Queridas avós,
Como me sinto pertencente a este clã! Olho para vocês e me vejo. Na postura diante da vida, na força e na garra de lutar por aquilo que desejamos. No desejo de aprender e de ajudar quem precisa. Na alegria de servir e na "falta de paciência" com aqueles que não se colocam disponíveis.
Também vejo vocês em mim quando uso as minhas mãos para tecer, costurar, bordar e criar. Criar de maneira livre, sem regras ou limites. Sem medo do julgamento ou da avaliação de quem olha, admira, desdenha ou deseja também fazer como faço. Do meu jeito, do nosso jeito.
Não há como negar: sou filha, neta, bisneta de mulheres fortes, destemidas e, muitas vezes, desmedidas, pois nesse afã de viver a vida, na sua intensidade, não foi raro perderem a medida se sentindo auto suficiente e assim, se sobrecarregaram com filhos, trabalho e responsabilidades excessivas. Fizeram sempre o melhor. Eu sei disso.
Concordo com tudo como foi e admiro vocês por isso.
Para mim ficou leve. Demorei muito para perceber e hoje eu vejo que ao lutarem por vocês, pelo seu amor e pelos seus filhos, vocês lutavam por meus pais, por mim e pelos meus filhos.
Tomo hoje essa força, na medida adequada e me reconcilio com tudo aquilo que porventura ainda me fere ou me incomoda.
Sou menina, sou mulher, sou mãe e também esposa. Cabe tudo isso dentro de mim porque vocês me fizeram perceber o quanto somos grandes e o quanto de amor carregamos para, na vida, também entregar com sutileza e equilíbrio.
Sigo na vida dando continuidade à trama que, um dia, vocês também teceram. Aos poucos, vamos desenrolando os fios e assim, vamos criando uma linda peça que não se iguala a nenhuma outra. Somos todas em uma. Somos uma em todas.
Da sua neta,
Gislane.