Queridos antepassados, em minhas memórias!
Em meu DNA está o registro das dificuldades, do sofrimento, das lutas, da força, da coragem, das vitórias, das conquistas que vocês vivenciaram outrora, para que a vida fluísse e chegasse até mim e hoje eu reconheço todo o seu esforço em fazer o melhor possível, com os recursos que vocês tinham naquele momento, e por isso colho os frutos das semente que por vocês semearam.
Tenho pouca informação sobre a história, mas acredito que foi doloroso saírem de um continente Europeu, atravessarem o oceano em um navio rumo a um outro continente, a América do Sul e chegar a um país chamado Brasil.
Acredito, que houve separação entre membros da família, muita tristeza nesta separação, inseguranças por não saber o que iria ocorrer neste novo desfio, mas também traziam em suas bagagens muitos sonhos para concretizar nesta nova terra e está garra, esta coragem os fez vencedores.
Provavelmente deixaram familiares, amigos, compadres e comadres e devido à distância e as dificuldades da época que nunca mais puderam ver ou até ter algum tipo de comunicação, e esse sofrimento, esta saudade pode estar doendo ainda em vossos corações.
Eu posso ver em tantos problemas cardíacos na família originaria de meu pai, pode ser esta saudade que adoece os corações.
Hoje consigo ver e entender o sofrimento de cada um de vocês. Olho para traz e vejo e reconheço quão importante todos foram vocês, escrever essa carta para vocês que fazem parte do meu sistema, é honroso para mim.
Meu queridos avós paternos:
Avô Eduardo, o senhor foi morar com Deus muito cedo, antes de eu te conhecer; me contaram que teve uma morte subida, achavam que foi um problema no coração enquanto fazia uma viagem de negócio (compra de terra); também me contaram que ingeria muita bebida alcoólica e tornava-se agressivo com a família.
Minha avó Leonarda, lembro da senhora como uma mulher amorosa que fazia crochê divinamente; na minha memória ficou o registro somente em duas situações em que a vi, pois morávamos muito longe, e os recursos eram escassos da época. Me contaram que sofreu violência doméstica, mas amava incondicionalmente os filhos.
Uma família linda.
Até hoje não entendo o por quê de tantos desentendimentos entre meus tios paternos, uma rivalidade, uma competição que me parece sem precedentes, eu não sei, não cabe a mim entender, essa parte deixo com vocês, pois é coisa de gente grande, eu sou pequena, vim depois, isso já não me pertence.
Meus avós maternos:
Meu querido avô materno, avô Romão, lembro-me de tê-lo visto uma única vez, (numa festa de casamento do tio Zeno, caçula, ficamos vários dias na sua casa); homem de poucas palavras, tinha dificuldade auditiva, humilde, trabalhador da roça.
Minha avó Helena, mulher forte determinada, uma guerreira. Uma família formada por uma força motriz muito forte, vencedores, mas trazem um legado de distanciamento entre si que não consigo entender os reais motivos. Mas deixo tudo com vocês o que de vocês, fico somente com a força vital e farei algo bom com isso, e todos serão honrados.
Quanto amor tenho por vocês meus avós paternos e maternos, de vocês quatros duas nações se originaram. Não sei nem como enumerar.
Houveram muitas perdas, uma criança, não sei a idade, adoeceu e faleceu na sequência, na época não haviam recursos suficientes para salvar a criança. Crianças que não puderam nascer, fatos esses que não foram relatados por constrangimento ou por não dar importância, ou por ser um fato que ocorreu há muitos anos.
Hoje olho, vejo e reverencio a cada um, honro meus avôs e todos os demais que não conheci que vieram antes e acolho todas as suas histórias de vida e todos os sofrimentos e dores enfrentados por eles.
Se meus pais, avôs (quatro anos de idade aproximadamente)bisavôs e os demais antepassados, já passaram por tanta dor e sofrimento, imagino quem veio muito antes, os que desbravaram e abriram novos caminhos e possibilidades para que eu pudesse estar aqui, vivendo esse momento para honrá-los, escrevendo e relatando essa carta direcionada a todos vocês.
Ressalto que praticamente não tive convivência com vocês, meus avós, tios e primos.
Morávamos bem afastados.
Meus queridos ancestrais, eu só estou aqui hoje porque vocês vieram primeiro e trilharam o caminho e por isso que hoje sei que tenho a força de cada um de vocês para que eu possa seguir em frente e com a permissão de vocês eu consiga fazer a minha história um pouco diferente de vocês, mas sabendo que a cada conquista minha também será uma conquista de todos os participantes deste sistema familiar.
Gratidão a cada um que veio antes de mim.