Queridos antepassados, agora eu sei!
Hoje eu entendo que todo sofrimento de vocês ainda reverbera dentro de mim. Agora eu sinto!
Sinto todos os traumas, todas as feridas, todas as lágrimas derramadas e todas as despedidas.
Hoje eu entendo porque é que eu sinto tudo isso.
Eu lembro quando a vovó Dinorá contava sobre o tornado que passou na nossa cidade e levou tudo, forçando-os a começar do zero, literalmente.
Sinto aqui no meu peito a sensação de angústia e de desespero.
Nem a vaquinha sobrou. Como dar leite às crianças?
Contudo, em contrapartida, eu sinto a força e a garra de vocês para reerguer tudo. A coragem de encarar todos os desafios, de lutar dia após dia e de conseguir, finalmente, se reestruturar.
Eu lembro, vovô Adolfo, de quando me acolheu quando o meu papai estava louco.
Lembro do conforto e da segurança que a sua casa tinha.
Recordo da sua tranquilidade em levar a vida e de acreditar num mundo melhor. Obrigada vovô por ter pago a primeira mensalidade da minha faculdade, sendo que nunca o senhor pagou sequer uma para as suas cinco filhas.
Eu honro isso vovô. Eu lembro o quão desesperada eu fiquei quando você faleceu. As coisas ainda não tinham se ajeitado, o papai ainda não tinha melhorado e eu estava insegura.
Mas, hoje eu entendo o motivo.
Precisamos ser fortes. E olha só vovô, hoje tudo melhorou.
Papai e mamãe voltaram, a sua família aceitou e eu estou aqui, formada e feliz.
A vovó aprendeu a seguir, aprendeu a caminhar e aprendeu a viver, mas não foi fácil vovô, acostumar sem a sua presença.
Vovó Dina, querida vovó, eu sinto as suas dores.
Sinto no colo do meu útero todo sacrifício que teve que fazer, todas as dores e todas as mágoas do vovô. Eu as sinto, vovó. E as honrei até aqui.
Mas vovó, eu quero me curar. Eu peço permissão para fazer diferente.
A vida não precisa ser tão penosa mais. Eu posso cuidar de mim.
Eu honro o sagrado feminino de outra forma. Vovó Dina, queria dizer que sinto o tanto que a sua mãe sofreu quando a sua irmã faleceu.
Sinto a culpa e o remorso. Mas não havia nada a ser feito para impedir esse acontecimento.
Podemos nos libertar dessa dor.
Vovô Doa, meu querido vovô.
Eu não te conheci quando estava alcoolizado e se conheci não me recordo, mas eu sei que o senhor passou por muita coisa e não sabia fazer diferente.
Eu sei que o senhor não recebia carinho, portanto, não sabia como oferecer.
Eu sei que o senhor também não sabia que poderia ser um esposo diferente e faz, até hoje, o melhor que pode.
E está tudo bem. Porque agora eu sei. Vovó Luci... ah, vovó.
Tenho tanto para agradecer.
Gratidão por ter cuidado de mim ainda em tenra idade, por ter me acolhido e sido mãe, quando eu precisei.
Eu sei, vovó, que quando o papai estava bêbado e queria matar a gente, a senhora fez o melhor que pode.
Eu sinto a sua dor quando ele foi preso, nas duas vezes.
Mas vovó, foi um mal necessário. Olha como ele mudou! Hoje ele é meu pai, hoje ele sabe ser um bom pai e um bom marido.
Ele se tornou responsável e eu sou grata por isso. Sei, vovó, que você colocou a culpa em mim, pois não tinha consciência para assumir a culpa ou para fazer diferente. E está tudo bem.
Eu te perdoo. Eu também sei que não você não pode obrigar o seu outro filho a nos perdoar e aceitar.
E, está tudo bem. No tempo dele eu sei que as coisas vão se ajeitar e poderemos, todos, nos reunir no natal.
Vovó Luci, quero te agradecer por me apoiar em cada passo e em cada decisão, até quando eu não merecia.
Eu sou grata e reconheço o seu amor.
E, retribuo em troca, para todo o nosso sistema.
Queridos antepassados, eu honro o caminho de vocês.
Honro a nossa ancestralidade alemã e italiana.
Honro as decisões e as escolhas, mas agora peço permissão para fazer diferente, no casamento, na profissão, na relação com o dinheiro, na família e nas minhas condutas.
Eu posso honrar fazendo diferente, se assim eu quiser.
Eu sou grata pela vida e pela oportunidade de estar aqui.
Obrigada por tanto. Eu amo vocês.