A proposta dessa aula bônus da professora Olinda Guedes, neste primeiro dia de maio, é refletir sobre trabalho e profissão, uma vez que o trabalho prove a vida e nascemos para ser feliz. Então, a tarefa é colocar a nossa profissão atual no centro e, ao redor, as profissões dos nossos antepassados, buscando a conexão entre elas.
Sou professora, filha de professora, agricultora, “dona de casa”, ou “do lar” como queiramos, neta de “donas de casa”, e também agricultoras. A minha avó paterna também costurava e a avó materna fazia crochê. Meu avô paterno sempre foi agricultor e criou os filhos e netos também como agricultores. Meu pai, mais ousado, foi motorista por um período, mas retornou à atividade agrícola. O avô materno foi agricultor, mas foi também delegado, incentivando os filhos a estudarem (até o 4° ano no máximo) e a exercerem atividades na cidade.
A canção “O Cio da terra” de Milton Nascimento e letra de Chico Buarque traduz poeticamente o sentido e o encanto de todas estas profissões.
“Debulhar o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão.
Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de mel
Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, propícia estação
E fecundar o chão”
A par da poesia, em se tratando da agricultura, no caso de meus antepassados e de tantos que viveram nos anos de 1920 ou um pouco depois, o trabalho era bruto tanto para homens quanto para mulheres e crianças. Até conseguirem “debulhar o trigo” ou “decepar a cana”, tinham que derrubar matas inteiras a machado, praticar a coivara, “amansar a terra”, cavar poço de cem metros de profundidade para terem água boa. Isso é só para ilustrar o quão determinados foram.
Escola, onde quase sempre a palmatória corria à solta, era rara. E para tantos, era muito mais cruel do que o trabalho duro da derrubada, do plantio, da colheita, do emprego de forças físicas para carregar sacas em braços, às vezes desproporcionais ao peso.
O coração dessas pessoas é movido pela mesma “força” invisível e inexplicável que faz a semente germinar, crescer e frutificar. Sonhos sonhados. Vida pedindo passagem. E passando. Entrega, esperança, prazer na “fartura do pão”, na “doçura do mel”.
A par da poesia, a profissão de agricultor é a mãe de todas as outras, porque, a partir dela, é possível a todas se “fartarem de pão” e “se lambuzarem de mel”.
E a professora, onde fica neste contexto?
Assim como a profissão de agricultor, a de professora é a mãe de todas as outras, porque qualquer profissional passou por uma professora, ou professor.
No meu caso, a profissão da professora é a concretização dos sonhos sonhados, a partir daqueles braços pequenos que carregavam grandes sacas de grãos, ou enormes pilhas de lenha, ou baldes com leite ou água.
A profissão da professora é movida pela mesma “força” invisível e inexplicável que faz a semente germinar, crescer e frutificar. Sonhos sonhados. Vida pedindo passagem. E passando. Entrega, esperança e prazer na “fartura do pão” e no “se lambuzar do mel”.
Gratidão! Gratidão! Gratidão!