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SEGUNDA CARTA AOS MEUS ANTEPASSADOS

SEGUNDA CARTA AOS MEUS ANTEPASSADOS
Maria da Salete Ximenes Cavalcante
out. 17 - 13 min de leitura
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Queridos antepassados, agradeço a oportunidade de hoje estar aqui, aos meus 63 anos, agradecendo o dom de minha vida, porque sem vocês isso não seria possível.

Agradeço também à Escola Real, instrumento que nos possibilita estudar várias ferramentas clínicas e terapêuticas sistêmicas familiares, fazendo-nos compreender os emaranhamentos, dores, tristeza, angústias, exclusões e sofrimentos inexplicáveis em nós, nossa família e todo nosso sistema.

Hoje através do autoconhecimento, e construção de novos conhecimentos de intervenções sistêmicas, através da técnica terapêutica das constelações sistêmicas, e Florais de Bach, é possível  ter um novo olhar sobre os sofrimentos que vivenciei, e passo, a partir de agora, a ter uma compreensão sistêmica e posso promover minha cura, de minha família e do meu sistema.

Tomo consciência, hoje, de todos os emaranhamentos, sofrimentos, escassez, fracasso, doenças, desunião, conflitos, cobiças, acúmulo de bens de forma egoística e injusta, depressões que tomam conta de nossos familiares, sem obter cura, e de doenças psicológicas e mentais, síndromes do espectro autista, bipolaridade, hiperatividade, além de doenças da coluna, deixando familiares em cadeiras de roda, cirurgias as mais diversas em vários familiares.  

A partir de agora, não lutarei mais, e nem resistirei, porque agora eu sei. Amados antepassados, eu vejo vocês e os acolho, já não existe guerra, vocês foram acolhidos em uma nova pátria e por seus cidadãos.

Compreendo os sofrimentos de todos vocês, amados antepassados, vejo os desafios que vivenciaram ao deixarem suas pátrias, em navios em situações as mais inóspitas, fugindo de suas pátrias, deixando familiares, perdendo filhos e sendo jogados ao mar, sem oportunidade de sequer viver o luto. 

Desafios por lutar por sua própria vida, sendo escravizados e capturados com formas de crueldade… agora tudo passou, eu os perdoo, e me perdoo também, por essa forma tão rígida como me tratava, sem observar o que meu corpo dizia e pedia, era viciada em trabalho como uma forma de fuga de meus problemas e sintomas.

Gratidão aos meus pais que dentro do possível, além de me darem a vida, contribuíram para o meu crescimento pessoal e profissional. À minha mãe por ser uma pessoa sábia e evoluída no seu tempo, cuidando e me ajudando crescer dentro dos princípios éticos, morais e de formação cristã.  Por procurar vivenciar Deus em cada ato nosso, sendo uma pessoa orante, construindo uma fé viva em Jesus Cristo, e aprendendo a beber água viva para matar a nossa sede e  preencher a nossa alma, sempre colocando a caridade, o amor, a solidariedade, a compreensão, a compaixão, o estudo e o trabalho como bem maior em nossa vida.

Meu pai, mesmo analfabeto, foi um grande homem,  trabalhador e honesto com seus compromissos, um pai com todas as suas limitações e dificuldades de relações comportamentais. Ele achava que o bom pai era aquele que era autoritário sem o exercício da amorosidade, que criança não precisava brincar com colegas e amigos.
 
Para nossa companhia, bastava ir para escola e trabalhar, mesmo com as limitações de uma criança, mas assim demonstrava na prática que o trabalho, o estudo e os valores éticos e morais eram o que uma criança necessitava para ser um bom homem e uma boa mulher. Não entendia que o brincar, às vezes, era tão importante quanto o próprio alimento, tinha uma maneira rude de educar e repreender, causando muitos danos ao nosso emocional e nossa alma de criança, provocando muitas doenças, e, somatizações hoje em nossas vidas.

Mas agora eu sei, eu o vejo papai, eu entendo o senhor e lhe desculpo e perdoo, eu o amo, essa era a forma que o senhor conhecia de educar e cuidar. Com sua orfandade de mãe aos dois aninhos, não conheceu o amor de graça de sua mãe, de proteção, de colo, de aconchego, de um alimentar adequado à sua idade, do psicológico, do espiritual, o senhor falava com muito respeito da vovó Damiana embora não conheceu sequer sua face.  Papai velho (avô paterno) descrevia a boa mulher que ela era, falava com muito amor e carinho e, assim, o senhor e nós netos criamos uma imagem interna de amor de sua amada mãe e, de  nossa amada vovó Damiana Martins Ximenes, como uma avó amorosa.

