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UMA HISTÓRIA DE ORFANDADE

UMA HISTÓRIA DE ORFANDADE
tania Monteiro Lopes
abr. 1 - 7 min de leitura
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Parece estranho, mas me sentia órfã de família. Mesmo tendo uma família numerosa. Dez irmãos, papai e mamãe e eu.

Eu sou a 10° filha e depois de mim veio a 11°filha. Somos sete mulheres e 4 homens.

Quando eu nasci, meus irmãos já estavam na idade de trabalhar na roça com papai, e mamãe ficava em casa para cuidar da minha irmã que tinha 5 anos e eu recém-nascida. Então, não passei muito tempo com os outros.

Morávamos numa fazenda que ficava um pouco longe da cidade e não tinha escola por perto. Os irmãos mais velhos, como eram muitos e todos com idade próxima, estudavam na cidade, iam à cavalo ou a pé mesmo. Quando chegou minha vez de ir para a escola eu não tinha companhia para percorrer a longa estrada e chegar a tão sonhada escola. Eu era louca para estudar, e enchia a paciência da minha mamãe para me ensinar ler e escrever.

Quando eu fui para a escola eu estava com 8 anos, já sabia ler e escrever. Nesse tempo fui morar na casa da minha irmã mais velha, porque lá tinha escola bem pertinho da casa dela.

E foi a partir dessa mudança que o sentimento de orfandade começou aparecer.

Morei com minha irmã poucos meses, e ela se mudou para outro estado, e para eu não perder o ano escolar, fui morar na casa da professora  até terminar o ano letivo.  

Eu tinha de 8 para 9 anos e foi uma fase de muita solidão. Me sentia totalmente perdida, ninguém conversava e explicava o que estava acontecendo. Ninguém perguntava se eu sentia falta de mamãe e papai e meus irmãos. Ninguém me convidava para sentar à mesa do jantar, porque eu não era da família.

Eu tinha muitos amigos imaginários, isso me confortava, me tornei uma criança sonhadora, sempre a espera de um milagre, que era voltar para casa.

No ano seguinte, eu fui morar com minha outra irmã. Ela tinha acabado de ter um bebê, e fui ficar com ela para ajudar com o filhinho dela e para continuar estudando. Mais uma vez longe de casa, mas já conseguia ver papai e mamãe com mais frequência, tipo a cada dois meses.

Enquanto isso, os outros irmãos foram encontrando cada um o seu caminho. Uns se casaram, outros foram viver em outro estado à procura de uma vida melhor. E eu, fui me distanciando cada vez mais da minha grande família.

Chegou um tempo que eu já não sabia mais nada deles.

Quando eu conseguia passar as férias escolar com mamãe e papai, era muito esquisito. Porque eu continuava sentindo o mesmo vazio que sentia morando nas outras casas. Era como se eu não pertencesse aquele sistema. E o mais triste e dolorido era que eu percebia a dor e o vazio que minha mamãe sentia naquela casa enorme e vazia. Ela já não tinha mais nenhum filho morando com eles.

Querida mamãe!

Eu sei o quanto foi difícil para a senhora entregar seus filhos para o mundo. Imagino quantas noites deve ter ficado acordada imaginando o que cada um estaria fazendo, se já tinha se alimentado, se estava com frio ou com alguma outra necessidade. Sei o quanto orou e pediu a benção e proteção a Deus e a Virgem Maria para cada um dos seus.

Sei também da felicidade que sentia quando recebia uma carta, ou sabia que algum filho estava voltando para casa, mesmo que por alguns dias. A senhora mandava soltar fogos para festejar sempre que recebia a visita de algum filho que estava longe.

Sei disso porque me contaram, porque eu estava longe, não tive a oportunidade de festejar junto a vocês.

Depois de tanto tempo vivendo longe da minha família de origem, fui esquecendo dos seus semblantes, e as poucas memórias que eu tinha foram se apagando e fui me perdendo de mim mesma, já não sabia mais quem eu era, e fiz questão de bloquear a minha história, porque eu não queria reviver as noites escuras da alma. Eu tinha a esperança de que um dia tudo seria diferente.

Chegou o dia em que reencontrei meus irmãos, fui morar bem pertinho deles, mas continuei longe de papai e mamãe, era essa minha maior dor.

Nesse tempo tive a oportunidade de conhecer um pouquinho da vida de cada um, e sempre pedia para eles me contarem as histórias de família.

Eu carregava muita dor, tristeza, rejeição, abandono, e esse sentimento de orfandade, um vazio tão grande que pensava que nunca seria preenchido, nada era suficiente.

Quando me tornei mãe do meu primeiro filho, eu achava que aquele vazio seria preenchido, mas não. Eu sabia cuidar dele, amamentar, dar banho, dar muitos beijinhos e carinho.

Meu filho foi crescendo e fui percebendo que eu também queria ser cuidada, que quando eu ficava com um simples resfriado, tivesse alguém para preparar um chá ou uma comida gostosa. Eu chorava de desespero quando meu filho ficava doente, eu não tinha condição emocional para enfrentar uma situação assim.

Eu ainda estava à espera de colo, de cuidados, de sentar à mesa e me deliciar de uma refeição que não fosse preparada por mim mesma.

Seis anos depois do meu primeiro filho, fui surpreendida com uma gestação gemelar. E foi aí que levei um chacoalhão, um acorda menina! Um grito que dizia, você vai se curar. Seus filhos precisam de uma mãe inteira. E comecei buscar ajuda.

Voltei estudar, porque queria elaborar toda aquela dor que sentia. Aos poucos busquei o amor de papai e mamãe, que hoje eu sei, eles nunca deixaram de me amar, mas eu não pensava assim.

Com o tempo, fui me sentindo preenchida e cheia de vida.

O amor retornou, e passou a ocupar aquele espaço vazio.

Meus dias ficaram mais felizes. E passei a pertencer novamente. Encontrei o meu lugar.

E hoje eu sei muito mais sobre meus irmãos, papai e mamãe. Eu amo essa família, honro e reverencio cada um dos que vieram antes de mim.

Hoje me sinto completa, eu tenho uma história de vida, uma história para contar aos meus filhos.

Não sou mais órfã. Tenho um papai, uma mamãe e dez irmãos. Yeeeeeeeeeeeeeh!

Agora estou pronta para ir para a vida!

Gratidão!

 

 

 

 

 

 

 

 

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