Revisitar memórias escolares é uma oportunidade para dar-se conta dos presentes recebidos na vida escolar, de modo formal ou informal. Também é justo reverenciar as pessoas que participaram nesse processo, e em muito contribuíram com alegrias, fazendo a diferença nesse percurso desde a infância à idade adulta.
As seis aulas do módulo 5, provocaram uma retomada de vivências num tempo distante, que ainda reverberam em gratidão por ter recebido tanto de meus mestres, ensinamentos preciosos para meu caminhar na vida.
Sempre frequentei escolas públicas e as lembranças ultrapassam as formalidades de conteúdos e currículos. Aprendi o valor do estudo permanente, a importância do acolhimento, recebi amparo e segurança, vi o entusiasmo e a dedicação com a profissão, além do olhar amoroso dos professores.
Percebo, nesta reflexão, a dimensão preciosa do que recebi nessa trajetória, um tesouro, e agora sei e vejo o porquê permaneci feliz, ensinando por 50 anos. O amor, recebido informalmente e na escola, transbordou pelo tempo afora. Aqui constato que o gosto pela profissão também é cura de si e do outro, em movimento de retorno amoroso.
O exercício sugerido de identificar as profissões dos antepassados foi surpreendente, pois revelou que o sistema familiar é composto por histórias de inúmeros modos informais de ensinar e desejos de aprender. Artesãs e artesãos, costureiras e bordadeiras, músicos e escultores realizavam seus trabalhos em oficinas e ensinavam seus aprendizes.
A bisa materna foi professora tutora em famílias abastadas. Vovó Elisa tinha mãos de fada e até ensinou caligrafia.
Logo que completei minha alfabetização, papai delegou-me a tarefa de todas as tardes ler o jornal para ele, usando o argumento que não poderia segurar o jornal e, ao mesmo tempo, trabalhar com as mãos. Assim, me tornei leitora, secretária e ajudante de compras e meu pai, alfaiate, sempre teve vários aprendizes da profissão.
Meu avô paterno foi o primeiro professor da sua localidade, muito respeitado e as narrativas sobre ele são recheadas de traços de sua severidade e retidão, o que é coerente com seu tempo e contexto.
De algum modo, refiz a rota profissional dos meus antepassados.
Com oito anos, vovó me ensinou a fazer crochê, tricô, bordado, confeitos, artesanatos variados, depois aprendi corte e costura. Isso muito rendeu por anos, produzindo e ensinando informalmente.
Aos 18 anos ingressei na carreira de professora, alfabetizando com amor aos pequenos. Segui em processos de formação, exerci a docência em todos os níveis de ensino, nas áreas da pedagogia e da arte.
Aprendi, atuando nas extintas classes especiais e em programas educativos para idosos, a valorizar saberes de vida. Fui gestora de instituições educativas e orientadora pedagógica, experiências que ampliaram ainda mais meus horizontes.
Observando como ocorreram as profissões no nosso sistema familiar, encontrei o fio dos “ensinantes e aprendizes” norteando as atividades ancestrais, tecendo carreiras, melhorando pessoas e a vida.
Pelo menos quatro gerações se unem assim até aqui, e minhas duas filhas também amam ensinar.
Aguardo as habilidades dos meus netos, com interesses ainda iniciais dirigidos ao mundo tecnológico.
Gratidão Saber Sistêmico por me oportunizar esse olhar ampliado no tempo, na minha trajetória profissional e nos presentes de vida!