Desde criança, ouvia dizer que Deus castigava quem não se comportava.
Essa fala era na Igreja e também no meio familiar. Vivia-se e crescia-se com medo do diabo e das punições de Deus. Ninguém sabia mostrar algo diferente, embora todo mundo dizia que Deus é bom e pai. E para sentir esse Deus bondoso tinha de fazer por merecer.
Então, a gente, de certa forma, perdia a liberdade e a espontaneidade.
Com 16 anos, fui para o Seminário. Foram 11 anos de formação até ficar padre. O moralismo continuava presente. A leitura e os estudos bíblicos, bem como os livros, me mostravam que Jesus, o filho de Deus, veio ao mundo para nos libertar, ser justo, verdadeiro, feliz, veio para nos dar mais vida e nos ensinar a amar. Sentia que a teoria era uma coisa e a prática era outra.
Exerci o Ministério Sacerdotal por 22 anos. Cuidava e media as palavras publicamente, para não expressar o moralismo que eu havia vivenciado e no qual havia crescido. Eu Expressava que Jesus veio ao mundo para todos, para os pecadores e não simplesmente para os santos, veio para nos libertar da escravidão, para construir um Reino de paz, de amor, de justiça e de vida.
Veio para mostrar o caminho de um mundo melhor.
Atendi e orientei muitas pessoas traumatizadas, magoadas, sofridas por causa de julgamentos, das Leis da Igreja e de padres que simplesmente defendiam essas leis. Padres que não conseguiram interpretar as Leis e o Amor de Jesus.
Jesus disse e nos ensinou que o amor está acima da lei. Por isso, a Comunhão, a Eucaristia faz bem, isto é, deve receber quem está cheio de amor, está em comunhão com Deus, com o próximo e consigo mesmo. A comunhão é para os pecadores que buscam ser melhores a cada dia. Sim, a Lei é necessária e ela não pode escravizar, deve libertar.
E o que liberta é o amor, ele está acima de tudo e de todos.
Não tenho mágoas da Religião, de quem a conduz e nem de quem faz parte. Só lamento pelas portas que se fecham para muitos, sem terem possibilidades e opções diferentes. Mas Deus sempre nos abre as portas, tudo a seu tempo, é só ficar atento.
Eu poderia muito bem continuar como padre, mas os vazios, a carência afetiva, a falta de colo, carinho, atenção, a sobrecarga de atividades pastorais, me fizeram buscar esse afeto no feminino, e como nada acontece por acaso, depois de alguns anos, veio também um filho. E os líderes superiores me propuseram assumir a família e largar o sacerdócio.
Não me foi apresentada outra opção.
Hoje me sinto muito feliz pela família que tenho, por ser terapeuta, continuar ajudando e orientando pessoas e por fazer parte desta comunidade do Saber sistêmico, desta família grande da Olinda Guedes, a qual juntos formamos. Me senti acolhido, à vontade e em casa. Senti o amor acolhedor. Jesus disse: "Amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei. Prova de amor maior não há, que doar a vida pelo irmão".
Aqui me senti acolhido, escolhido e amado!
Gratidão!
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