Sempre me seduziram as histórias de amores impossíveis, de mulheres frágeis e, via de regra com a autoestima rasa...
Barbara Cartland foi uma autora que li e que muito permeou o meu imaginário de adolescente. Sempre nas suas histórias tinha a donzela desamparada e o cavalheiro salvador.
Sempre proibições, mentiras e aventuras que levavam meu coração a disparar.
Era um deleite para mim, pois era então permitido minha transmutação para qualquer dia à tarde de uma época passada onde não havia tarefas domésticas, cobranças e incertezas futuras.
Talvez o tom que as histórias tomavam na verdade me sequestravam da minha realidade ao ponto de me fazer acreditar, inclusive que haviam mulheres como aquelas das quais eu até pensei que poderia me espelhar, e homens como os descritos que tiravam o fôlego pelo simples olhar. Amores platônicos e realidades atômicas.
De outro lado, tinha eu uma difícil compreensão da realidade que eu vivia. Um pai exigente, uma mãe ausente, avós decadentes, e uma irmã caçula impertinente. Isso que eu via, e isso que eu entendia. Adolescência é realmente uma noite escura para quem vive e para quem convive.
Tive pais muito esforçados, trabalhavam muito para manter uma vida confortável num tempo que a melhor das tecnologias era um telefone fixo e uma máquina de escrever portátil.
Tive avós que abdicaram de si para assumir compromissos de ajuda aos meus pais – que trabalhavam fora o dia todo – nos cuidados meus e da minha irmã.
Tive uma irmã que sempre foi louca por mim e eu nunca achei isso. Em minha concepção ela era um peso que eu tinha que cuidar...
Sofri muito tentando provar para meus pais, vivendo a vítima, e me esforçando para ser a melhor dona de casa, a melhor aluna, a melhor filha, a melhor... Porém sem sucesso.
Meu entendimento era que sempre a caçula saia vitoriosa na disputa que eu criara.
Então, porque não sonhar com o tal príncipe encantado que iria tomar-me pela cintura e dizer que eu era tudo aquilo que ele esperava? Ah, quanta esperança!
Tudo passa. A vida passa. A saudade fica e, hoje suspiro de saudade de quando acreditei em Barbara Cartland.