Agora sei que vocês estão me acompanhando em cada nova etapa de minha vida. Eu sinto vocês aqui, em mim...
Descobri que meu tataravô, por parte da mãe do meu pai (família Jacob) era libanês e veio fugido da guerra da Síria em um navio com destino ao Brasil, para fazer uma vida de comerciante.
Aqui, ele conheceu minha tataravó, de origem portuguesa (família Bastos), e tiveram muitos filhos. Saber disso, minha avó Terezinha, me deixou muito contente em poder conhecer minhas origens através de sua história. Tivemos tão pouco contato, não é mesmo...confesso que senti falta dessa proximidade quando você era viva e agora, com essa notícia, me vejo mais próxima de você, minha avó Terezinha.
Meu avô, por parte de pai, Valdomiro, lembro-me do senhor ajeitando a casa do meu pai, com seu ofício de pedreiro. Lembro que minhas irmãs colocavam pimenta na sua comida e o senhor nem ligava, mas elas se divertiam muito com isso.
Peço perdão, meu avô, pelas minhas estripulias com a massa de cimento que lambuzei o teto, naquele dia chuvoso. O senhor chegou tão tonto e cansado da bebida que nem reparou a minha traquinagem de criança. Uma pena eu não saber mais informações dos meus bisavós...
Meu querido pai... tenho tantas saudades de ti! Se eu pudesse voltar no tempo com a consciência que eu tenho agora, talvez a nossa vida pudesse ter sido diferente e mais próxima entre você e minha irmãs e irmãos.
Lembro de você ter me alertado para sua morte (que estava próxima), mas eu não estava preparada para escutá-lo. Meu paizinho, eu não queria pensar sobre essa possibilidade de não poder vê-lo mais, ficamos distantes por tanto tempo, mas foi muito proveitoso e amoroso o nosso resgate.
Foi libertador e profundo resgatar o nosso amor de pai e filha em tão pouco tempo. Você me ensinou muita coisa, o que fazer e o que não seguir, e o discernimento só cabe a mim, percorrer o meu próprio caminho.
Eu fui a sua primogênita e tenho orgulho disso.
Eu me senti amada como filha, principalmente quando eu lembro dos momentos em que você chegava em casa e colocava a radiola pra tocar músicas de orquestra sinfônica ou ” Ivanildo e o Sax de Ouro” ou Julio Iglesias e eu pisava nos seus pés e o senhor me tirava pra dançar no meio da sala enquanto minha mãe preparava o café da manhã...ah, que saudades!
Os momentos eram poucos por que o senhor trabalhava em regime de rodízio e eu aguardava ansiosa aquele chocolate que você trazia do restaurante da firma.
Ainda choro quando vejo o bilhete que o senhor deixou em cima dos meus livros ao ir embora pro Paraná e eu não pude lhe dar meu último abraço. Eu nunca mostrei esse bilhete para as minhas irmãs para que elas não ficassem com ciúmes, pois no bilhete estava escrito que o senhor tinha muito orgulho de ter sido meu Pai.
A todos vocês, meu coração é só gratidão, respeito e amor!
Tati Felício.