São Paulo, 13 de Março de 2022
Meus queridos antepassados, eu vejo vocês.
Hoje eu sinto tudo o que vocês me passaram, da melhor maneira que lhes era possível, hoje tomo para mim a força, a vida, o amor, para que também eu possa passar adiante e a nossa vida fluir como deve ser. Vejo também cada um de vocês e a sua importância no nosso sistema familiar e também nessa grande família que é a humanidade, a espiritualidade.
Sinto o quanto é possível me conectar com todos vocês, quando eu sou eu, quando busco me curar, aprender e crescer. Vejo em mim a força, a determinação, o amor, a coragem, a honestidade, o trabalho redivivo no bem.
Ainda reverbera em mim as palavras do meu avô paterno José: "Faça o bem sem olhar a quem". Vejo na minha avó paterna a devoção à família, o cuidado com a casa e com todos. E que, mesmo não tendo convivido com vocês de pertinho, há em mim uma parte que eternamente nos liga, o lado luz, amor, verdade.
Sei que trago em mim a sensibilidade indígena e tenho a impressão que também há o lado africano, o jeito autêntico e natural de ser. E que apesar do trabalho duro e exaustivo de todos vocês, a busca pelo bem maior predominou e agora podemos ficar apenas com os aprendizados e deixar ir as dores, mágoas e ressentimentos.
Uma grandiosa família, de muitos filhos e frutos, que com a sua origem nordestina, de Alagoas, vieram à São Paulo com coragem e com os seus sobrenomes Vieira e Eleutério. Trouxeram na bagagem a força do trabalho, a rigidez e algumas dores, a agressividade e dureza, rispidez na forma de expressar amor. E tudo bem, assim foi.
Traição, suicídio, violências, perturbações, marcaram a todos, só que ainda sim o bem predominou e o amor agora fluí.
Honro e reverencio a todos vocês!
Gratidão!
Ah! E meus avós maternos, meus antepassados maternos pouco sei de vocês. O pouco que sei é o suficiente para seguir a minha vida, porque o que importa não é o saber e sim o sentir e me sinto filha dessa família, que apesar da orfandade, dos abusos, da escassez, de todas as dores pelo qual passaram, vocês venceram.
De origem espanhola e portuguesa, fundaram a cidade estância São Luiz de Paraitinga e a estância climática de Cunha, no estado de São Paulo, por volta de 1769, talvez antes disso, se fixara naquelas terras as famílias Toledo, Oliveira e Carvalho. Construíram riqueza com o trabalho rural e é dai que pode vir a minha ligação com a terra, a minha vontade de dançar, o meu poder de cura e a minha ligação com a espiritualidade.
Das Minas Gerais também vieram os meus antepassados italianos e que nada sei, apenas sinto essa ligação que vem de outro tempo, assim como os espanhóis e os indígenas.
Sei que para vocês a rigidez e a exigência, foram recursos de educação e sobrevivência. Que a falta de confiança no próximo e em si, nasceu da dor nos momentos de abandono, de fome e doenças severas e que valores como trabalho, honestidade e fé, foram aprendidos e são presentes até hoje.
A orfandade bateu no portão para alguns de vocês e para minha mãe, mas também trouxe o acolhimento de outros irmãos que Deus os encaminhou.
Com vocês, meus antepassados maternos, recebo o dom de semear e arar a terra, de plantar e colher o bem, que não importa por onde andas, a verdade e o amor é que importam.
Eu honro e reverencio a todos vocês. Integro agora na minha vida o masculino e feminino, com pertencimento, compensação e ordem, da melhor e mais elevada maneira e para o bem Maior.
Peço-lhes que me abençoem para ser quem nasci para ser. Eu sou eu.
Gratidão. Eu tomo agora para mim tudo o que há de melhor, para, de graça, passar adiante, aos meus filhos e a humanidade, o amor com equilíbrio e harmonia.
Assim é!