelos, nas minhas emoções, na sensibilidade e no respirar.
Muita, muita, muita gratidão.