Ao ler no livro A verdade sobre o sofrimento humano, da nossa mestra Olinda Guedes, que o sintoma é um mensageiro, um aliado; no primeiro momento, choca.
Corremos os olhos para a imensa lista de sintomas e desejamos parar de ler, até mesmo porque a origem desses sintomas traz à tona mais dor.
Nossa mente cartesiana, jamais admitiria querer adoecer, viver doente, ser portador de uma doença grave ou incurável, como algo bom.
O mundo nos chama de loucos, somos submetidos a só querer a famosa Lei de Gerson: levar vantagem em tudo.
Mas então vem os saberes sistêmicos como uma patrola, como dizemos aqui no Sul; repuxando, arrastando, mostrando e depois nivelando tudo que está no aparente, para aquelas almas que já estão despertas ou incomodadas com tanta dor e sofrimento, poder ver além do aparente.
Nossa mestra continua e na sua obra Além do Aparente, vem demonstrar que: “um sintoma é um caminho e que a cura é uma jornada...e que a cura não tem receita, e o sinal para tornar completo é a dor. A dor é a ponte entre a cura e o sintoma e para a cura é preciso o movimento em direção do incluir, equilibrar o dar e o receber, ordenar...”
Estudando o módulo, fui revisitando a minha história, a história de meus pais, de meus ancestrais e cheguei no imbróglio: como realizar os movimentos sistêmicos para curar um sistema onde há todo tipo de dor e sintoma, desde o leve ao incurável, dando um lugar no coração, com amor, sem julgar, sem culpar, sem me envergonhar, sem me condenar junto com eles?
Como compreender que:
- Minha filha nasceu e aos seus tenro 1 ano e 8 meses foi diagnosticada no espectro Autista, TOD, TDHA, Transtorno de Desenvolvimento de Linguagem;
- Meu sobrinho nasceu e aos 2 anos foi diagnosticado com TDHA;
- Meu enteado nasceu e foi diagnosticado com Talassemia, sofria de inúmeras otites e gripes e resfriados, e também foi diagnosticado com hiperatividade;
- Eu nasci, sobrevivi a um aborto, sobrevivi a inúmeros abusos sexuais, vivi a vida toda com asma, bronquite, rinite, sinusite, obesidade, nódulos no útero e ovários, realizei inúmeras cirurgias e hoje trato de câncer de tireoide, hérnia de disco, anemias constantes, fibromialgia, entre outros tantos sintomas físicos, emocionais e desequilíbrios entre a profissão e a parte financeira;
- Meu irmão, o terceiro, nasceu saudável, porém viveu e vive a vida toda com asma e bronquite, duas separações, entre tantos outros sintomas físicos, emocionais e desequilíbrios entre a profissão e a parte financeira;
- Meu irmão, o segundo, nasceu um pouco quieto, tomou medicação controlada até os 5 anos, nunca gostou de estudar, viveu a vida toda retraído, durante sua adolescência apresentou comportamento abusador, violentou a irmã, e no início da vida adulta cometeu um homicídio... aqui é preciso respirar e chorar um pouco para continuar a escrever;
- Minha irmã, a primogênita, nasceu prematura, ficou surda pouco tempo depois, não desenvolveu a fala, aos 17 anos foi diagnosticada com epilepsia e até hoje vive a base de medicamentos para evitar as crises convulsivas;
- Minha mãe, nasceu a terceira filha, sempre foi disposta, trabalhadora, sofreu violência do pai ao ter seus dentes todos arrancados aos 12 anos para evitar gasto com dentista, se casou com um esposo que a traia, subjugava, teve seus filhos com muita dificuldade, tentou abortar a caçula por puro desespero de tanto sofrimento, foi a vida toda desprezada e maltratada pela mãe e irmãos, até hoje sofre com filhos e netos;
- Meu pai foi o primogênito, amou demais os pais, foi deserdado pelo pai em vida, foi o primeiro filho a morrer, inúmeros problemas de saúde por ter tido uma vida desregrada na comida e bebida... 3 AVC´s, 4 infartos, trombose e hemodiálise, até que a “maquina” foi parada. Traiu a esposa, não foi o pai que os filhos gostariam que fosse, sofreu. Teve seus outros dois irmãos já mortos todos por problemas de saúde, todos depressivos, todos sem sucesso na vida... e hoje não resta mais ninguém da família paterna, já que a ultima irmã viva desenvolveu esquizofrenia e rompeu os laços familiares com todos.
Olhando assim, antes dava uma tristeza muito profunda. Foi necessária coragem para compreender o que a mestra trata neste módulo: quem carrega um sintoma não é porque quer, e sim porque o sistema impõe... agora a cura dependente da pessoa, e quantas pessoas estão dispostas a fazer o que é necessário para curar?
Estaria eu disposta a fazer o necessário? Eu me revoltei neste módulo, tanto e tanto.
Pensei em desistir do curso até, era muito sofrimento.
Haja determinação para se deparar com uma história familiar e descobrir que herdado algumas virtudes e também os defeitos do sistema e ver que no nosso sistema não há só flores, há também:
- Abortos;
- Abusos sexuais;
- Assassinatos e chacinas;
- Brigas por herança entre irmãos, parentes, familiares;
- Emigração, expatriação, saudades da pátria amada Itália, Alemanha, Espanha, Áustria, Israel;
- Feminicídios;
- Filhos não nascidos, abandonados;
- Incestos;
- Maldições lançadas como laços de lealdade;
- Missões e vocações abandonadas por medo, ganância, violência;
- Mortes por extrema violência e ganância;
- Roubos e extorsões;
- Entre tantos outros sofrimentos e dissabores que meus ancestrais viveram.
Só me vem à mente “Pai, perdoa, eles não sabem o que fazem...”
Foram necessários inúmeros mergulhos na dor, se enlamear no fundo do meu poço de dor para perceber que só o amor pode lançar cura neste sistema tão sofrido.
Meu sistema, penso que assim como tantos outros urge pela cura.
E para isso é necessário pensar sob o ponto de vista sistêmico, buscar através das constelações e demais intervenções sistêmicas a resolução dessas memórias pessoais e transgeracionais para que uma hora, nesse sistema, haja os equilíbrios entre os princípios sistêmicos: pertencimento, equilíbrio entre o dar e o receber e equiparar os danos causados e a hierarquia da ordem.
“Queridos ancestrais, gratidão, foram tantas lutas até chegar aqui. Mas se não fosse por vocês, a vida não nos seria possível. Agora eu vejo! Agora eu sei! Agora podemos juntos ser felizes.
Levo comigo o que é meu, e deixo convosco o que é de vocês, com muito respeito, reverência e amor. Sinto muito, me perdoe, eu te amo e sou grato!
Peço-vos perdão por todo dano causado, pelas exclusões, incompreensões, desamor. Perdoo-vos também por tudo aquilo que vocês tiveram que fazer e se submeter pela sobrevivência. Peço perdão àqueles que sofreram em vossas mãos, aos sistemas que sofreram com vossas intervenções, sejam elas conscientes ou inconscientes, intencionais ou não!
Agora há um lugar de descanso para todos nós!
Agora há um lugar de amor a todos!
Sinto muito, me perdoe, eu te amo e sou grato! Gratidão”
Agora, compreendo com mais clareza o poder das Constelações Sistêmicas, o significados dos emaranhamentos e tudo que fazemos por lealdade e amor ao nosso sistema.
Convido a você, querido leitor, a mergulhar nessa jornada de cura, que assim como eu você possa ser tocado pelos saberes sistêmicos.
Gratidão a todos!