Agradeço ao meu papai velho, avô paterno, Raimundo Ximenes de Paiva, o senhor ajudou-me a nascer e crescer, minha gratidão é eterna, foi o amor de avô que conheci, e foi um amor de graça. 

Quando o senhor vinha da Lagoa Nova, (sua propriedade) todo sábado e domingo, eu já começava na sexta feira a ficar feliz, eram momentos de muita amorosidade, cuidado e até de dengo, dengo. Mas foram somente 10 anos de convivência, porque o senhor, papai velho, viajou para longe para constituir uma nova família de forma inesperada.

Como doeu, a saudade que eu sentia era enorme, só nos vimos por mais duas vezes, pois era muito longe para uma criança ou uma jovem viajar sozinha. O senhor viveu 104 anos de lucidez, tenho certeza que o senhor está em uma das moradas de paz e luz, que Deus lhe concedeu.

Eu vejo o senhor, eu o amo eternamente, eu o perdoo, sinto sua presença todos os dias, o senhor me falava que quando estivesse ausente, que eu olhasse as estrelas e mirasse a Estrela Guia, perto do Cruzeiro do Sul, que o senhor estava lá me orientando, olhando e sorrindo para mim, talvez como uma forma de me preparar para sua partida.

Hoje lhe entendo quando procurou uma outra pessoa, pois sua vida foram anos de muitos desafios com o segundo matrimônio, enfrentou a pobreza, fome, dias de sol  escaldante tocando animais, dormindo ao relento, como tropeiro, assim eram chamadas as pessoas que saiam vendendo animais entre os estados do Piauí, Ceará e Pernambuco, mas que bom que deu tudo certo.  

Sou grata também aos meus avós maternos, não os conheci, vovô Cícero da Cunha Martins, morreu quando minha mãe tinha dois anos, vovó Antônia Gomes Martins, que faleceu quando eu tinha dois anos, mas senti muito suas faltas, do seu carinho que poderíamos ter convivido e vivido.

Minha tia avó Tindú, nome carinhoso como a tratávamos, quem ajudou a me cuidar, falava deles com muito amor e carinho, e sempre dizia que se vivos fossem, seriam muito felizes conosco, netos e netas.

Um caso a pensar e refletir: minha mãe ficou órfã de pai aos 2 anos, meu pai ficou órfão de mãe aos 2 anos, minha avó materna faleceu eu tinha 2 anos, era quem me cuidava, não acredito em coincidência, tem sentido para mim, acredito que essa depressão, tristeza, vazio noites escuras da alma que permeia nossa família, eu filhos  e filhas, e meus irmãos e irmãs, sobrinhos(as), tem a ver com essa orfandade tão presente em nosso sistema familiar.  

Que bom que eu agora sei, eu vejo vocês, eu os acolho e agradeço. Gratidão mestra Olinda, pela sua competência de nos fazer compreender e aprender tantas coisas, e nos ajudar a buscar um processo de cura através da mudança de nosso estilo de vida e de um novo olhar em busca da cura de nossos sintomas.

Sou muito agradecida aos meus tios e padrinhos Antônio Gomes Martins e Erotildes Leite Martins, por me acolherem e me amarem como sobrinha, afilhada e neta. Lembro-me das férias com eles, era uma festa, as viagens a cavalo para suas propriedades e fazenda, das animadas moagens nos engenhos de cana de açúcar e fazenda, do leite mugido no curral, do requeijão quentinho e coalhada fresquinha no café da manhã, do doce de leite, da relva fresquinha após a chuva quando  saíamos para olhar os riachos cheios.
 
Como eu colocava sonhos nesses dias de alegria! Lá eu conheci o brincar, com meus primos e filhas dos funcionários da fazenda, belos tempos, belos dias.

Agradeço também aos meus irmãos e irmãs principalmente meu irmão mais velho, Francisco das Chagas, meu irmão gemelar, já falecido, sempre foi uma pessoa difícil, rebelde com o papai especialmente, apanhou muito até de forma cruel, tentou matar o papai, portanto, saiu de casa muito cedo, ganhou o mundo como dizemos por aqui.

