Uma das constelações me chamou atenção quando a constelada dizia não ser notada, sempre era substituída, excluída, esquecida, essa queixa chegou na relação dela com o pai. O pai havia tido uma decepção muito grande a qual o deixou extremamente depressivo por anos, ficando assim muitas vezes isolado e não dando atenção a ela.
Bem, entendemos assim, um pai ausente mesmo que presente fisicamente não deixa ali a mensagem de pai e autoridade. Ressoou em mim por conta da ausência de meu pai. Meu pai faleceu quando eu tinha nove anos de idade.
A segunda fase da minha infância foi pautada pela insegurança de todas as formas em minha vida, o que acarretou em um comportamento um tanto inseguro, frágil e lógico, reativo.
Embora fosse uma criança bastante criativa, tudo isso foi sendo afetado ao longo dos anos por conta da dor, da ausência, da sensação de não ser protegida. Fui construindo essa colcha de retalhos e por muitos anos esqueci muitas coisas, de como cuidava de mim, de carinho, de bem querer educação.
Acredito que tenha sido inclusive um mecanismo de defesa que minha memória adotou para que não sofresse com as recordações e indagações.
Hoje adulta percebo o quanto sofri quando criança com as datas comemorativas na escola, e também na condição de adulta agora em ambiente seguro, vou reconstruindo essa relação na minha alma, com isso a memória tem voltado, então consigo receber as informações que meus familiares trazem dele e sinto um baita orgulho, não só como homem porque isso já tinha, mas também como pai agora. Vou buscando na minha memória seu afago e as brincadeiras a sua maneira.
Algumas situações ainda contem reticências mas, vou utilizando o tempo como um grande aliado a alma. Com a constelação eu pude incluí-lo, sinto estar fazendo isso aos poucos. Imaginem, são vinte e oito anos sem ele, é um trabalho paulatino e concomitante de resgate da minha criança ferida com todas as dores e poucas memórias, e a relação dele com os meus nove anos de vida com a função pai na minha vida de adulta.
Não poderia deixar de dizer que toda essa ausência resultou em sucessivos relacionamentos abusivos em busca de afeto, atenção, proteção, como também na minha profissão com certas inseguranças, que resultavam em auto sabotagens.
Enfim, peguei carona em em várias constelações que citam a função pai, e sinto ir curando aos poucos.
Começo uma nova história com ele de um ponto de vista adulto reconciliando com a minha criança e a sensação de muita resiliência e compressão. Agora, começo a escrever uma nova relação com essa função pai na minha vida e com toda a memória antes excluída.
A minha carta a ele já comecei mas ainda sem data para terminar.
Já senti diversas vezes no meu coração aquela sensação de um grande orgulho de ser filha desse homem.