Saber Sistêmico - Comunidade da Constelação Familiar Sistêmica
Saber Sistêmico - Comunidade da Constelação Familiar Sistêmica
Você procura por
  • em Publicações
  • em Grupos
  • em Usuários
Constelações SistêmicasVOLTAR

UMA DISSERTAÇÃO DE IDENTIDADE - O PERTENCIMENTO.

UMA DISSERTAÇÃO DE IDENTIDADE - O PERTENCIMENTO.
Elisangela Borsoi Pereira
jul. 9 - 11 min de leitura
000

Estava aqui pensando a minha profissão sistemicamente, pensando sobre a minha missão. E quantas coisas percebi. Muitas mesmo.

Mas me chamou a atenção algo bem especial, uma carência da minha alma.

Como já devo ter mencionado em outra publicação, depois que tive meu segundo aborto espontâneo fiquei muito mal e fui parar em uma clínica para recuperar-me.

Quando voltei para casa, ou seja, para meu ambiente doente, comecei a ficar novamente mal.

Pensei comigo:

- Sempre amei minha profissão e a tive realmente como parte de mim, então, se não poderei ter meus filhos vou dar atenção a quem realmente me completa, me deixa feliz... A minha profissão.

Diga-se de passagem, sou Zootecnista e daquelas bem campeiras. Literalmente faca na cinta. Até já salvei vaca do enforcamento por conta desse hábito de andar devidamente equipada enquanto trabalhava. Um dia conto como o parto da bezerrinha dela foi sistêmico.

Quanto a minha reflexão... Como acredito muito que só o plantar dá o direito a colher, enquanto eu estava na graduação, plantei as sementes necessárias para que, se um dia eu quisesse fazer mestrado, eu tivesse as chaves necessárias para acessa-lo.

Bem, o que eu pensava para um mestrado, caso eu o fizesse, é que tinha que ser algo com muito sentido e valor. Mas valor pessoal e social, afinal, é a sociedade quem sustenta uma academia e esta academia deve servi-la.

O que me veio foi a vontade de resgatar um queijo que minha família materna fazia e, junto com essa receita, encontrei um pedação de mim.

Comecei informando ao meu então marido que eu me candidataria ao mestrado. Podem imaginar um homem machista ouvindo isso?

- Eu não casei pra ter mulher fora de casa.

Bem, realmente o campus ficava há uns 300km, mas eu ia morrer de infelicidade de qualquer jeito. Ia mesmo!

Fiz a seguinte proposta:

- Vou apresentar o projeto à professora que quero como orientadora e se ela topar eu faço a prova. Se eu passar e conseguir uma bolsa eu fico.

A cara dele não foi das melhores mas concordou. Na verdade eu acho que ele achou mesmo que eu não conseguiria.

Resumindo a ópera... Projeto irrecusável não é todo dia que cai de presente no colo de ninguém; meu curriculum pontuou bastante e fui média na prova.

Haviam 7 bolsas disponíveis e lá estava eu, classificada em 7º lugar.

Pode imaginar a emoção?

Só liguei avisando!

Ele ficou tão bravo que não me deixou voltar para casa por um mês (risos aqui).

- Você não quer estudar? Então fique aí!

Ué, fiquei comigo, claro. E bem feliz.

A cadeira era em "Produção e Nutrição Animal" e meu projeto foi com a produção de um queijo chamado "Formaggio Ubriaco" (queijo bêbado).

Quanto resgate de vida!

Fui buscar referências italianas e descobri coisas muito emocionantes. Vou deixar o link da minha dissertação, caso queira conhecer a história deste queijo e um pouco mais da história Italiana - http://tede.unioeste.br/bitstream/tede/1567/1/Elisangela_Pereira_2014.

Mas sistemicamente, além da minha necessidade de viver e de me resgatar, percebi que fui literalmente estudar a vida. A vida dentro do queijo.

Este queijo foi feito com leite cru, ou seja, com leite vivo. Isso produz um queijo vivo e eu fui justamente quantificar vários grupos de micro-organismos que existiam no meu queijo e como eles determinavam seu sabor, junto com as variáveis ambientais.

Amor, identidade, vida, família, pátria mãe em simbiose com a pátria Brasil (que nos adotou e ama tanto), pertencimento, profissão e muito sabor. Tudo em um alimento.

Tenho uma amiga que disse ter ficado surpresa ao passar uns dias na casa de uma amiga italiana, de uma família de produtores de vinhos. Ela disse que, por mais bens que aquela família tinha, eles não tinha geladeira. Os alimentos eram guardados todos frescos no porão.

Carne processada, queijos, geleias, legumes, as mais diversas conservas. Tudo "vivo" no porão.

Se ler minha revisão - na dissertação - vai ver um pouco de quanto alimentos fermentados tem influência direta sobre a longevidade. Sobre a vida.

Profissionalmente chamamos de Microbiologia Zootécnica.

Acredito que não apenas pelo alimento em si, mas o ritual de preparo, a comunhão que tem que haver entre as pessoas, a quantidade de gente que tem que contribuir para processar, por exemplo, um porco inteiro rapidamente.

Alimentos fermentados são muito sistêmicos, também pela simbiose que atua entre o homem e os micro-organismo envolvidos no processo.

Um exemplo incrível dessa simbiose entre homens e micro-organismos é a teoria de que a mitocôndria - uma organela responsável pela respiração celular - seja originalmente um micro-organismo.

A obra de Deus é realmente sistêmica e feita para a vida comunitária, para a cooperação.

Bem, não cabe neste artigo tudo o que eu gostaria de dizer.

Mas gostaria de indicar, a quem tiver ancestralidade Italiana, que leia partes da revisão de literatura da minha dissertação.

