Bert Hellinger, em seu livro, A Simetria Oculta do Amor, traz um sentido prático de observação para nossos sonhos repetitivos ou ocasionais, e nos faz refletir: nossos sonhos, muitos deles apontam para um problema apenas ou também trazem uma solução?
Para Hellinger, os sonhos, têm uma visão de processo e fenomenologia sem adotar a mitologia para suas interpretações.
Os sonhos são muito adaptáveis ao fluxo de energia na vida da pessoa.
Se nossa energia flui no sentido de evitar decisões e ação efetiva, ou de manter o status, nossos sonhos justificam esta postura.
Se utilizamos diferentes técnicas para não fazer o que tem de ser feito e justificar a omissão, nossos sonhos fazem a mesma coisa. Esses são chamados de sonhos secundários, ligados a sentimentos secundários e, com estes, destinados a negar o que quer que esteja acontecendo.
Uma vez que tudo é "apenas sonho", as pessoas acham que não precisam fazer nada.
Se levarmos esses sonhos a sério, só reforçamos o problema.
Há outra categoria de sonhos que Bert chama de sonhos primários. Eles são lembranças codificadas.
Sonhos com água, por exemplo, muitas vezes veiculam a lembrança do nascimento. Podemos citar o exemplo de uma mulher que sonhou que esquiava com sua filha. Ao descer a encosta, segurou-a entre as pernas, mas uma vez lá embaixo, a menina caiu num lago. Bert perguntou a respeito de seu próprio nascimento. Declarou que viera ao mundo de maneira muito súbita, quando a mãe se achava na banheira. Assim, o sonho parece ser exemplo de lembrança codificada.
Distingo também os sonhos sombrios. Eles mostram um lado nosso que não queremos ver. Usualmente não narramos estes sonhos porque não estamos a altura de encarar o que eles nos contam. Eles podem, de fato, revelar um lado oculto de nossa personalidade.
Há também os sonhos sistêmicos. Nada tem a ver com a experiência pessoal do sonhador, pintando antes uma situação não resolvida na família ou na família ampliada. Trazem à consciência, algo com o qual é importante lidar no sistema familiar. Se o sonhador assume a tarefa de equilibrar o sistema familiar inteiro, as consequências são quase sempre desastrosas. Os sonhos sistêmicos frequentemente apresentam características brutais: falam de suicídio, assassinato e morte. A própria sombra do sistema passa a ser muitas vezes visível.
Nesse exemplo um homem sonhou certa vez que encontrou, no porão, um corpo esquartejado. Chamaram a polícia. Queria esmiuçar o sonho, falar de seus impulsos homicidas inconscientes e por aí além, mas eu o interrompi. Perguntou Bert quem, na família, fora assassinado. Ele respondeu que não sabia e telefonou para o pai. Este declarou: "Não posso falar sobre isso por telefone." O que o pai finalmente lhe contou foi que, pouco depois de ele nascer , a mãe engravidara novamente e tivera complicações.
O hospital não dispunha de recursos necessários e o feto teve de ser morto e removido do ventre materno aos pedaços. Embora o homem não soubesse do irmão sacrificado antes de ter tido o sonho, já reservara a ele, inconscientemente, um lugar em sua vida.
Como consequência disso, sempre tivera tudo em dobro: dois apartamentos, dois escritórios, duas escrivaninhas, e tudo dobrado pois essa era a situação real.
A reverberação dos sonhos pode ser explicada por formas sistêmicas ou não.
Muitas vezes, na forma sistêmica, eles trazem memórias transgeracionais que são acessadas pelo nosso campo e podemos vivenciar situações difíceis e prazerosas que nossos antepassados enfrentaram através de sonhos ou pesadelos.
Também existem outras formas de interpretar o significado dos sonhos, além da forma sistêmica, que podem estar atreladas a situações do cotidiano, como o estresse, as preocupações e tomadas de decisões.
Nesse caso, os sonhos não são repetitivos e não trazem referências de memórias coletivas do passado.