Casamento sempre foi coisa séria na nossa família, papai e mamãe ensinaram assim, e os pais deles ensinaram também, e assim os pais dos pais... Viver juntos até o fim da vida.
Meus pais casaram-se cedo, minha mãe com 17 anos e meu pai com 19 anos. Formaram uma família numerosa, 18 filhos, 11 vivos e 7 anjinhos, os quais minha mãe e meu pai não conseguiram embalar.
Sou a segunda mais nova desta família grandiosa, e as histórias que narro aqui foram contadas pelos mais velhos. Quando eu cheguei, muitas dificuldades já tinham sido superadas.
Vida difícil, poucas possibilidades de conforto. Foram guerreiros, deixavam de comer para colocar na boca de seus filhos, dois ovos partidos em 11 pedaços com pirão branco. Nunca foi muito fácil, mas sempre encontraram um meio de resolver tudo.
Mamãe teve um filho a cada ano, ou um ano e meio de diferença no máximo. Trabalho duro na lavoura, plantavam para comer, e poucas vezes sobrava para comercializar.
Papai veio de um sistema onde o homem imperava, tinha algumas liberdades por ser homem. Tinha momentos de diversão com os amigos jogando, enquanto algumas vezes, mamãe paria mais um filho. Os dois trabalharam muito. Saíram da lavoura quando eu tinha dois anos, e vieram em busca de algo melhor na cidade, onde foram trabalhar nas indústrias.
Mamãe veio de uma família com uma estrutura financeira melhor, ela sempre foi a menina amada dos pais, a segunda mais nova. Acredito que para ela não tenha sido fácil, por isso tenho certeza do amor dela pelo meu pai, que já partiu a 18 anos e ela chora a ausência até hoje.
Papai veio de uma família rígida, com menos demonstrações de sentimentos, portanto, não foi muito diferente com seus filhos. A punição era dura, meus irmãos apanharam muito, a educação não era diferente disso.
Porém minha memória é doce, não lembro de muitas correções rígidas. Apesar de eu ter sido muito ativa na infância, meus pais me deixaram brincar muito. Tinha meus deveres, mas tinha muito tempo para gastar minhas energias brincando e pulando com meus irmãos e primos.
Meu pai e minha mãe encontravam meios de alegrar a vida deles e de seus filhos com cantorias em volta do fogão. Meu pai tocava um cavaquinho como ninguém, e minha mãe com uma voz doce encantava a melodia.
Fizeram um par perfeito e necessário um para o outro.
Meu pai, aos poucos foi aprendendo com a doçura e insistência de minha mãe, e minha mãe aprendeu a ser mais firme com o meu pai.
Quanto mais escrevo sobre meus pais, mais eu vejo semelhanças. Hoje escrevendo aqui, me caiu a ficha que trago muitas semelhanças. Eu e minha mãe somos a segunda mais nova, e me casei com a mesma idade dela e meu esposo com a mesma idade de meu pai.
Acredito que muitas coisas que fazemos são os reflexos das histórias que eles viveram, pois tentamos, eu e meu esposo, darmos aos filhos doçura e retidão, porém, desnecessária hoje a rigidez daquela época. Percebi agora que a minha fome de aprendizado vem de minha mãe, que abriu mão de estudar para criar seus filhos e de meu pai, que abdicou dos estudos para trabalhar duro.
Papai e Mamãe, eu tento ser cada dia um pouco melhor, para assim dizer, que possamos ter nossa família, porém, não precisando mais abrir mão dos sonhos. Graças a vocês, eu sou quem sou.
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