Esta carta é para aqueles que nunca vi, mas que sei perfeitamente que estão dentro de mim.
Conheço vocês sem nunca tê-los vistos, porque me permiti, a depois de grande, sentar-me diante de minha mãezinha e ouvi-la atentamente, sem nenhuma interrupção.
Afinal, ela também já não tem uma memória tão boa como a de um jovem. E só fiz isso, porque entendi aqui que a história que eles construíram me fazem ser quem sou hoje.
Portanto, desde já, obrigada Olinda Guedes, por me mostrar este universo lindo que é a Constelação Sistêmica. As histórias nem sempre são feitas só de flores, mas os espinhos também nos tornam melhores.
Meu bisavô amado e minha Bisavó amada, quando vocês escolheram buscar uma vida melhor no Brasil, afinal os tempos de guerra não foram fáceis para ninguém, e precisavam de uma nova perspectiva de vida.
Talvez vocês não saberiam o que passariam para chegar na vida confortável que hoje me encontro, nem tão confortável assim, afinal o seu humano nunca se encontra totalmente feliz, vive em busca de coisas o tempo todo. Isso me fez pensar, como um grande estalo, esta minha busca é a mesma que vocês, e me encontro aqui constelando neste momento. Que maravilha!
A vinda no navio foi de tortura, meses e meses em um ambiente dividindo espaço em busca de um mundo novo. Fome, doenças, restrições, falta de um banho demorado e de uma cama confortável.
Mas eu diria, que tudo foi exatamente como deveria ser. Foi neste navio que o senhor, meu bisavô, encontrou a sua amada, minha adorada bisavó Cristina. Seus olhares se encontraram e entenderam que deveriam seguir juntos.
Apesar de jovens, ao aportar no Brasil, seus pais permitiram a união de vocês. Sim, houve um casamento de dois jovens apaixonados no país que os abrigaram com tanto amor.
E assim, seguiram juntos, formando hoje a família que somos, desbravando matas para encontrar um porto seguro, a morada.
É tão lindo, ajudaram a desbravar o município onde nasci, Nova Itália! Sim, e foi o meu questionamento a minha amada mãezinha, que com os seus 87 anos, me explicou sabiamente que mesmo sendo alemães, a cidade se chama Nova Itália, porque a primeira árvore que cortaram no acampamento deram nove talhos para derrubá-la e construir ali a cidade que se encontra hoje.
Verdade ou não, é maravilhoso e sábio, pois ali se abrigaram, dividindo espaço com imigrantes de todos os lugares, principalmente alemães e italianos. Quanto orgulho em cima de tanta abdicação, dor, sofrimento e amor.
Agradeço hoje a cada palavra que posso ouvir ainda sobre vocês, pois, graças a tudo isso, sou quem sou, um pedacinho vivo desta história, que pode fazer tudo cada vez com menos dor e com transformações.
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