Tenho observado uma característica bastante recorrente sobre trauma familiar, a nossa incapacidade de nos relacionarmos, expressar o que pensamos, o que sentimos. Não só por não sabermos como falar, mas também por não termos coragem e ainda, os acontecimentos acabam por se perderem em nossa memória.
Após um acontecimento traumático desorganizamos nossos pensamentos e sentimentos de tal forma, que as vezes misturamos com outros acontecimentos, ou outros sentimentos. Na maioria das vezes, misturamos com as mágoas e ressentimentos de outros acontecimentos, onde também não nos pronunciamos ou ao menos não de maneira satisfatória e organizada.
E todo esse emaranhado, vai se sobrepondo, resultando em um empilhamento emocional. Onde vários fragmentos de memória, dispersos como imagens, sensações corporais, palavras e emoções são armazenados em nosso inconsciente.
Estes são ativados em determinados momentos de nossa vida, por situações, que relembram a experiência original. É como se nossas emoções voltassem no tempo. Relembramos aspectos do trauma original e o revivemos.
Inconscientemente, podemos nos encontrar reagindo a certas pessoas ou a situações de maneiras antigas e familiares que ecoam do passado.
Isso se chama reconstituição traumática ou compulsão de repetição, segundo Sigmund Freud. Isso é o inconsciente reproduzindo o que não está resolvido, para que possamos resolver.
Nas constelações olhamos para essas repetições, onde membros do sistema familiar se colocam a serviço de todo o sistema e repetem traumas não resolvidos nas gerações anteriores, trazendo à tona o que ficou esquecido, para que possa ser olhado e resolvido. Nesse contexto, a que se denomina noite escura da alma, a repetição já vem acontecendo em várias gerações e é bem comum que se pense em hereditariedade. Se o avô, ou o pai tinha, normal que o filho também tenha. Essa interpretação é bem corriqueira. E vai dando espaço para que se torne crônico.
Portanto, podemos observar que tudo o que é muito difícil de processar não desaparece, permanece armazenado em nossas memórias, até que em determinado momento ressurgem em nossa vida. Assim, continuamos repetindo certos padrões inconscientes, até que os trazemos à luz da consciência e os ressignificamos. “Toda noite escura carrega em si a Luz Divina”. Bert Hellinger.
Desta forma, além dos traumas individuais também carregamos os traumas do nosso sistema familiar, ouso ainda dizer que carregamos também os traumas do inconsciente coletivo.
Acontecimentos traumáticos como abandono, suicídio, mortes precoces, doenças graves, enviam sentimentos de medo e angústia de uma geração para a outra. Através do olhar sistêmico, podemos visualizar as gerações anteriores e entender o mecanismo que está por trás dos padrões de um trauma, um sofrimento ou uma doença que se repetem em um sistema familiar.
Recentemente, em um atendimento, minha cliente conseguiu visualizar que o que estava experienciando em sua vida no momento atual era exatamente o que sua mãe vivenciou. Pode compreender porque agia de tal forma em determinadas situações. Mesmo vendo e sabendo que não precisava reagir daquela forma, não conseguia fazer diferente. Trouxe a consciência que estava sendo fiel e repetindo a história de sua mãe.
Eu por diversas vezes já me vi repetindo os mesmos padrões comportamentais de meus pais. Quando conscientes disso, podemos ressignificar, reorganizar e redirecionar para padrões mais assertivos.
“A verdade vos libertará”. Jesus Cristo.