Dos nove irmãos e irmãs, foi o único que não quis estudar, não se transformou nem num analfabeto funcional, e por eu ser a segunda irmã, estudiosa, obediente, uma boa menina como diziam,  fui motivo de muita ira por parte dele, se tornou alcóolatra aos 15 anos.

Vários anos depois, retornou muito doente, contraiu hanseníase, mamãe já havia falecido e coube a mim cuidar dele, os outros irmãos e irmãs ficaram apavorados, papai ficou receoso mas ajudou também financeiramente, com a referida doença.

Por conta de várias medicações se tornou diabético, o corpo ficou em chagas, cegou, ficou paraplégico  por causa de uma cirurgia na coluna, culminando sua morada nesse planeta com um câncer agressivo, falecendo seis meses depois de diagnosticado.

Francisco das Chagas, que o próprio nome remete amor às pessoas, a natureza e animais, mas também muita dor, sofrimentos, humilhações, exclusão, foi um instrumento de Deus em minha vida, porque me ensinou a ter sabedoria, exercitar o amor incondicional, a caridade a compaixão e a solidariedade, a ser mais humana, como o evangelista João diz: o importante é receber de Jesus o Espírito, como um vinho generoso, fazendo-nos romper com as normas que nos aprisionam com a mesquinhez de nossa própria sabedoria.

O novo olhar me sucedeu com relação ao meu irmão, Francisco da Chagas Martins Ximenes, porque quanta vida brotou de um olhar que me comunicou: “eu amo você e acredito em você”. Foi um olhar de amor e vida quando se encontrou com um olhar de tristeza, fez-me lembrar da esperança que presenteia com coragem para um caminho de possibilidades. Um olhar de indiferença e descrença, pode fechar muitas portas e causar novas pequenas mortes.

Mesmo conhecendo minhas limitações, aprendi com Deus sobre as novas possibilidades. Porque, como ser humano, eu também experimento estas limitações e possibilidades, Jesus, a quem seguimos e amamos, lança um olhar de vida sobre a morte e leva as pessoas a uma ressurreição interior. O olhar de amor precede ações e reações de restauração.

Sempre atenta nos passos Jesus, que com sua palavra e ação, que transforma as relações dos homens com Deus e dos homens entre si, e sabedora de que Jesus conhece o homem por dentro, e não quer habitar em edifícios, mas no próprio homem, tem todo sentido para mim quando a mestra Olinda diz, Abraão é por dentro. É muito forte essa afirmação, leva-me a grandes reflexões de minha caminhada terrena e nesses últimos três anos, os desafios têm sido quase insuportáveis, não fosse minha confiança e fé em Deus, já teria sucumbido.

A mestra Olinda em seu livro “Além do Aparente cita que segundo Eckhart Tolle o “Corpo de Dor” é uma reação, consequência de uma emoção experienciada por si mesmo ou por outros integrantes do sistema, seja nesta geração, na infância, por exemplo, ou em outras gerações, e que esse corpo de dor se torna maior que o próprio indivíduo, sendo também constituído de grandes sofrimentos que todos carregam, sejam crianças, homens, mulheres, nações.

Ela fala também no mesmo livro, pag. 103, que um sintoma sempre é uma mensagem, uma memória sistêmica e o corpo comunicando. Nunca um sintoma é uma expressão individual, sempre é uma bênção, uma oportunidade de completar-se, de cura de algo sistêmico para o qual esse indivíduo está a serviço. Um sintoma sempre pede a condição de humildade, porque para que ocorra a cura, necessário se faz, tornar-se pequeno diante de tudo que é, deixar-se conduzir até aquilo que é. Que nunca curamos o sistema para o indivíduo, mas podemos curar o sistema por meio do indivíduo, essa é a ordem.

O que cura sempre é um movimento na direção do incluir, equilibrar o dar e o receber, ordenar. Quando compreendermos que curar-se é uma jornada de inclusão e reconciliação, compreendemos também, que a ordem deve sempre ser honrada, porque um ser saudável é sempre um ser pertencente. Eu precisava fazer essa reflexão para que eu compreendesse quantas doenças, sintomas em um corpo só como o meu e de meus irmãos e irmãs.

https://i.pinimg.com/564x/1a/18/f7/1a18f76e94a46819cb5dedf47a456993.jpg    Um grande abraço carinhoso na alma e no coração, com o perfume das flores a todos os nossos antepassados!

 

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