Meus pais se conheceram em Mogi das Cruzes. Ela, vinda da região Oeste do Estado de São Paulo, cidade de Tupã. Não sei dizer se foi amor à primeira vista porque segundo me contaram, minha mãe tivera uma paixão que não foi aceita pelos meus avós e resolveram mudar de cidade.
Meu pai, Nelson, deve ter tido uma infância feliz e agitada, deve ter sido um garoto peralta e saudável. Nadava no rio Tietê e chegou a ganhar campeonatos.
Minha mãe, Yvone, tinha uma voz melodiosa, cantava na igreja, era Filha de Maria. Mas era brava, corria atrás dos irmãos menores com tamancos. Não queria que sujassem onde havia limpado. Fico só imaginando, porque isso acontecia em casa com meu irmão.
A vida conjugal dos meus pais não era feliz. Minha mãe sentia muito as dificuldades financeiras. Já meu pai trabalhava bastante. Saía ainda pela madrugada e voltava ao anoitecer.
Muitas foram as vezes que ouvia de minha mãe que meu pai não tinha juízo, que era fraco para beber, que não podia conviver próximo de parentes porque ele beberia fora de controle se tivesse companhia. E ele afirmava que ela era ingrata, nunca estava satisfeita, só reclamava.
O olhar deles era triste.
Passei a infância e adolescência tentando conciliar e assumi papéis que não eram meus.
Quando, na velhice, minha mãe não quis que meu pai continuasse ao lado dela. Isso me foi muito doloroso. Eu tinha certeza do amor dele por ela, mas o inverso não me parecia verdadeiro. Sofri muito. Julguei a atitude dela e nem me dei conta que deveria observar a mãe, porém, só tinha olhar para ver a esposa ingrata.
Foram muitos anos em que ele, à distância, se dedicava para não faltar nada para ela, preocupado com suas mínimas necessidades.
Hoje, iniciando o aprendizado de Constelações Sistêmicas com Olinda Guedes, percebo a importância do não julgamento e dos princípios sistêmicos em nossa vida.
Cassia Regina Zaparolli
28/03/2021