Saber Sistêmico - Comunidade da Constelação Familiar Sistêmica
Saber Sistêmico - Comunidade da Constelação Familiar Sistêmica
Você procura por
  • em Publicações
  • em Grupos
  • em Usuários
Constelações SistêmicasVOLTAR

RELACIONAMENTO PAI E MÃE

RELACIONAMENTO PAI E MÃE
Eide Reati do Prado
jun. 5 - 8 min de leitura
000

Meus pais Hermes e Ana casaram-se em 09/09/1967. Meu pai teve apenas uma namorada antes da minha mãe e segunda ela, a moça gostava muito do meu pai, tanto que após casar-se com outro copiou os nomes dados aos meus primeiros irmãos. Já minha mãe não teve nenhum romance antes, a família era rígida e pegar na mão já era sinal de casamento.

Sou a quarta filha de 7 irmãos, então muitas coisas aqui relatadas são as histórias de minha mãe e meus irmãos mais velhos.

Nos dois primeiros anos de casamento meus pais foram felizes e tinham uma vida conjugal boa. Após esse período com a vinda do primeiro filho, meu pai começou a beber e ficar muito agressivo.

Essa agressividade só crescia com o passar do tempo. Apesar de muito trabalhador e ter conquistado sítios e afins passou a gastar com mulheres, bebidas e festas, o dinheiro por muitas vezes ficou escasso na nossa família, minha mãe costurava para ajudar a manter a casa.

Meu pai tinha um resolver em casa e já atirou em direção a minha mãe. Chegava tão transtornado em casa que em uma das vezes quebrou o berço que meu irmão dormia no dente. Tirava meus irmãos da cama para bater.

Minha mãe não tinha coragem de se separar pelos filhos. Depois da terceira filha demoraram mais 7 anos para ter a quarta que sou eu. Meu pai nunca me bateu, uma vez ou outra me colocava de castigo. Mas quase todas as noites bebia, e fazia a família toda ficar em volta da mesa ouvindo-o proferir palavrões, havia muita raiva dentro dele. Fiz xixi na cama até mocinha e agora sei o porquê.

Depois de mim nasceram mais 2 e 1 aborto (visto em uma constelação entre eu o meu irmão que veio depois). Meu irmão mais novo tem esquizofrenia.

O que pude vivenciar na relação dos pais enquanto criança e adolescente era sofrimento, muito sofrimento da minha mãe, e de certa forma do meu pai também, ele carregava algo muito pesado. Minha mãe me mostrava as marcas de batom na camisa do pai. Era bem estranho para mim, tudo aquilo. Por diversas vezes me perguntei por que ela não saia daquilo, mas tudo foi como foi.

Como pai, apesar do medo quando ele bebia, ele foi um bom pai para mim. Me levava ao sítio, me ensinou a nadar, por um longo tempo preparou meu café manhã como um ritual. Eu adorava ir ao sítio com ele e meu irmão. Tivemos muitas aventuras.

Meus pais se separaram quando eu tinha 17 anos. Incrível que eles se separaram de casa, meu pai foi para o sítio e minha mãe ficou na chácara. Até hoje são casados no civil e nenhum dos dois teve outro relacionamento depois da separação. Hoje tenho 40 anos.

Meu pai é o 10º irmão de 11 (uma irmã faleceu com 1 ano com uma febre muito forte e outra aos 16 anos com uma doença venérea, casou muito cedo). Com 6 anos perdeu o pai que era tido como muito ruim. Foi doado para uma família com poses, porém numa visita a minha avó se escondeu e ficou desaparecido até essa família ir embora e ele ficar com a mãe e irmãos, conseguiu. Moravam no interior da Bahia e era tudo muito difícil, todos precisaram trabalhar ainda crianças para o sustento de tantos. Meu pai estudou até a 4ª série e na adolescência os relatos é de trabalho.

Minha mãe é a 7ª filha de 10 (um aborto e um irmão que morreu com 40 dias também sem causa definida). Eram muitos filhos e naquela época era para ajudar no trabalho mesmo. Os homens iam para a roça e as mulheres no trabalho de casa, lavar roupa no rio, fazer a comida para os homens levarem no roça. Na infância minha mãe foi feliz, conta de muitas brincadeiras, fazia encenações na igreja e estudou até a 4ª série. Na adolescência ia a bailes junto com os pais e falou muito do enxoval, algo que as moças da época faziam. O contato com a mãe dela era bom, porém um pouco distante. Minha vó perdeu a mãe dela aos 6 anos.

Há um tempo seria bem desafiador olhar para tudo isso novamente. Hoje apesar de emocionar relembrando algumas passagens, é  leve, pois entendo que é preciso honrar e respeitar a história dos que vieram antes, suas decisões, suas vivências e experiências. 

Analisando um pouco desta trajetória dos meus pais, as fichas caem. Muito do que vivencie era uma forma de preencher vazios da minha alma. Muitas memórias transgeracionais me acompanharam. Namorei alguém que eu não gostava como namorado e por fim ficamos noivos. Isso na ânsia de sair de casa. Dentro deste relacionamento me apaixonei por outra pessoa que tinha o dobro da minha idade, ou seja, buscava um pai, alguém para cuidar de mim. Foi uma paixão não vivida, minha família não aceitou.

Depois vieram outros relacionamentos rasos que não deram certo e por fim casei com alguém 10 anos mais velho. Namoramos por 3 anos. Uma relação doentia, pois ele fazia o que queria e eu aceitava. Agora eu sei o porquê. Eu acabei julgando minha mãe por aceitar e acabei seguindo o padrão. Em 10 meses de casados nos separamos com o apoio da minha família.

Me casei novamente com alguém 10 anos mais velho. Ele era meu professor na faculdade, também era divorciado. Ambos sem filhos. Nos casamos em 2004 e nossa primeira filha nasceu em 2006.Muita coisa se curou neste relacionamento. Primeiro eu era uma criança buscando o pai, depois comecei a sentir muito ciúmes, um ciúme doentio, depois passei a ter raiva do meu esposo por nada. Quantas memórias eu carregava pela minha mãe e por nossas ancestrais. Muitas mulheres traídas, que precisaram engolir sua raiva. E eu querendo ser grande tomando para mim o que não era meu.

Confesso que mesmo sem o conhecimento de hoje nos abrimos o nos curar, eu também representava a ele muito do que precisava ver na família de origem. Depois de conhecermos o sistêmico foi possível trazer a luz muitas coisas e hoje somos casados há 17 anos, 3 filhos (sendo o primeiro um anjinho no céu visto em uma constelação).

Hoje olho a trajetória como um grande aprendizado. Consigo deixar com os meus pais o que é deles. Hoje meu pai não bebe, nem fuma, cuida muito da saúde e vive sozinho, a seu modo. Minha mãe mora com meu irmão que tem esquizofrenia e é muito apegada a todos os filhos.  Antes eu carregava certa culpa pela vidas deles terem sido assim, como já dito ficava pensando o porquê de tudo aquilo. Por que meu pai, por que minha mãe.

Hoje eu entendo, eles são os pais certos para mim e essa família é a família certa para mim. Tomo a vida que me foi dada e procuro fazer o melhor com ela. Minha família constituída está muito mais leve depois que meu esposo e eu nos deparamos com este lindo e curador conhecimento sistêmico.

Participe do grupo Constelações Sistêmicas e receba novidades todas as semanas.


Denunciar publicação
    000

    Indicados para você


    Saber Sistêmico - Comunidade da Constelação Familiar Sistêmica

    Verifique as políticas de Privacidade e Termos de uso

    A Squid é uma empresa LWSA.
    Todos os direitos reservados.