“...o que reprovamos nos aprisiona, e só o que amamos nos liberta.”
Joan Garriga Bacardí
Trago poucas lembranças.
Memórias perdidas de uma infância simples sem sentimentos de dor, aflição ou tristeza. A vida simplesmente, fluiu.
Meus pais nunca foram de contar muitas histórias. Nossa família sempre viveu o que tinha e era pra ser vivido no momento.
Meus pais, em seu relacionamento amoroso, um foi para o outro o primeiro na adolescência e no matrimônio.
A vida conjugal sempre foi de respeito, parceria e cumplicidade. Juntos lutavam para conquistar seus ideais, superar desafios e melhorar a qualidade de vida da família. Vez ou outra um descompasso, comum em qualquer tipo de relacionamento.
De repente tudo muda. Do dia para noite uma separação conjugal depois de 19 anos de casados e muitos outros de namoro. Foi um impacto para todos que conheciam e para nós.
Durante o desgaste da separação os filhos foram preservados. Não houveram trocas de insultos ou difamação. Houve a dor da decepção pela traição com a família.
Minha mãe nunca deixou que nos afastássemos do meu pai. Sempre alimentou a importância e o carinho dele por nós, apesar da dor que sentia.
Antes de se conhecerem, tiveram uma infância de poucos recursos.
Mamãe conta que meus avós sempre recebiam os parentes que chegavam do interior do estado à casa deles. E como isso, a comida que não era farta, era repartida entre muitos. A casa e as roupas eram sempre muito bem cuidadas. Ela assumia boa parte desses cuidados, assim como, os cuidados com meu tio mais novo, dos cinco filhos dos meus avós maternos.
Não lembro do meu pai falar sobre sua infância.
Recentemente, conversando com minha madrinha, irmã mais nova do meu pai, soube que na família deles os adultos pouco conversavam com as crianças e como isso as histórias da família ficaram esquecidas.
Tudo isso faz muito sentido pra mim... sinto que explica as minhas poucas lembranças, o desejo constante e contínuo de querer encontrar o meu lugar...
Atualmente, a partir dos estudos sobre as constelações sistêmicas, vejo os emaranhados no meu sistema. Acredito que existam muitos segredos... sei, sinto e tenho/temos muita vontade de lutar pela vida, pela humanidade, pelo social, pelo coletivo, para conquistar um espaço, para mostrar ao mundo que mesmo com poucos recursos podemos chegar longe, temos voz e conhecimentos, sabemos fazer e fazemos o melhor que podemos.
#mod3 #paisefilhos #darereceber