Há um ano atrás, nunca havia parado para pensar sobre o motivo pelo qual eu sentia tanto medo.
Acho que, na realidade, eu não buscava respostas, mas tão somente algo externo que me desse segurança e estabilidade.
Eu queria mesmo era me livrar do medo.
Quando paro para pensar, percebo que sempre tive a ideia ilusória de que alguma coisa externa poderia conferir a segurança que eu tanto buscava.
Então queria casar, fazer faculdade, passar em um concurso, ter filhos e como num passe de mágicas, o medo passaria.
Contudo, a realidade não é bem essa.
Conforme o tempo foi passando, fui conquistando tudo aquilo que a minha mente e o meu ego julgavam como bom e confortável.
No entanto, para a minha surpresa, o medo não passava.
A ansiedade menos ainda.
Foi então que, depois de descobrir as constelações sistêmicas, eu passei a compreender que o medo que eu sentia não tinha coerência com a minha realidade.
Então, o medo vinha a tona e eu percebia que, na verdade, ele estava associado com alguma memória traumática do meu sistema familiar, no qual havia pequena similaridade com os fatos atuais, mas que bastavam para que o meu corpo entendesse como algo real e ameaçador.
Aos poucos constatei que, quando chovia, eu não iria perder o teto da minha casa, tampouco ficaria sem comer no dia seguinte.
E assim as memórias foram sendo reveladas.
Queridos vovôs, agora eu sei.
Eu sinto o medo de vocês quando o furacão levou tudo.
Eu sei que, embora tenham recuperado tudo, o trauma não saiu da vida de vocês.
Agora eu sei que tinham muito medo de não ter o que comer no dia seguinte.
Precisavam economizar cada migalha para ter a garantia de que, no outro dia, não passariam fome.
Ah!! Agora eu sei.
Eu entendo que passaram por muitos sufocos. Tanto medo!
A insegurança, naquela época, era latente.
Entretanto, eu não preciso mais carregá-la comigo.
Eu posso ter dinheiro agora, sem medo de perdê-lo, sem sentir que amanhã eu não terei mais, sem acreditar que o conseguirei de volta.
A fome e a escassez não fazem parte da minha vida agora.
Eu posso fazer diferente!
Olham só, vovôs, eu tenho tanto.
Consegui comprar o carro dos meus sonhos, morar em uma casa segura, posso até comprar aquelas frutas gostosas e caras do mercado que vocês passavam longe.
Eu sei que foi difícil para vocês, que sequer acreditavam que conseguiriam sobreviver, mas vocês conseguiram.
Deram a volta por cima e superaram as dificuldades que vinham surgindo.
Não precisamos ter medo agora.
Eu já sou adulta, posso cuidar de mim.