Nessa minha pesquisa por este queijo tem tanta história, mas a melhor foi no dia que tirei a foto que ilustra esse artigo.

Fomos à casa onde os pais do meu Nono moravam para falar com a cunhada dele (Elide Lorenzeti Borsoi) - que ainda faz o queijo-, para eu aprender certinho.

Disseram para descermos no porão para vermos os queijos e conversarmos e que o meu tio avô (Alcides Borsoi) estava lá tirando sua sesta.

Ai meu coração!

Eu não o conhecia ainda. Ao entrar, cheguei perto da cama que ele estava, bem no cantinho do porão. Ele estava deitando de costas para mim.

Já havia uns 10 anos que meu Nono havia falecido, mas tudo bem. Não tenho nenhum corpo de dor com isso.

Aí aquele homem acorda, se levanta e vira pra mim, bem a minha frente. Meu Deus, acho que foi uma das maiores emoções da minha vida.

Tive que me segurar muito para não chorar.

Ele era simplesmente igual ao meu Nono. Só aquela vivência já tinha valido minha ida até lá. Não há palavras que descrevam tanta emoção.

Recuperada de tanto, fomos falar de queijos, e eu a tia ficamos "tricotando" um tempão.

Eu acho que a esposa do meu tia Elide se sentiu tão vista e tão valorizada falando comigo, que ela simplesmente mandou buscar pão, sacou um salame, vinho e, inacreditavelmente, mandou despendurar um queijo para que eu pudesse ver e provar.

Queijos maturados por mais de dois anos. Na volta, meu tio - que nos levou lá - não se conformava:

- Ela nunca cortou um queijo para mim.

Querida, foi realmente um dia feliz. Muito feliz.

Imensa gratidão por tanto.

Estávamos em 7 pessoas, naquele porão, sentados àquela grande mesa, comendo queijo, salame, pão e bebendo vinho. Cercados por salames e queijos pendurados, pipas e garrafões de vinho. Aquele cheiro, aquele lugar, aquelas pessoas, aquele assunto.

Quanto completar!

Certa vez tive a oportunidade de ir a Expointer - uma tradicional feira agropecuária do Rio Grande do Sul - de carona com um profissional que tinha que vacinar vários rebanhos à caminho. Ou seja, tive a oportunidade de estar em diferentes propriedades, com diferentes famílias. Eu simplesmente amo fazer isso.

Isso foi antes de eu decidir-me por fazer mestrado.

Em uma daquela propriedades, ainda em SC, havia uns dois ou três núcleos de uma mesma família. Bem, chegou a hora de almoçar então nos convidaram para que os acompanhássemos.

O filho do casal devia ter uns 8 anos e praticava laço em vaquinha parada. Estava todo orgulhoso me mostrando um troféu que havia ganhado num torneio em Vacaria. Bom, se você não conhece o tradicionalismo gaúcho, te digo que Vacaria deve ser uma das cidades mais tradicionalista do RS.

A hora que virei o troféu para ler, a linda esfera de vidro simplesmente rolou e quebrou num ladinho. Naquele momento eu quase consegui me transmutar em vapor e sumir.

Desculpei-me por umas 3 gerações, conversamos mais um pouco e fomos almoçar. Entramos num lugar da casa que dava acesso à uma escada e, por conta do tal troféu, fomos os últimos a descer.

Quando comecei descer aquela enorme escada e olhei para a mesa... Era uma cozinha comunitária num porão. A mesa era enorme e estava cheia de gente. Quando vi aquela imagem, me deu uma certa tontura e foi como se eu ficasse congelada no tempo, mas em outro lugar. Até dei uma parada para me recuperar.

Foi extremamente intenso, com certeza um "déjà vu". Foi muito bom!

Não lembro o que comi, como saí de lá, o que falamos. Nada!

Sei que eu voltei à algum lugar familiar e esse lugar deve ser em Vittorio Vêneto, bem perto dos Alpes Italianos.

Sim, voltarei lá. Minha mãe já foi e disse que sentiu muita vontade de ficar morando um tempo lá.

E que impressionante ter decidido estudar justo o Formaggio Ubriaco. Este é um queijo que quase desapareceu na Itália. E o que me veio quando descobri isso?

É claro que o queijo havia migrado junto com os italianos.

E que coisa linda me aconteceu. Enquanto procurava por referências científicas dele, chegou para mim um artigo que baixei e imprimi de imediato, com medo de perder o arquivo. E depois disso não o encontrei mais no campo digital.

Como bem diz Hellinger, o campo trás o que é necessário e assim como chega, se vai.

Comecei escrever este relato a manhã no dia 07.07.21 e 11:56 fui chamada por uma desconhecida que havia me encontrado em um comentário que eu fiz no Agrotalentos e me chamou por termos o mesmo sobrenome Borsoi.

Apresentou-se como Simone Borsoi e queria saber se eu já fizera o curso do Miguel Cavalcante.

Conversamos sobre gestão e depois descobrimos que nossos biznonos eram irmãos - Ângelo Borsoi era o nono irmão do meu bizo Antônio Borsoi (mesmo nome do meu irmão primogênito não nascido) e já recebi um convite para conhecer a propriedade da família dela, em Ibien.

Ah, o amor! Esse amor que sempre traz de volta...

Vou parar por aqui, porque há tanto ainda, que não cabe em uma única publicação.

É isso! Os sabores da família, os sabores da vida, literalmente.

Qual é o sabor da sua família, da sua vida?

#Reflexões

Participe do grupo Constelações Sistêmicas e receba novidades todas as semanas.


Denunciar publicação
    000

    Indicados para você


    Saber Sistêmico - Comunidade da Constelação Familiar Sistêmica

    Verifique as políticas de Privacidade e Termos de uso

    A Squid é uma empresa LWSA.
    Todos os direitos reservados.